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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

25
Jul20

Como Atacar a Próxima Época

O Esférico

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Não é tarde, nem é cedo, para abrirmos o véu sobre a próxima época. Aqui, importa desde logo destacar três perguntas como ponto de partida para os vários cenários que se colocam em cima da mesa. 1 - Há dinheiro? 2 - Há scouting? 3 - Há juventude?

Sobre a primeira, tendo em conta que a comunicação do clube é hoje inexistente, não temos indicações evidentes. Talvez a resposta mais clara venha, indirectamente, pelas mãos de Rúben Amorim, que, ao acelerar a integração de jovens na equipa, estará também a confessar as expectativas limitadas que tem em relação a reforços. Se juntarmos a isso o eclipse das receitas de bilheteira, a queda da publicidade e a impossibilidade de antecipar mais verbas da NOS, percebe-se logo a limitação de recursos. Tão pouco o Sporting poderá compensar este défice com vendas avultadas. Bruno Fernandes — cujo bolo transaccional estará quase reduzido a pó — já foi transferido, Acuña desvalorizou-se para 12M e o próprio Wendel está longe de inspirar loucuras em quem tem dinheiro.

Então, há scouting? Olhando para o rasto de contratações falhadas, para o prenúncio de contratações por falhar, e atendendo a que esse departamento não sofreu qualquer remodelação digna de nota, a resposta é não, não há — na medida em que o scouting é muito mais do que ler jornais e atender telefonemas de empresários.

Não obstante, há juventude. E alguma com inegável qualidade.

Temos então um clube com futuro, sem dinheiro e cujo scouting é anémico. Nestas circunstâncias, como montar uma oposição competitiva a um Porto campeão e a um Benfica de bolsa aberta comandado por Jesus?

A última coisa que a SAD deve fazer é entrar em pânico e reverter para a política de contratações insipiente que fez da temporada actual uma das piores de sempre. A persistente aposta em Hugo Viana tem de ser contraposta com uma coordenação abrangente e flexível com o treinador — o contrário, portanto, de o que se verificou com Keizer.

Estrategicamente, deve adoptar-se uma visão de guerrilha para a época que se avizinha. O que quer isto dizer? Um plantel mais curto e alinhado com a cultura do Sporting, a focalização do discurso de vitória em duas competições (em vez de quatro), a convergência da comunicação do clube com estes objectivos.

Na prática, isto significa manter a aposta em jovens como Matheus, Maximiano, Nuno Mendes, Quaresma, Plata, Jovane e Joelson (este último aproveita a escassez actual de extremos); manter a experiência no plantel (Coates, Acuña, Luís Neto); canalizar reforços para 3 ou 4 contratações de verdadeiro peso; reduzir do plantel; dispensa/venda de todos os excedentários.

A desvalorização de umas competições em detrimento de outras trará sempre algum risco, sobretudo se falharmos no essencial, mas tão ou mais correcto é concluir que, num plantel que geralmente mal chega para as encomendas, a dispersão de esforços tem retirado foco competitivo às competições mais importantes, sem grande proveito prático. A realidade obriga-nos a definir prioridades, estando o campeonato e as competições europeias à cabeça (onde está o ganho).

Entre os dispensáveis coloco Eduardo, Borja, Ilori, Lumor, Rosier, Camacho, Doumbia, Bruno Paulista, Misic, Miguel Luís, Mattheus Oliveira, Francisco Geraldes, Alan Ruiz (!), Battaglia.

Geraldes, porque só é a somar enquanto lhe olhamos para os pés, mas quando olhamos a tudo o resto (ambição, intensidade, eficácia) é sempre a subtrair.

Battaglia, porque tem um dos maiores ordenados, mas o seu rendimento colapsou depois da lesão.

A lista é longa. Porém, entre vendas (algumas) e empréstimos, o Sporting pode gerar aqui uma folga interessante, com vista à obtenção dos seus alvos de mercado. (Admito, é mais fácil dizer do que fazer).

