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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

25
Jul20

Como Atacar a Próxima Época

O Esférico

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Não é tarde, nem é cedo, para abrirmos o véu sobre a próxima época. Aqui, importa desde logo destacar três perguntas como ponto de partida para os vários cenários que se colocam em cima da mesa. 1 - Há dinheiro? 2 - Há scouting? 3 - Há juventude?

Sobre a primeira, tendo em conta que a comunicação do clube é hoje inexistente, não temos indicações evidentes. Talvez a resposta mais clara venha, indirectamente, pelas mãos de Rúben Amorim, que, ao acelerar a integração de jovens na equipa, estará também a confessar as expectativas limitadas que tem em relação a reforços. Se juntarmos a isso o eclipse das receitas de bilheteira, a queda da publicidade e a impossibilidade de antecipar mais verbas da NOS, percebe-se logo a limitação de recursos. Tão pouco o Sporting poderá compensar este défice com vendas avultadas. Bruno Fernandes — cujo bolo transaccional estará quase reduzido a pó — já foi transferido, Acuña desvalorizou-se para 12M e o próprio Wendel está longe de inspirar loucuras em quem tem dinheiro.

Então, há scouting? Olhando para o rasto de contratações falhadas, para o prenúncio de contratações por falhar, e atendendo a que esse departamento não sofreu qualquer remodelação digna de nota, a resposta é não, não há — na medida em que o scouting é muito mais do que ler jornais e atender telefonemas de empresários.

Não obstante, há juventude. E alguma com inegável qualidade.

Temos então um clube com futuro, sem dinheiro e cujo scouting é anémico. Nestas circunstâncias, como montar uma oposição competitiva a um Porto campeão e a um Benfica de bolsa aberta comandado por Jesus?

A última coisa que a SAD deve fazer é entrar em pânico e reverter para a política de contratações insipiente que fez da temporada actual uma das piores de sempre. A persistente aposta em Hugo Viana tem de ser contraposta com uma coordenação abrangente e flexível com o treinador — o contrário, portanto, de o que se verificou com Keizer.

Estrategicamente, deve adoptar-se uma visão de guerrilha para a época que se avizinha. O que quer isto dizer? Um plantel mais curto e alinhado com a cultura do Sporting, a focalização do discurso de vitória em duas competições (em vez de quatro), a convergência da comunicação do clube com estes objectivos.

Na prática, isto significa manter a aposta em jovens como Matheus, Maximiano, Nuno Mendes, Quaresma, Plata, Jovane e Joelson (este último aproveita a escassez actual de extremos); manter a experiência no plantel (Coates, Acuña, Luís Neto); canalizar reforços para 3 ou 4 contratações de verdadeiro peso; reduzir do plantel; dispensa/venda de todos os excedentários.

A desvalorização de umas competições em detrimento de outras trará sempre algum risco, sobretudo se falharmos no essencial, mas tão ou mais correcto é concluir que, num plantel que geralmente mal chega para as encomendas, a dispersão de esforços tem retirado foco competitivo às competições mais importantes, sem grande proveito prático. A realidade obriga-nos a definir prioridades, estando o campeonato e as competições europeias à cabeça (onde está o ganho).

Entre os dispensáveis coloco Eduardo, Borja, Ilori, Lumor, Rosier, Camacho, Doumbia, Bruno Paulista, Misic, Miguel Luís, Mattheus Oliveira, Francisco Geraldes, Alan Ruiz (!), Battaglia.

Geraldes, porque só é a somar enquanto lhe olhamos para os pés, mas quando olhamos a tudo o resto (ambição, intensidade, eficácia) é sempre a subtrair.

Battaglia, porque tem um dos maiores ordenados, mas o seu rendimento colapsou depois da lesão.

A lista é longa. Porém, entre vendas (algumas) e empréstimos, o Sporting pode gerar aqui uma folga interessante, com vista à obtenção dos seus alvos de mercado. (Admito, é mais fácil dizer do que fazer).

Quanto à política de contratações, o foco deve estar na aquisição de 3/4 mais-valias, jogadores com experiência, créditos firmados, níveis físicos estáveis, e preferencialmente identificados com a cultura do clube — importante para fomentar uma dinâmica de união e compromisso. Jogadores como Adrien ou Slimani, não só são possíveis, como são recomendáveis. Assim como o retorno de Palhinha é para não desperdiçar.

