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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

16
Fev20

O General Com Medo // Rio Ave 1 Sporting 1

O Esférico

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Completados 5 meses ao serviço do cçube, Silas prova categoricamente que treinar o Real Madrid ou treinar este Sporting é para ele um expediente que vai dar ao mesmo. Devagar, devagarinho, com medo, muito medinho, lá vai ele abordando os jogos, faça chuva ou faça sol, fiel à mesma míngua de ideias que caracteriza um participante da Casa dos Segredos, antítese empírica do exemplo dado por Humberto Delgado, o general sem medo para quem o gigantismo da opressão regimental só podia ser combatido olhando o adversário nos olhos. Só assim se explica a exibição execrável do Sporting, a total ausência de jogo atacante (tirando o remate-oásis de Eduardo), a solidão necrológica dos homens dianteiros (poucos, tão poucos), a inexistente criatividade nos raros momentos de posse.

Silas ainda não interiorizou uma noção quintessencial para qualquer treinador do Sporting que tenha por objectivo sobreviver no cargo por mais de meio ano: mais vale perder pontos a atacar do que perder pontos a jogar para o pontinho. Quando o Uber o larga em Alvalade ele estranha a ausência das paredes mal calafetadas do Restelo. Não o censuro pela confusão. O Sporting de 2020 é bastante parecido ao Belém de 2018. O mesmo pendor autofágico, o mesmo futebol em 2ª mão, a mesma obsessão por emprestados, a mesma equipa técnica. Mas qualquer vista de olhos mais atenta à nossa história deveria despertar Silas para as prioridades do seu consulado, entre aquilo que é tolerável para os adeptos do Sporting e o que é intolerável para os adeptos do Sporting. No topo da lista dos "intoleráveis" está, precisamente, passar 70' a jogar em estéril lateralização, inseminação abortada por dois pivôs que não constroem nada, não acrescentam nada, não garantem nada. Por isso mesmo, Silas não pode ser o treinador do Sporting na próxima época.

Mesmo tendo em conta as limitações do plantel, os castigos, as lesões e esse luto visceral por Bruno Fernandes, não pode haver desculpas para a produção do Sporting em 90' se resumir a um remate à trave. Não pode haver desculpas para sermos tão descaradamente submissos a uma equipa que nunca venceu um campeonato nacional, nunca venceu uma taça, nada. Nem que seja porque o Sporting entrou ontem em campo com seis internacionais AA, contra dois do Rio Ave.

O jogo de ontem foi, assim, um pedido de ajuda. Uma tentativa de suicídio ao ralenti, feita em público, sob o olhar atento dos bombeiros. E, se dúvidas existissem, terá servido de guia de marcha para uma série de jogadores. A começar por Borja, o único jogador do planeta que consegue perder três bolas numa única posse. Ou Wendel, o equivalente low-cost de um Pogba: engenhoso, talentoso, mas totalmente desprovido de mentalidade competitiva — não há pretensão ao título de campeão que resista a um protagonista com tamanha falta de fibra vencedora. Algo desacompanhado, é certo; perdido nos abismos milenares que o separavam da dupla Eduardo-Doumbia (Battaglia no banco?), não tem, porém, o impulso de vir procurar jogo atrás. O eclipse foi tão completo que o meu dedo já teclava o número da polícia, para dá-lo como pessoa desaparecida, quando o brasileiro emergiu dos vapores tísicos da equipa para desmarcar o fantasma de Jordão, lá no deserto relvado onde apenas a morte de ideias estava presente.

Assim, Silas persistiu no erro até aos 71', altura em que Coates é expulso e pulverizam-se quaisquer hipóteses de alterações substanciais. E depois há Sporar, homem-ilhéu no naufrágio. 4 jogos, 0 golos. O pior início possível para alguém que precisava de começar bem para dissipar as dúvidas. Sporar é mais vítima do que réu, é certo, pois a moda dos avançados figurantes já vem de trás, quando Keizer decidiu fazer de Bas Dost uma espécie de farol solitário em alto mar, por quem os barcos passam com indiferença e um aceno triste. Desta soma de misérias sobra apenas Maximiano, mais uma vez o melhor da equipa.