Quanto à política de contratações, o foco deve estar na aquisição de 3/4 mais-valias, jogadores com experiência, créditos firmados, níveis físicos estáveis, e preferencialmente identificados com a cultura do clube — importante para fomentar uma dinâmica de união e compromisso. Jogadores como Adrien ou Slimani, não só são possíveis, como são recomendáveis. Assim como o retorno de Palhinha é para não desperdiçar.

A fazer fé em potenciais saídas e ajustamentos, identifico como prioritários um ponta-de-lança de topo (Sporar é claramente insuficiente), um extremo-direito, um médio-ofensivo (Adrien poderá não encaixar neste desígnio), um central e um lateral-direito.

Insistir na política da compra de refugo em quantidade seria um erro fatal do qual esta direcção não mais recuperaria. Na impossibilidade de atrair determinado alvo, a prioridade deverá sempre ser, em primeiro lugar, olhar para dentro. A título de exemplo, a questão dos centrais. Se o actual sistema for para manter, quatro centrais poderão não chegar. Talvez seja necessário um quinto. Um titular dos sub-23 pode perfeitamente fazer esse papel, sem necessidade de gastar 3 ou 4 milhões num estrangeiro medíocre. Só assim Frederico Varandas conseguirá materializar os pressupostos do seu projecto. É melhor que o faça. Porque no próximo ano poderá não ter as claques e a pandemia para o isentarem de sarilhos maiores.

16
Fev20

O General Com Medo // Rio Ave 1 Sporting 1

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Completados 5 meses ao serviço do cçube, Silas prova categoricamente que treinar o Real Madrid ou treinar este Sporting é para ele um expediente que vai dar ao mesmo. Devagar, devagarinho, com medo, muito medinho, lá vai ele abordando os jogos, faça chuva ou faça sol, fiel à mesma míngua de ideias que caracteriza um participante da Casa dos Segredos, antítese empírica do exemplo dado por Humberto Delgado, o general sem medo para quem o gigantismo da opressão regimental só podia ser combatido olhando o adversário nos olhos. Só assim se explica a exibição execrável do Sporting, a total ausência de jogo atacante (tirando o remate-oásis de Eduardo), a solidão necrológica dos homens dianteiros (poucos, tão poucos), a inexistente criatividade nos raros momentos de posse.

Silas ainda não interiorizou uma noção quintessencial para qualquer treinador do Sporting que tenha por objectivo sobreviver no cargo por mais de meio ano: mais vale perder pontos a atacar do que perder pontos a jogar para o pontinho. Quando o Uber o larga em Alvalade ele estranha a ausência das paredes mal calafetadas do Restelo. Não o censuro pela confusão. O Sporting de 2020 é bastante parecido ao Belém de 2018. O mesmo pendor autofágico, o mesmo futebol em 2ª mão, a mesma obsessão por emprestados, a mesma equipa técnica. Mas qualquer vista de olhos mais atenta à nossa história deveria despertar Silas para as prioridades do seu consulado, entre aquilo que é tolerável para os adeptos do Sporting e o que é intolerável para os adeptos do Sporting. No topo da lista dos "intoleráveis" está, precisamente, passar 70' a jogar em estéril lateralização, inseminação abortada por dois pivôs que não constroem nada, não acrescentam nada, não garantem nada. Por isso mesmo, Silas não pode ser o treinador do Sporting na próxima época.

Mesmo tendo em conta as limitações do plantel, os castigos, as lesões e esse luto visceral por Bruno Fernandes, não pode haver desculpas para a produção do Sporting em 90' se resumir a um remate à trave. Não pode haver desculpas para sermos tão descaradamente submissos a uma equipa que nunca venceu um campeonato nacional, nunca venceu uma taça, nada. Nem que seja porque o Sporting entrou ontem em campo com seis internacionais AA, contra dois do Rio Ave.

