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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

28
Jan20

Resposta Positiva Em Noite de Velório // Sporting 1 Marítimo 0

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Fechem um tipo dentro dum caixão e atirem-no ao mar — o que vai ele ouvir? O rugido embotelhado dum universo oblíquo, a solidão indefinível de barbatanas e galeões, a contagem decrescente da morte. Em suma, mais ou menos o que qualquer adepto que esteve ontem em Alvalade ouviu. As palmas tristes dum império falido, o trote abafado de soldados em fuga, as suásticas verbais de alguns em transição para o Chega. Pelo menos durante os primeiros 45 minutos. Um ambiente agoirento, bizarro, nas bancadas, agudizado pela postura de dois dos principais protagonistas deste drama: na tribuna um presidente a fazer-se de morto, na curva sul as claques a fazerem-se de vivas. Vivemos num mundo bizarro, onde o que nos separa da insanidade é a admissão da nossa condição. E enquanto cada um cava a sua trincheira, o SCP definha nesta ladainha exibicional. Ganha um, perde dois. Ganha dois, perde um. Será assim até ao fim. O equilíbrio perfeito para a salvaguarda deste irrespirável status quo.

12000 nas bancadas deve ser um recorde negativo em jogos da Liga. E 25 minutos sem tocar na bola deve ser novo recorde para Jesé. Razão pela qual impõe-se a pergunta: perdido por um, perdido por mil, porquê esta insistência num fulano que não acrescentou rigorosamente nada a não ser uma pilha de facturas? Porque não aproveitar o resto da época para dar oportunidades aos mais novos? Se há, afinal, talento em Alcochete (P. Mendes, Max, Jovane, etc), porquê atafulhar o plantel de forasteiros medíocres? "Perguntas. Perguntas", repetia, gélido, Roy Batty, o "replicant" artificial de Blade Runner, antes de suprimir a vida do seu criador.

No meio do desnorte inicial, quem tem raça é rei. E quem tem raça é Ristovski, um jogador que continua a desafiar o destino a cada novo dia. Seria pneu sobressalente num candidato ao título. Neste Sporting é lufada de ar fresco. Estranhamente certeiro em pleno desnorte colectivo, tipicamente generoso, omnipresente. Não foi cura para coisa nenhuma, mas da sua confiança germinou a semente que floresceria na 2ª parte. E com a sua lucidez obstou a males maiores, quando já a bola corria para uma baliza desamparada.

Não que o Marítimo tenha sido um rival complicado. Igualmente confuso no passe e pouco rigoroso na construção, foi nesta displicência intermédia que o futebol de Wendel acabou por prosperar e Doumbia achou espaço para respirar. Fernandes, ao seu estilo, foi consequente quer no sucesso, quer no insucesso. Um cruzamento falhado gera sempre um embaraço alheio que termina invariavelmente em canto. Um passe errado carrega em si virose que adoece o adversário de confusão. E um pontapé certeiro abre na trave uma escala de Richter. Os dois lados podem ter-se equivalido pelo bocejo nos primeiros 45'. Mas foi sempre o Sporting que demonstrou mais vontade de ganhar.

Todos andam em negação. Em negação as claques quanto à queda do seu boçal guru. Em negação outros quanto à incapacidade desta direcção. Em negação Silas, que emergiu do jogo com ideias de apanhar o FCP no 2º posto. Ter objectivos é bom. Eu também quero um dia marcar numa final da Champions. Porém, há ironias destas. Talvez seja precisa uma certa dose de negacionismo para se treinar. Estas coisas são contagiosas e os balneários cenários idílicos para pandemias psíquicas. E foi porventura assim, neste clima de delírio colectivo, que os jogadores emergiram do balneário para a 2ª parte, em negação quanto à sua morte desportiva, em negação quanto ao velório na plateia, em negação quando à 1ª parte, mergulhados numa febre competitiva que proporcionou alguns dos minutos mais agradáveis que eu vi o Sporting oferecer nos últimos meses. Se foi tudo a fingir, não sei. Mas ganharam-se mais uns segundos de vida no caixão. O presidente pode continuar a fazer-se de morto e as claques podem continuar a fazer-se de vivas. Pelo menos por mais uma semana.

P.S.: A notícia foi a estreia de Sporar, mas o destaque vai para o regresso de Jovane à competição.

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