Balbúrdia no Oeste // Sporting 1 LASK 4
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Para o Sporting, entrar ontem em Alvalade para defrontar o Aberdeen apresentava-se como um campo minado de riscos, cheio de hipóteses funestas a cada esquina. Uma equipa virgem de competição contra outra no seu 9º jogo oficial, um surto pandémico que nos desfalcou de treinador e jogadores, um onze jovem, um estádio vazio.
Não estou a brincar. Ao intervalo do jogo de ontem disse a um amigo: "o que vai acontecer é que o Sporting vai marcar um golinho na 2ª parte, depois vai sofrer outro já perto do fim, vamos para prolongamento, e perdemos o jogo por 4-1 ou 5-1." Isto, palavra por palavra, ipsis verbis. Porque o repito aqui? Não para exortar hipotéticos dons proféticos, que não possuo. Mas sim para realçar a importância do conhecimento estatístico, da noção histórica do clube, das dinâmicas de (des)confiança internas, naquilo que é a formação de abordagens, instintos, percepções e estratégias para o futuro. Esta gente que hoje se senta no banco não disfarça aquilo que é: merceeiros da era do papel, de lápis na orelha e uma clamorosa ignorância sobre a cultura do SCP nos bolsos do fato de treino. Escapa-nos o ouro das mãos por isso mesmo, ano após ano.
Do mesmo modo, hoje nem precisaria de escrever qualquer artigo. Bastaria remeter para os últimos parágrafos do texto que assinei na semana passada sobre o jogo da 1ª mão. Está lá tudo, incluindo estas palavras: "O Sporting ainda vai bem a tempo de ser eliminado".
Na realidade, o Sporting perdeu a eliminatória em três momentos específicos.
Na 1ª mão, quando aos 70' decidiu repousar sobre os louros da exibição e entregou o comando da partida aos turcos.
Ontem, com a substituição de Jovane por Doumbia aos 72'. Se a entrada de Plata tinha agitado o jogo, culminando no golo de Vietto, já a introdução de um trinco para o lugar de um avançado numa altura em que o Sporting dominava (pela primeira vez) a partida — e mostrava-se mais perto do empate do que do 1-3 —, foi a cereja podre no topo do bolo de trampa.
E a entrada atabalhoada de Eduardo aos 91', durante a marcação dum canto, gerando distracção e confusão numa altura em que a equipa precisava era de foco e estabilidade. Previsivelmente, foi na sequência desse canto que surgiu o 3-1, e, embora o resultado ainda só apontasse ao prolongamento, a eliminatória morreu ali, efectivamente. Pois sem um maestro no meio-campo, com Vietto deslocado para a esquerda, e as tarefas de construção entregues aos trolhas Doumbia-Eduardo-Battaglia, era uma questão de tempo até que o Basaksehir marcasse o golo fatal. O prolongamento improdutivo do Sporting só confirmou essa ideia. Do naufrágio leonino apenas dois jogadores se safaram, agarrados, ofegantes, ao destroço flutuante do seu esfoço inglório: Acuña e Ristovski.
Já D. Silas "O Indeciso", que inicialmente apenas pecara pela pífia abordagem ao jogo, não tanto pela escolha do onze, deu uma vez mais lugar à risível figura de D. Silas Medroso, receitando, a partir do banco, mezinhas holísticas por interposta pessoa, e atirando para o relvado todos os cepos que tinha à mão, numa ode à sofisticada ideia de estancar hemorragias com baldes de cascalho.
Recuso a ideia de que o Sporting era superior a este Basaksehir — tecnicamente, dizem-me. A técnica só tem corpo quando é animada por ideias coerentes, pelo colectivo, pela lucidez estratégica. Caso contrário, é folha morta em tempestade de neve. O que os turcos não têm em virtuosismo, têm em persistência, solidariedade, conhecimento do adversário, eficácia. São, por isso, superiores a nós. Mereceram vencer. Só uma coisa me parece cruel. Levámos anos a tentar pronunciar Gençlerbirligi, e agora vamos passar outros tantos a tentar pronunciar Basaksehir. Triste sina. É tapar o nariz e aguentar até ao fim da época.
P.S.: Ontem, os tugas foram todos à viola. Não é malapata, não. É a reles competitividade do nosso campeonatozeco, onde a gula de um ou dois clubes abafa completamente todos os outros indigentes, condenados a guerrearem entre si pelas últimas raspas da malga.