O jogo de ontem foi, assim, um pedido de ajuda. Uma tentativa de suicídio ao ralenti, feita em público, sob o olhar atento dos bombeiros. E, se dúvidas existissem, terá servido de guia de marcha para uma série de jogadores. A começar por Borja, o único jogador do planeta que consegue perder três bolas numa única posse. Ou Wendel, o equivalente low-cost de um Pogba: engenhoso, talentoso, mas totalmente desprovido de mentalidade competitiva — não há pretensão ao título de campeão que resista a um protagonista com tamanha falta de fibra vencedora. Algo desacompanhado, é certo; perdido nos abismos milenares que o separavam da dupla Eduardo-Doumbia (Battaglia no banco?), não tem, porém, o impulso de vir procurar jogo atrás. O eclipse foi tão completo que o meu dedo já teclava o número da polícia, para dá-lo como pessoa desaparecida, quando o brasileiro emergiu dos vapores tísicos da equipa para desmarcar o fantasma de Jordão, lá no deserto relvado onde apenas a morte de ideias estava presente.

Assim, Silas persistiu no erro até aos 71', altura em que Coates é expulso e pulverizam-se quaisquer hipóteses de alterações substanciais. E depois há Sporar, homem-ilhéu no naufrágio. 4 jogos, 0 golos. O pior início possível para alguém que precisava de começar bem para dissipar as dúvidas. Sporar é mais vítima do que réu, é certo, pois a moda dos avançados figurantes já vem de trás, quando Keizer decidiu fazer de Bas Dost uma espécie de farol solitário em alto mar, por quem os barcos passam com indiferença e um aceno triste. Desta soma de misérias sobra apenas Maximiano, mais uma vez o melhor da equipa.

Com tantos erros de casting, o empate acaba mesmo por assumir tonalidades milagreiras, um bálsamo inesperado para a nossa leonina comichão, arrancado literalmente do céu pela persistência de Bolasie. Jovane assumiu, não falhou, e deu com isso um sinal de confiança e vontade que lhe deverão garantir a titularidade nos próximos jogos.

Agora, nas semanas seguintes, iremos assistir a uma tendência interessante. O foco do descontentamento popular irá transitar gradualmente da direcção para o treinador. Se em teoria isto aponta para a culpabilização do técnico pela má época, não é de todo o que significa. Significa tão somente que, para os adeptos, o preço de fazer cair uma direcção desapontante é demasiado elevado, tendo em conta as forças do caos que se perfilam para lhe tomar o lugar. Trocando por miúdos, FV tem o seu lugar cada vez mais garantido até à próxima época.

03
Fev20

Falar Para a Parede // Braga 1 Sporting 0

O Esférico

Os números explicam eloquentemente a época do Sporting até aqui: 16 vitórias, 3 empates, 13 derrotas (5 delas em casa), o que perfaz apenas 50% de triunfos. 5º lugar no campeonato, 22 pontos de atraso para o líder; 53% de posse de bola média; queda na 1ª eliminatória da TdP, queda nas meias-finais da TdL; jogos contra o top 5 = 1 vitória vs. 6 derrotas; 5º melhor ataque da Liga, 8ª defesa; 1 jogador da formação no onze titular; 3 treinadores (e continuam sem acertar); 3 jogadores nucleares vendidos e 9 jogadores contratados, dos quais apenas dois (Vietto e Bolasie) foram titulares em pelo menos metade dos 32 jogos efectuados.

Alguém vai ter que explicar-me em que medida é que isto encaixa numa direcção que fez uma campanha assente em três premissas fundamentais: priorização total da formação, desvalorização dos encargos financeiros e empolamento da sua astúcia futebolística. Mas que me expliquem isso sem racharem a espinha com qualquer malabarismo argumentativo.

Hoje, em duelo de mudos, ganhou quem teve maior clareza de processos. Ao passo que no Braga as peças certas encaixam nos lugares certos, o Sporting não consegue evitar assemelhar-se a um tabuleiro da Chicco para crianças, onde uma catatua atrevida tenta invariavelmente encaixar cubos no orifício dos triângulos, bolas no orifício dos rectângulos e o Hugo Viana no orifício dos dirigentes profissionais. Foi assim que o losango híbrido de Silas acabou fazendo figura de paralelepípedo perneta, com dois laterais esquerdos jogando um em cima do outro (Acuña e Borja), e um completo desequilíbrio na linha ofensiva (Camacho foi de tudo, desde extremo esquerdo, a extremo direito, passando por avançado, e acabou por não ser nada). O Sporting entrou com um onze titular que, na prática, apresentou 7 jogadores com missões sobretudo defensivas, e também por aí se viu o quão curto é esta mentalidadezita que o Sporting ostenta, na qual a primeira vítima acaba por ser Sporar, cujas raras intervenções até revelaram alguns pormenores de matador.