A fazer fé em potenciais saídas e ajustamentos, identifico como prioritários um ponta-de-lança de topo (Sporar é claramente insuficiente), um extremo-direito, um médio-ofensivo (Adrien poderá não encaixar neste desígnio), um central e um lateral-direito.

Insistir na política da compra de refugo em quantidade seria um erro fatal do qual esta direcção não mais recuperaria. Na impossibilidade de atrair determinado alvo, a prioridade deverá sempre ser, em primeiro lugar, olhar para dentro. A título de exemplo, a questão dos centrais. Se o actual sistema for para manter, quatro centrais poderão não chegar. Talvez seja necessário um quinto. Um titular dos sub-23 pode perfeitamente fazer esse papel, sem necessidade de gastar 3 ou 4 milhões num estrangeiro medíocre. Só assim Frederico Varandas conseguirá materializar os pressupostos do seu projecto. É melhor que o faça. Porque no próximo ano poderá não ter as claques e a pandemia para o isentarem de sarilhos maiores.

05
Mar20

Casino de Alvalade

O Esférico

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Desde que um tal de José Mourinho deixou Vilarinho pregado à cadeira para vir a tornar-se um mito ao serviço do Porto, a busca pelo próximo profeta do futebol nacional tem sido a principal demanda pelo Santo Graal em terras de Marcelo I. Desde então, muitos ameaçaram vestir o sagrado manto. Villas-Boas, Domingos, Conceição — sem efeito. E até um certo sr. Azenha tinha "metodologias muito semelhantes" ao profeta sadino, até o Benfica lhe despachar a carreira com um 8-1 e um lacinho. Pelo caminho, fomos todos apanhados na curva por um certo mister de juba folclórica, cujo apelido de mártir Nazareno prometia frugal carreira, mas que veio a revelar-se praga tramada para os adversários: o superlativo Jorge Jesus.

Chegados a 2020, o Sporting também julga ter encontrado o seu Santo Graal. Talvez sentindo os augúrios da lenda em formação — e escaldada pelas fugas anteriores de Mourinho e Villas-Boas —, a SAD decidiu jogar na antecipação. Amorim, O Conquistador, já não será coroado em Benfica e Porto nos próximos tempos. Resta saber se, no Sporting, não passa de Conquistador a Marreta num ápice, engolido pelo anti-ciclone de Alvalade.

Amorim tem 2 meses de treinador no 1º escalão e custa 10M aos cofres do clube. É, portanto, mais uma aposta de risco elevado para Varandas, que tem por hábito falhar nestas jogadas de casino. A lógica mandaria que Silas aguentasse o barco até Maio. Afinal, já não perseguimos qualquer título, e mudar de técnico agora acarreta o risco de estarmos a entregar um cálice envenenado ao novo incumbente. Mas lógica não é propriamente o forte desta gestão. É pesar os pressupostos austeros da época contra este investimento inédito num técnico. E agora liquidou parte da almofada que tinha para o verão e dotou, por tabela, o Braga de um orçamento de leão.

Mas é preciso ressalvar a subjectividade de tudo. Há treinadores que fazem muito com pouco (Bento era um desses), e há treinadores que fazem pouco com muito (Lopetegui, por exemplo). O plantel do Sporting não é tão mau como os números indicam. Com um dedo atencioso, há margem para melhorar. Mas mesmo o técnico mais dotado não pode trazer o paraíso à Terra se não tiver as ferramentas certas — ou se for minado pela mesma estrutura débil que orquestrou o descalabro presente.

Há também um lado mais racional na questão. Arrisca-se porque há a muda admissão de que se bateu no fundo. Joga-se com a aura transcendental que Amorim angariou em pouco tempo para reanimar o sonho. Se, por acaso, nestes 2 meses, o futebol melhora, e os resultados também, isto poderá dar o impulso para a época seguinte que de outro modo não se conseguiria. Com a justiça prestes a desabar sobre o Benfica, e o Porto em processo de bancarrota, este momento pode ser fulcral para dar um golpe de asa e virar as nossas sortes.

