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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

02
Out20

Balbúrdia no Oeste // Sporting 1 LASK 4

O Esférico

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Coloquemos as coisas em perspectiva. Para um clube que vinha de uma das piores épocas desportivas da sua história, não podia haver nada pior do que ficar pelo caminho ainda antes de ter entrado na Liga Europa. É difícil explicar como se passa da exibição dominante de Paços de Ferreira para o patético descarrilamento a que assistimos ontem à noite. Num plano mais focalizado no tempo, podemos admitir que o surto viral (que levanta outras dúvidas) interferiu com a forma dos jogadores e os ritmos da equipa; dividiu o grupo e obrigou a desvios estratégicos; forçou alguns a assumirem o esforço de muitos num curto espaço de tempo. Num plano mais amplo, a recorrência destes berbicachos remete para a gradual desvalorização qualitativa do plantel, e a aposta súbita — e sôfrega — em jovens valores é a circunstância inevitável de se ter perdido um ano e meio de mandato em desvios programáticos, dispensas polémicas e contratações falhadas — tiros nos pés que nos depauperaram (ainda mais) os cofres e atrelaram-nos a um ciclo vicioso de vender mal para comprar barato, e pagar caro o que se comprou barato.
 
E depois há coisas como o alegado goleador-referência da equipa começar os jogos todos no banco (e quando entra exala a aura dum anacoreta aterrado com o inesperado peso da morte), há coisas como haver um extremo-esquerdo sem haver um extremo-direito, há coisas como um jogo de playoff decisivo, jogado em casa contra o 3º classificado do 12º campeonato da Europa, estar resolvido e enterrado aos 65', sem o mínimo protesto.
 
No final das contas, onde a linha das desculpas acaba e a linha das culpas termina cava-se um fosso enorme. E é aí, nesse abismo desolador, que encaixam na perfeição as palavras bacano-light com que nos brindam, após o feito, o nosso treinador-adjunto (o resultado não reflecte a exibição, a equipa demonstrou atitude [inserir risos]) e o nosso director desportivo (esta equipa vai dar-nos muitas alegrias) — a narrativa duma equipa banal, cartoonesca, acomodada ao insucesso e receptiva à próxima derrota.
 
Esta retórica infantil é o garante de mais exibições como a que Vietto protagonizou ontem (mais uma), coisa assexuada, rala e moribunda, cujas ténues semelhanças com uma certa motricidade antropomórfica não chegam para qualificá-la como figura de homem. Ou momentos trágico-cómicos como o corte falhado de Porro no 1-2. Ou os três golos sofridos em dez minutos. Ou a insistência arrogante em sair SEMPRE de trás em bola jogada (da qual resultou o lançamento que deu no 0-1). Ou os seis remates que fizemos num jogo inteiro, para não destoar do total desmoronamento colectivo após o 1-2. Ou ainda o quão perto estivemos de levar 6 ou 7.
 
Este discurso dócil e inócuo apenas soa natural em Alvalade. É o tipo de discurso mediano que vemos aplicado pela mediania técnica a plantéis medianos em busca de mediania classificativa — mas não é a mentalidade que 15 milhões supõem comprar.
Mas o rombo está feito. E impõe-se a pergunta: quantos teremos agora de vender para tapar o buraco e pagar o treinador?
25
Set20

Ordem, À Falta de Melhor // Sporting 1 Aberdeen 0

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Para o Sporting, entrar ontem em Alvalade para defrontar o Aberdeen apresentava-se como um campo minado de riscos, cheio de hipóteses funestas a cada esquina. Uma equipa virgem de competição contra outra no seu 9º jogo oficial, um surto pandémico que nos desfalcou de treinador e jogadores, um onze jovem, um estádio vazio.

 
Impossibilitado de elevar o conjunto aos píncaros da excelência, Amorim optou por arquitectar um afundamento colectivo nos baixios da mediocridade, um sítio inóspito e estéril onde, do mal o menos, todos podiam dar um contributo igual para a causa. Pois não se entra num campo minado a sprintar para o abismo, mas com mil cuidados e precisão cirúrgica, num futebol bonacheirão, afunilado, cínico, sarapintado de ocasionais picos de virilidade, quando do esquecimento assomava a necessidade de concluir em vitória tão denodada empresa.
 
Atónitos com este desplante, os escoceses tornaram-se espectadores da sua própria emboscada, desconfiados, claustrofóbicos, tímidos — talvez as lendas sobre os campos minados de Alvalade fossem verdadeiras, afinal... Prometeram-lhes mortandade e vísceras, mas vieram dar a uma terra onde não há urgências existenciais, onde tudo fica para amanhã, onde o café se bebe com um cheirinho. Por uma ou outra ocasião os descendentes do clã MacLeod ainda ensaiaram o seu grito Braveheart, mas, naquele palco desnudo, outonal e sorumbático, soou tudo como uma interpretação amadora de uma companhia de teatro ao ar livre.
 
O Sporting navegou assim a sua improvisada chalupa durante grande parte do jogo — agora remas tu, agora remo eu, devagar, devagarinho, para acomodar velocidades e formas díspares de pensar na morte da bezerra. Temia-se um cataclismo, mas Amorim saiu-se com um belo Paulo Bento Vintage 2008 D.O.C. — castas Touriga Nabiçal e Pastellon Blanc. Os de Aberdeen tragaram-no avidamente, deliciados, e foram recambiados para terras do Grã-Brexit com menos uma preocupação na cabeça.
 