Menos má acabou por ser a atitude batalhadora da equipa, assim como a 1ª parte de Eduardo (que rapidamente voltou à costumeira banalidade na 2ª), ou a ocasional irreverência de Wendel, que, solto de amarras defensivas, ofereceu um vislumbre do que poderá render em novas funções. Mas pouco mais. No fundo, o abracadabra esquemático de Silas resultou apenas em 10 minutos de bem intencionada decência a abrir o jogo, durante os quais o Braga sofreu uma trombose ocular por não saber onde fixar as suas marcações, consequência da ausência de Bruno Fernandes. E se é verdade que o Sporting voltou a entrar bem no reatar da partida, depois disso rapidamente os acontecimentos redundaram numa macabra previsibilidade, durante a qual a ideia mais recorrente na cabeça de cada um de nós foi "quando surgirá o golo deles"? À falta de qualidade maior, à falta de liderança, à falta de lucidez, acabámos por cair vítimas da evidente maior solidez bracarense.

Resta-me apenas destacar um último pormenor, que, não explicando tudo, diz muito sobre o nosso estado de coisas. Jesé no banco, Pedro Mendes em Lisboa. Porquê? Tivemos durante dois dias três pontas-de-lança no plantel, logo passámos para dois, e hoje Silas escolheu munir-se apenas de um, num aceno de saudosismo a um passado recente. Porquê? Perante as mais que previsíveis dificuldades, não teria dado jeito termos dois homens de área nos minutos finais? Jesé, por acaso, foi a jogo? Numa época frustrada, continuamos a investir no sub-desenvolvimento de quem não tem futuro no clube, em vez do desenvolvimento de quem tem. Porquê? Que andamos a brincar, isso parece-me óbvio.

28
Jan20

Resposta Positiva Em Noite de Velório // Sporting 1 Marítimo 0

O Esférico

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Fechem um tipo dentro dum caixão e atirem-no ao mar — o que vai ele ouvir? O rugido embotelhado dum universo oblíquo, a solidão indefinível de barbatanas e galeões, a contagem decrescente da morte. Em suma, mais ou menos o que qualquer adepto que esteve ontem em Alvalade ouviu. As palmas tristes dum império falido, o trote abafado de soldados em fuga, as suásticas verbais de alguns em transição para o Chega. Pelo menos durante os primeiros 45 minutos. Um ambiente agoirento, bizarro, nas bancadas, agudizado pela postura de dois dos principais protagonistas deste drama: na tribuna um presidente a fazer-se de morto, na curva sul as claques a fazerem-se de vivas. Vivemos num mundo bizarro, onde o que nos separa da insanidade é a admissão da nossa condição. E enquanto cada um cava a sua trincheira, o SCP definha nesta ladainha exibicional. Ganha um, perde dois. Ganha dois, perde um. Será assim até ao fim. O equilíbrio perfeito para a salvaguarda deste irrespirável status quo.

12000 nas bancadas deve ser um recorde negativo em jogos da Liga. E 25 minutos sem tocar na bola deve ser novo recorde para Jesé. Razão pela qual impõe-se a pergunta: perdido por um, perdido por mil, porquê esta insistência num fulano que não acrescentou rigorosamente nada a não ser uma pilha de facturas? Porque não aproveitar o resto da época para dar oportunidades aos mais novos? Se há, afinal, talento em Alcochete (P. Mendes, Max, Jovane, etc), porquê atafulhar o plantel de forasteiros medíocres? "Perguntas. Perguntas", repetia, gélido, Roy Batty, o "replicant" artificial de Blade Runner, antes de suprimir a vida do seu criador.

No meio do desnorte inicial, quem tem raça é rei. E quem tem raça é Ristovski, um jogador que continua a desafiar o destino a cada novo dia. Seria pneu sobressalente num candidato ao título. Neste Sporting é lufada de ar fresco. Estranhamente certeiro em pleno desnorte colectivo, tipicamente generoso, omnipresente. Não foi cura para coisa nenhuma, mas da sua confiança germinou a semente que floresceria na 2ª parte. E com a sua lucidez obstou a males maiores, quando já a bola corria para uma baliza desamparada.