Com tantos erros de casting, o empate acaba mesmo por assumir tonalidades milagreiras, um bálsamo inesperado para a nossa leonina comichão, arrancado literalmente do céu pela persistência de Bolasie. Jovane assumiu, não falhou, e deu com isso um sinal de confiança e vontade que lhe deverão garantir a titularidade nos próximos jogos.

Agora, nas semanas seguintes, iremos assistir a uma tendência interessante. O foco do descontentamento popular irá transitar gradualmente da direcção para o treinador. Se em teoria isto aponta para a culpabilização do técnico pela má época, não é de todo o que significa. Significa tão somente que, para os adeptos, o preço de fazer cair uma direcção desapontante é demasiado elevado, tendo em conta as forças do caos que se perfilam para lhe tomar o lugar. Trocando por miúdos, FV tem o seu lugar cada vez mais garantido até à próxima época.

23
Jan20

Aí Está a Factura

O Esférico

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A confrangedora imagem de Coates a jogar a ponta-de-lança nos minutos finais do jogo de ontem resume a tragicomédia em que se transformou esta gestão. Porque Coates não se limitou a jogar a ponta-de-lança. Efectivamente, era o único "ponta-de-lança" em campo.

Uma época em cacos, um balneário em fanicos, um clube em espiral suicida, dão plena razão a quem apontou ao centímetro os erros grosseiros desta direcção. Como costuma dizer-se, "estava escrito nas estrelas".

Os resultados são claros. Frederico Varandas deve aos Sportinguistas uma escolha. Uma escolha entre a continuidade do seu trabalho ou entre alguém que apresente novas soluções. Uma escolha para aqueles que acreditam que os pressupostos da sua candidatura foram cumpridos e aqueles que não acreditam. Deve, sobretudo, perceber que esta situação não é sustentável por mais tempo e que é o clube, em primeiro lugar, que sofre com isto. A época seguinte já está em risco. Mudanças exigem-se. Deveria por isso seguir o conselho que ele próprio deu — e bem — ao presidente anterior quando decidiu assumir a sua candidatura à liderança do SCP. Esconder-se atrás de silêncios sonsos ou desculpas fiadas deixou de ser opção. Há muita coisa que o caos herdado de 2018 não explica e cuja responsabilidade recai sobre a actual estrutura.

Em relação a Silas, é uma daquelas coisas... Se o seu sistema pós-Bolasie tivesse aguentado até aos pénaltis e aí o Sporting prevalecesse mercê duma inspirada cartada chamada Renan, teria sido levado em ombros. Como apostou tudo na retranca e perdeu no último minuto, é tido como besta. Faltou-lhe exumar os restos mortais de Peyroteo e colocá-lo a líbero. Tê-lo-ia feito, se pudesse. Muitas vezes os adeptos vêm ter comigo com visões conflituantes sobre a culpabilidade de Silas. Na minha opinião, acho que contratar um treinador com as limitações no banco que este tem é como ter nas mãos uma granada sem pino: mais cedo ou mais tarde rebenta-nos na cara. Mas creio que a perspectiva mais correcta para se avaliar o trabalho do técnico é a seguinte: ainda que o plantel do Sporting esteja distante da qualidade que Benfica e Porto ostentam, a verdade é que continuamos a ter melhores jogadores do que Braga, Famalicão ou Guimarães, assim como as restantes equipas da 1ª liga — nem que seja pelo número de internacionais que o nosso onze apresenta. Continuamos também a ter o 3º maior orçamento do campeonato, com crise ou sem ela. Silas deverá ficar até ao fim da época, até porque o descalabro está consumado. Mas manda o bom senso que comecemos a preparar a sua sucessão.