Amorim teve um início arrebatador ao serviço do Braga. Tragou Sporting, Benfica e Porto num ápice, escorregou na Liga Europa, mas rapidamente consolidou o 3º lugar. Tanto quanto sei, Amorim pode ser a próxima grande invenção do futebol nacional. Ninguém pode, para já, garantir o contrário. E, se assim for, a exorbitância agora investida parecerá coisa pouca daqui a um ano. O futebol é fértil em impulsos, e convém ter algum recato antes de sabermos os resultados.

Tudo o resto me parece secundário. Nada me interessa a ligação passada de Amorim ao Benfica. Nada me interessam os pruridos éticos invocados (se as regras o permitem, o SCP tem que servir-se delas para agir no que julga ser do seu superior interesse). A mim apenas me interessa que Amorim justifique os lisonjeios que tem recebido — merecidamente — de todos os lados.

23
Jan20

Aí Está a Factura

O Esférico

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A confrangedora imagem de Coates a jogar a ponta-de-lança nos minutos finais do jogo de ontem resume a tragicomédia em que se transformou esta gestão. Porque Coates não se limitou a jogar a ponta-de-lança. Efectivamente, era o único "ponta-de-lança" em campo.

Uma época em cacos, um balneário em fanicos, um clube em espiral suicida, dão plena razão a quem apontou ao centímetro os erros grosseiros desta direcção. Como costuma dizer-se, "estava escrito nas estrelas".

Os resultados são claros. Frederico Varandas deve aos Sportinguistas uma escolha. Uma escolha entre a continuidade do seu trabalho ou entre alguém que apresente novas soluções. Uma escolha para aqueles que acreditam que os pressupostos da sua candidatura foram cumpridos e aqueles que não acreditam. Deve, sobretudo, perceber que esta situação não é sustentável por mais tempo e que é o clube, em primeiro lugar, que sofre com isto. A época seguinte já está em risco. Mudanças exigem-se. Deveria por isso seguir o conselho que ele próprio deu — e bem — ao presidente anterior quando decidiu assumir a sua candidatura à liderança do SCP. Esconder-se atrás de silêncios sonsos ou desculpas fiadas deixou de ser opção. Há muita coisa que o caos herdado de 2018 não explica e cuja responsabilidade recai sobre a actual estrutura.

Em relação a Silas, é uma daquelas coisas... Se o seu sistema pós-Bolasie tivesse aguentado até aos pénaltis e aí o Sporting prevalecesse mercê duma inspirada cartada chamada Renan, teria sido levado em ombros. Como apostou tudo na retranca e perdeu no último minuto, é tido como besta. Faltou-lhe exumar os restos mortais de Peyroteo e colocá-lo a líbero. Tê-lo-ia feito, se pudesse. Muitas vezes os adeptos vêm ter comigo com visões conflituantes sobre a culpabilidade de Silas. Na minha opinião, acho que contratar um treinador com as limitações no banco que este tem é como ter nas mãos uma granada sem pino: mais cedo ou mais tarde rebenta-nos na cara. Mas creio que a perspectiva mais correcta para se avaliar o trabalho do técnico é a seguinte: ainda que o plantel do Sporting esteja distante da qualidade que Benfica e Porto ostentam, a verdade é que continuamos a ter melhores jogadores do que Braga, Famalicão ou Guimarães, assim como as restantes equipas da 1ª liga — nem que seja pelo número de internacionais que o nosso onze apresenta. Continuamos também a ter o 3º maior orçamento do campeonato, com crise ou sem ela. Silas deverá ficar até ao fim da época, até porque o descalabro está consumado. Mas manda o bom senso que comecemos a preparar a sua sucessão.

18
Jan20

Fumo No Porão // Sporting 0 Benfica 2

O Esférico

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Havia uma escola que frequentei quando era mais novo que organizava todos os anos um torneio de futebol inter-turmas. Tratava-se duma ocasião especial, pela qual esperávamos ansiosamente. E embora apenas participassem os alunos mais "veteranos", os mais novos, como eu, tomavam fervorosos partidos por esta ou aquela equipa, gerando uma euforia participativa que redundava num ambiente de jogo a sério em redor do campo. Uma das singularidades deste evento consistia na existência dum 'speaker', que se posicionava num palanque improvisado sobre a linha de meio campo — um bom malandro com ar de Spirou que não só anunciava resultados e substituições, como também interpunha bicadas satíricas sempre que achava conveniente. Lembro-me perfeitamente dum desses jogos, em que certa Equipa A abafava certa Equipa B, o massacre já ia penoso, até que a partir dos 6-0 cada novo golo era aproveitado pelo 'speaker' para se dirigir aos vencidos num tom de refinado sarcasmo: "coragem, ainda não acabou..." A ironia era óbvia: aquilo que se mascarava de estímulo para os humilhados era na realidade a sádica promessa de mais golos no bucho. E toda a gente ria.