Amorim, claro está, contou com cúmplices em campo para a concretização do seu estratagema. Jovane e Vietto (uma assistência e um mar nulidades) esforçaram-se por corresponder à mediocridade do futebol exigido, ao passo que Porro, Wendel e Coates contrabalançaram a questão com exibições de evidente qualidade e dedicação. Tiago Tomás, o miúdo, desempatou o imbróglio a favor da eficácia.
 
E tudo teria decorrido sem mácula, se Eduardo Ferro — talvez inspirado por uma vozinha caída do céu — não tivesse decidido retirar Wendel e Porro no momento mais crítico do jogo, e substituí-los por dois efebos pubescentes, erro amador que rapidamente reanimou o Aberdeen e esteve perto de ser fatal. Aparentemente, não aguentavam mais cinco minutos em campo em prol da estabilidade da equipa... Frente ao LASK, sem dúvida, haverão mais oportunidades para testar a nossa sorte.
28
Fev20

Kebab de Leão // Basaksehir 4 Sporting 1

O Esférico

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Não estou a brincar. Ao intervalo do jogo de ontem disse a um amigo: "o que vai acontecer é que o Sporting vai marcar um golinho na 2ª parte, depois vai sofrer outro já perto do fim, vamos para prolongamento, e perdemos o jogo por 4-1 ou 5-1." Isto, palavra por palavra, ipsis verbis. Porque o repito aqui? Não para exortar hipotéticos dons proféticos, que não possuo. Mas sim para realçar a importância do conhecimento estatístico, da noção histórica do clube, das dinâmicas de (des)confiança internas, naquilo que é a formação de abordagens, instintos, percepções e estratégias para o futuro. Esta gente que hoje se senta no banco não disfarça aquilo que é: merceeiros da era do papel, de lápis na orelha e uma clamorosa ignorância sobre a cultura do SCP nos bolsos do fato de treino. Escapa-nos o ouro das mãos por isso mesmo, ano após ano.

Do mesmo modo, hoje nem precisaria de escrever qualquer artigo. Bastaria remeter para os últimos parágrafos do texto que assinei na semana passada sobre o jogo da 1ª mão. Está lá tudo, incluindo estas palavras: "O Sporting ainda vai bem a tempo de ser eliminado".

Na realidade, o Sporting perdeu a eliminatória em três momentos específicos.

Na 1ª mão, quando aos 70' decidiu repousar sobre os louros da exibição e entregou o comando da partida aos turcos.

Ontem, com a substituição de Jovane por Doumbia aos 72'. Se a entrada de Plata tinha agitado o jogo, culminando no golo de Vietto, já a introdução de um trinco para o lugar de um avançado numa altura em que o Sporting dominava (pela primeira vez) a partida — e mostrava-se mais perto do empate do que do 1-3 —, foi a cereja podre no topo do bolo de trampa.

E a entrada atabalhoada de Eduardo aos 91', durante a marcação dum canto, gerando distracção e confusão numa altura em que a equipa precisava era de foco e estabilidade. Previsivelmente, foi na sequência desse canto que surgiu o 3-1, e, embora o resultado ainda só apontasse ao prolongamento, a eliminatória morreu ali, efectivamente. Pois sem um maestro no meio-campo, com Vietto deslocado para a esquerda, e as tarefas de construção entregues aos trolhas Doumbia-Eduardo-Battaglia, era uma questão de tempo até que o Basaksehir marcasse o golo fatal. O prolongamento improdutivo do Sporting só confirmou essa ideia. Do naufrágio leonino apenas dois jogadores se safaram, agarrados, ofegantes, ao destroço flutuante do seu esfoço inglório: Acuña e Ristovski.

Já D. Silas "O Indeciso", que inicialmente apenas pecara pela pífia abordagem ao jogo, não tanto pela escolha do onze, deu uma vez mais lugar à risível figura de D. Silas Medroso, receitando, a partir do banco, mezinhas holísticas por interposta pessoa, e atirando para o relvado todos os cepos que tinha à mão, numa ode à sofisticada ideia de estancar hemorragias com baldes de cascalho.

Recuso a ideia de que o Sporting era superior a este Basaksehir — tecnicamente, dizem-me. A técnica só tem corpo quando é animada por ideias coerentes, pelo colectivo, pela lucidez estratégica. Caso contrário, é folha morta em tempestade de neve. O que os turcos não têm em virtuosismo, têm em persistência, solidariedade, conhecimento do adversário, eficácia. São, por isso, superiores a nós. Mereceram vencer. Só uma coisa me parece cruel. Levámos anos a tentar pronunciar Gençlerbirligi, e agora vamos passar outros tantos a tentar pronunciar Basaksehir. Triste sina. É tapar o nariz e aguentar até ao fim da época.

P.S.: Ontem, os tugas foram todos à viola. Não é malapata, não. É a reles competitividade do nosso campeonatozeco, onde a gula de um ou dois clubes abafa completamente todos os outros indigentes, condenados a guerrearem entre si pelas últimas raspas da malga.

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