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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

07
Jul20

Fake Football // Moreirense 0 Sporting 0

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Ali por volta do minuto 50-e-troca-o-passo, Ricardo Soares, técnico do Moreirense, é subitamente acometido por uma onda de espasmos dilacerantes, reminiscentes da era dourada da revista à portuguesa. Acto contínuo, Pasinato, a 2ª peça neste dominó de dói-dóis, cai por terra, atingido por aquilo que, à primeira vista, poderia ser um caso tórrido de lombrigas ou cólicas oculares contraídas no decurso da observação do seu treinador. Por ali rebolou, impúbere, sonoro e lacrimejante, até que o árbitro dele se apiedou e ordenou a entrada das enfermeiras de serviço. Note-se que este tipo de comportamento é, por cá, analisado com a mesma bonomia com que se aceita que grupos de pelintras se empoleirem nas grades a cuspir para cima de jogadores e árbitros. "Faz parte", "é feio, mas inteligente", "são coisas do futebol", são apenas alguns epítetos com que, em Portugal, se celebra a arte do engano.

O Sporting, porém, também tem a sua própria versão do ofício. Não vem com a mesma plebeia boçalidade de outros, mas sim pela pluma estilística de escribas engravatados, conforme aos pergaminhos aristocráticos do clube. Se Pasinato rebola pela relva, o Sporting rebola por comunicados e contra-comunicados sobre o que o árbitro fez ou deixou de fazer. Chama-se a isto "quem não chora não mama". O Porto fá-lo. O Benfica fá-lo. O Braga fá-lo. E o Sporting também quer mamar — embora não goste de admiti-lo.

Porém, a realidade, para quem tiver estômago para tal, é mais agreste do que esta versão ficcionada dos eventos. O Sporting não ganhou o jogo porque não mereceu ganhá-lo. Nunca foi uma equipa lúcida, lesta ou dominante. A competência — quando a houve — reverteu para rodinhas de complacência onde a bola bocejava de jogador para jogador, empapada, triste e roliça — desconsiderada pelo abjecto espectáculo de ninguém saber onde ficava a baliza adversária.

O preço da juventude paga-se quando a finalidade do jogo é confundida com infinitos processos intermédios. E o maior truque que o Moreirense fez foi entregar a bola a um conjunto que não sabe reconhecer o seu potencial destruidor. Sem uma referência na área, torna-se ainda mais difícil focar aquelas cabeças jovens, agora que Sporar passou a personificar em campo a angústia paralisante das pinturas de Munch. E se na 1ª parte o problema foi a ligação entre a defesa e o ataque, na 2ª foi a desconsideração por jogadores como Jovane ou Plata, por cujos pés passaram os poucos momentos de repentismo de que a equipa dispôs, antes de finalmente se render, nos minutos finais, a uma salva de equívocos e passes estrábicos.

Tudo isto faz parte do processo de crescimento. Não estou deprimido, nem tenho que estar. Aliás, estou até confiante. Para o futuro. Amorim chegou e apontou logo uma mão-cheia de soluções que outros nunca ousaram descortinar. Os resultados melhoraram. As exibições também. Mas isso não altera o facto de que lhe atiraram para o colo um ramo de cartas imberbes — quando não inócuas —, para quem o menor grão de maturidade pode representar um embaraço sem igual.

Assim, hoje, a nação leonina entretém-se a mediocrizar-se com lances de arbitragem. Rebola-se nas fofas pastagens da desculpabilização. Talvez isso doa menos do que confrontar a evidência de que tivemos uma vantagem numérica que durou 45' e nunca soubemos o que fazer com ela.

09
Dez19

A Dois Tempos // Sporting 1 Moreirense 0

O Esférico

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Quando Bolasie introduziu a bola na baliza do Moreirense aos 11', a alegria libertada parecia corporizar o corolário natural dum jogo que começara firmemente assente numa lógica de posse, domínio, audácia e organização. Era também o selar simbólico de algo maior, o anel matrimonial colocado no dedo desta relação de interesse entre o congolês e os sportinguistas, que vêem nele, na época de todos os perigos, um exemplo de profissionalismo e paixão pelo jogo, isto por oposição, precisamente, à ausência desses mesmos predicados em alguns outros jogadores ontem em campo.

No fio da navalha é como muitas vezes o Sporting se encontra. E, nesta era de precisões tecnológicas e cegueiras selectivas, foram 14cm aquilo que o VAR descortinou sobre a ilegalidade do golo. Tivesse Borja sido mais astuto e iniciado a jogada cruzando primeiro as pernas do adversário em vez da bola e nada disto teria acontecido, tal como decreta a nova bitola estabelecida no Boavista-Benfica.

O certo é que a partir daí o Sporting entrou numa espécie de falência de órgãos invisível à vista. O jogo tornou-se desligado, consequência de um divórcio entre a mente e o corpo, as ideias e as pernas, a vontade e a objectividade. A depressão pós-VAR instalou-se na equipa e voltámos a ver laivos de irregularidade a pintarem o relvado, intercalando momentos de apatia com jogadas de perigo — estas mais por incapacidade do adversário do que por virtuosismo colectivo. Não foi por falta de treino, decerto, mas porque a míngua de soluções obriga a que se depositem as esperanças em elementos deficitários, como foram os casos de Jesé (um remate de perigo e nada mais), Vietto (em decréscimo de há 3 jogos a esta parte), ou Wendel, que nos dias que correm mostra menos alegria no seu futebol do que uma viúva num velório. E o elemento geralmente aglutinador do baralho — Bruno Fernandes — foi ontem carta fora dele.

Num cenário normal, o Sporting fez mais do que o suficiente para marcar 3 ou 4 golos. Mas numa conta de dividir os lucros mal dão para as despesas, e isto só mesmo depois de o único ponta-de-lança do plantel aparecer para oferecer a sobremesa. Bolasie, o próprio, viria a protagonizar mais uma tripleta de lances de perigo, assim como um par de assistências perigosas que não deram em golo. Por causa disso, foi, a par de Mathieu e Maximiano, o melhor em campo. Mas foi só quando Silas — mestre das mil tácticas — discerniu o óbvio que as coisas mudaram. A cada oportunidade, Luiz Phellype demonstra que, não sendo um primor, é a solução mais lógica para uma equação complicada. Assim, ainda se foi a tempo de emendar aquilo que parecia destinado a ser uma correria inglória para o empate, num jogo em que o Sporting foi superior, mostrou bom futebol a espaços, mas em que lhe faltou qualidade nas decisões. Depois de testar contra o Gil Vicente um inovador sistema de 4-4-20 losangos, com mais ângulos do que faces, Silas derivou ontem para um sistema com (quase) mais pinos do que galgos. E no meio da nem sempre lúcida sofreguidão, apenas as saídas de Vietto e Jesé permitiram que as contas pendessem definitivamente a favor da vitória.

P.S.: Logo numa altura em que Neto se afirmava como uma alternativa valiosa, lesionou-se com gravidade, mercê dum lance macabro em que tudo fez para liderar pelo exemplo e pela garra. Rápidas melhoras, pois de um Neto destes muito estamos necessitados.

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