Esta época fez-me recordar esse episódio. Algures, atrás dum pilar, há sempre uma vozinha jocosa que não pára de nos atirar o mesmo piropo: "ainda não acabou..." Efectivamente, ainda há tempo mais que suficiente para as coisas piorarem. Escusado será dizer, uma equipa com estas crateras estruturais não vai a lado nenhum na Liga Europa. A Taça de Portugal já foi e a Taça da Liga prepara-se para tomar o mesmo rumo. A meio do campeonato, são 19 os pontos que nos separam do líder. A Champions é uma miragem, o Famalicão deverá fugir no 3º lugar, e o Braga já nos morde os calcanhares no 5º. O Sporting não caminha para o pódio, caminha para ficar fora da Europa.

Não se pode dizer que tenhamos jogado propriamente mal ontem, assim como não se pode dizer que tenhamos chegado a jogar bem. Fomos uma equipa equilibrada dentro do possível, mas qualquer olhar atento aos jogadores das duas equipas em aquecimento aos 60' chegava para concluir que os equilíbrios negociados dentro de campo podiam ser ilusão rapidamente desfeita a qualquer instante. Dum lado, Rafa, Taarabt ou Seferovic; do outro Plata, Mendes, Eduardo, Borja. Dum lado homens feitos, do outro rapazes e flops. À maior consistência encarnada, o Sporting soube responder com duas ou três oportunidades claras. E, à semelhança do que já acontecera contra o FCP, períodos houve em que a assertividade leonina chegou a entusiasmar a plateia. Mas no fim venceu o Benfica, porque tem melhor futebol e, sobretudo, melhores jogadores nos momentos de definição e concretização.

Pois estes grandes jogos são como o algodão: não enganam. E assim, onde atletas como Max, Fernandes ou Mathieu responderam com graus variáveis de qualidade sempre que foram chamados a intervir, outros como Wendel, Doumbia ou L. Phellype viram a sua flagrante mediania brutalmente exposta por um adversário hábil em explorar este superavit de fragilidades — a começar pelo miolo, onde os raros laivos de construção sustentada não chegaram para compensar uma crónica lentidão e confusão na definição dos lances.

Tal como, infelizmente, preconizei, o mês de Janeiro prepara-se para ser o dilúvio que vai rebentar com os diques de Alvalade. Nesta lua de fel em curso, sugiro algumas coisas muito concretas:

1) Os resultados tornam cada vez mais urgente que esta direcção submeta a escrutínio eleitoral a teoria de que é particularmente dextra em gestão futebolística — afinal, a principal premissa da sua então candidatura.

2) Esteja mais uma semana, um mês ou um ano à frente do clube, FV deve concluir o saneamento das claques, nomeadamente através das propostas que eu já aqui expus: a) expulsão/extinção de todas as claques, ou substitui-las por uma claque oficial do clube; b) retirada da bancada inferior do topo sul aos GOA.

3) É necessário que se comece a preparar a sucessão de Silas. Independentemente do seu grau de culpa, os resultados são pobres, a sua competência é apenas mediana, e um treinador que nem pode falar com os jogadores não é seguramente o futuro do Sporting. Deixemo-nos de ideias tolas.

21
Out19

Claques: Nem Mais Um Passo Atrás

O Esférico

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No pós-Alcochete havia, no Sporting, quem tivesse a fantasia de que a relação com as claques poderia um dia voltar a uma espécie de idade da inocência, remendada por vagos exercícios de recalcamento colectivo e fé em Deus. Eu nunca embarquei nessa cantiga, e escrevi-o aqui, advogando pela extinção das mesmas ou a sua total refundação. As razões são diversas, entre as quais contam-se a captura das claques por comandos de desordeiros profissionais que do Sporting se servem antes de servirem o Sporting, a galopante tribalização das dinâmicas internas e o perigosíssimo empoderamento das suas cúpulas, com a nefasta consequência de termos hoje um segundo órgão de poder não-eleito no seio duma sociedade cotada em bolsa. Mas, sobretudo, porque quando se dá um acontecimento tão cataclísmico como o que ocorreu a 15 de Maio de 2018, atinge-se um ponto de não-retorno em que se exige visão, não hesitação.