01
Out19

Do Céu Caiu um Penalty // Aves 0 Sporting 1

O Esférico

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Quem esperava um renascimento qualitativo do Sporting na partida de ontem terá de esperar mais uns tempos. A prova de que o nosso futebol se escreve hoje por linhas tortas é que podemos dar por nós a ignorar o jogo, pegar no carro, ir amparar a esposa em trabalho de parto, e voltarmos à partida na certeza de que não perdemos nada de especial — rigorosamente nada. Mas, em relação a isso, pouco Silas poderia fazer no espaço de quatro dias. É certo que o novo treinador também teve a sua quota parte de tiros ao lado ontem, como foram as apostas em Jesé, Eduardo e Borja. E se Eduardo ainda ornou a sua insonsa mediania com um par de remates perigosos, Jesé fez precisamente o contrário, promovendo um recital de hipotéticos passinhos de dança num contexto de total aversão à bola, potencialmente letais numa boite nocturna, mas infelizmente inúteis num jogo de futebol. Até agora, todos os esforços para encontrar Jesé, que anda há largos anos desaparecido, revelaram-se infrutíferos, não obstante a Interpol estar metida ao barulho. E quem se atrever a dizer que o avistou ontem, à hora de jantar, num relvado em Vila das Aves, está certamente a fiar-se numa perigosa dose de optimismo.

O contraste, neste navio dos emprestados, veio com Bolasie, um rapaz cuja abnegação — nem sempre efectiva, mas certamente valiosa — ontem nos valeu o triunfo. Foi um penalty literalmente caído do céu, numa altura em que o futebol do Sporting assemelhava-se a uma âncora presa ao fundo dum mar de banalidades. O dedo de Silas — se dedo de Silas houve — notou-se da forma mais subtil. Não num empenho palpável à luz do dia, muito menos na diversidade de soluções, mas na mais fina filigrana de solidez da qual escorreu a gotícula de felicidade que nos permitiu manter a baliza inviolada pela primeira vez em 23 anos. E não é que o Sporting não tenha tentado ser fiel à tradição. Ao ser passivo nas bolas paradas, ao ser indolente na recuperação, ao ser pouco criterioso nos espaços que escolhe para perder o esférico. Contámos com a boa fortuna dos postes, é verdade. Mas eu gosto de pensar que, algures na subjectividade penta-dimensional do futebol, estava escondido o grãozinho de premeditação que nos permitiu levar os 3 pontos. O que fica claro é que esta equipa não tem golo — jamais poderia ter golo. Vive dos pontapés de Fernandes, e quando estes não aparecem o nosso futebol parece não ter outra finalidade senão esperar pela morte. Não creio estar enganado se disser que, ontem, o primeiro remate no interior da área do Aves apenas surgiu na 2ª parte, já depois da entrada de Luiz Phellype.

Mais do que jogar bom futebol, o que importava era ganhar. E, por vezes, ganhar no meio do caos pode dar o impulso de que a equipa precisa para encarar os próximos desafios.

P.S.: De repente, ofendem-se as comadres. Tudo por causa do curso de treinador de Silas. O mundo está cheio de medíocres com o canudo debaixo do braço. Eu, no lugar de José Pereira, estaria mais preocupado com os muitos treinadores "habilitados" que não demonstram ter sequer aptidões para orientar um churrasco de Domingo, quanto mais equipas de futebol. No Belenenses, Silas fez o que muitos outros não conseguiram fazer: dar-lhe estabilidade no meio do caos. Não é um currículo genial, mas é, por si só, a prova 'ad hoc' de que pode desempenhar o cargo. Comparar a profissão de treinador de futebol com a profissão de médico só vem demonstrar o desnorte de quem o faz. Quando um cirurgião falha uma artéria alguém morre. Quando Wendel falha a baliza, na pior das hipóteses, há uma porta que estremece algures. Não obstante, perante um quadro de fiscalização em constante evolução, mais uma vez fica exposto o risco que Frederico Varandas assumiu com esta opção. No Belém, ninguém pareceu preocupar-se com o nível IV de Silas. No Sporting, como já percebemos, tudo ganha outra dimensão.

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