Parece-me a mim que F. Varandas é o tipo de pessoa reactiva, não proactiva. Qualidades pouco abonatórias para um líder. Pois de um líder espera-se que saiba interpretar a gravidade dos factos e conjugá-los com o sentimento dos sócios (que não estão com as claques), desbravando, com medidas oportunas, caminhos consentâneos com o sinal dos tempos. Essa seria a única forma de prevenir o caos que é hoje visível. Oportuno, portanto, teria sido adoptar estas medidas quando o ferro estava quente. Porque depressa — muito depressa — percebemos que estes grupos, nomeadamente a JL, não contentes com os danos infligidos ao clube, nunca se mostraram dispostos a submeter-se à mais cândida "palmadinha na mão", jamais abdicando duma auto-proclamada "autoridade moral" que em tudo lhes permitisse condicionar os destinos do clube, mesmo que à pancada. Os sinais estavam todos lá, como aqui fui relatando.

Não deixo, todavia, de estar ao lado do presidente nesta matéria. Esta medida, embora tardia, é corajosa, ainda que insuficiente. O problema é que parte duma direcção enfraquecida e, no contexto actual, arrisca-se a ser confundida por sectores da bancada cujo apoio seria essencial com um acto de auto-preservação de poder, na lógica da postura defensiva que a estrutura tem, aliás, adoptado ultimamente. Não posso deixar de notar que, ao contrário do que vem escrito no comunicado da SAD (que está repleto de razões válidas), esta reacção não decorre de uma invocada falta de apoio à equipa de futebol, mas sim dos acontecimentos de Sábado, cujo alvo foi a própria estrutura. Mau timing, sempre. Porém, bem vistas as coisas, esses ataques inenarráveis não terão deixado outra alternativa à SAD, e isso é um escudo argumentativo plausível, mesmo que não infalível.

Previsivelmente, isto não ficará por aqui. E, dependendo dos próximos desenvolvimentos, poderá chegar-se a um ponto em que a expulsão das claques fique em cima da mesa. O que para mim não é um problema. Começam a desenhar-se as linhas de nova batalha pela alma do clube. E terão que ser os sócios do SCP, na sua globalidade, a saberem distinguir entre o mau trabalho desta SAD na área do futebol profissional e a pertinência das medidas agora tomadas. Porque o que está em causa não poderia ser mais importante. Termos um clube moderno, equipado para o século XXI, no qual as bancadas são restituídas às multidões de famílias e amigos; ou um clube anacrónico, sujeito à "lei marcial" destes grupos "paramilitares", no qual a generalidade dos sócios são cada vez mais espectadores dispensáveis no processo decisório? Muito possivelmente, desta inevitável cisão dependerá o renascimento do nosso clube. Porque este, tal como está, não tem futuro.

P.S.: Uma breve ronda pelos canais de tv dá-nos a prova inequívoca de que o nível médio de inteligência no comentarismo lusitano define-se na malga de farelos à rés-do-chão. Condenam a violência dos GOA? Sim, certamente. Opõem-se às ameaças? Oh, sim, veementemente! Até acham que aquilo de Alcochete foi um tudo nada desagradável... Naturalmente, são unânimes em chorar a morte prematura do Mercedes do vogal (se há coisa que comove esses prodígios do coice verbal é verem um Mercedes maltratado). Então qual é a sua opinião final? Que FV esteve mal, muito mal. Coitadinhas das claques, etc... Isto significa o quê, em termos práticos? Só pode querer dizer que, nas suas cabeças, o estado de direito deve subjugar-se a um certo "direito" à violência, que é, afinal, mero resultado da "paixão" pelo futebol. Ah, essa valente "paixão" que permite que um desaire desportivo transforme as pessoas em bichos... Não me surpreende que tão poucos refugiados sírios queiram ficar em Portugal. Afinal, também eles vieram de sítios onde a lei não significa nada. Reconhecem à distância o cheiro a trampa.

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