Não que o Marítimo tenha sido um rival complicado. Igualmente confuso no passe e pouco rigoroso na construção, foi nesta displicência intermédia que o futebol de Wendel acabou por prosperar e Doumbia achou espaço para respirar. Fernandes, ao seu estilo, foi consequente quer no sucesso, quer no insucesso. Um cruzamento falhado gera sempre um embaraço alheio que termina invariavelmente em canto. Um passe errado carrega em si virose que adoece o adversário de confusão. E um pontapé certeiro abre na trave uma escala de Richter. Os dois lados podem ter-se equivalido pelo bocejo nos primeiros 45'. Mas foi sempre o Sporting que demonstrou mais vontade de ganhar.

Todos andam em negação. Em negação as claques quanto à queda do seu boçal guru. Em negação outros quanto à incapacidade desta direcção. Em negação Silas, que emergiu do jogo com ideias de apanhar o FCP no 2º posto. Ter objectivos é bom. Eu também quero um dia marcar numa final da Champions. Porém, há ironias destas. Talvez seja precisa uma certa dose de negacionismo para se treinar. Estas coisas são contagiosas e os balneários cenários idílicos para pandemias psíquicas. E foi porventura assim, neste clima de delírio colectivo, que os jogadores emergiram do balneário para a 2ª parte, em negação quanto à sua morte desportiva, em negação quanto ao velório na plateia, em negação quando à 1ª parte, mergulhados numa febre competitiva que proporcionou alguns dos minutos mais agradáveis que eu vi o Sporting oferecer nos últimos meses. Se foi tudo a fingir, não sei. Mas ganharam-se mais uns segundos de vida no caixão. O presidente pode continuar a fazer-se de morto e as claques podem continuar a fazer-se de vivas. Pelo menos por mais uma semana.

P.S.: A notícia foi a estreia de Sporar, mas o destaque vai para o regresso de Jovane à competição.

23
Jan20

Chega Sporar

O Esférico

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O Sporting precisava desesperadamente dum ponta-de-lança. Ele aí está. Sporar é, inequivocamente, um ponta-de-lança.

Porque há questões várias que se levantam com esta aquisição, o melhor que pode acontecer a Sporar é facturar logo dois ou três golos nos primeiros jogos e cair depressa no goto dos adeptos. O pior que pode acontecer é tudo manter-se na mesma, mergulhando logo Sporar na mesma nuvem de suspeição que mina todo o plantel. Daí — como se vê — é muito difícil escapar com vida.

Sporar não carrega apenas a responsabilidade de suprir de golos uma equipa em crise atacante. Carrega também o peso de uma gestão que traz no currículo flops vários, entre saídas incompreensíveis e contratações falhadas. A pressão é, portanto, redobrada, a margem de erro limitada.

Agora perguntarão as pessoas porque é que Sporar, tendo o registo impressionante que tem no campeonato eslovaco, não era perseguido por Inter, Chelsea ou Bayern, mas sim por Sporting, Celtic e Al-Gharafa. Porque tinha o passe avaliado em 2.5 milhões, e não em 15 ou 20 milhões? A resposta é simples e curta. Porque a liga eslovaca não vale um chavo. Efectivamente, o campeonato da Eslováquia situa-se apenas no 30º lugar do ranking da UEFA, atrás de ligas como a da Roménia, Bulgária, Cazaquistão, Bielorússia, Azerbaijão, etc. Está para a Europa dos grandes como os distritais estão para a Liga NOS. Há lá Zéquinhas vários com 20/30 golos, mas isso pode não querer dizer nada.

Outra pergunta. Sporar chega por 6M (+ objectivos). É praticamente o mesmo valor da venda de Bas Dost (7M). Isto faz algum sentido? Por este valor, não havia nenhum avançado numa liga minimamente competitiva que pudesse exponenciar o seu rendimento num campeonato intermédio como o nosso? Tanto mais que as passagens de Sporar por Basileia e Arminia Bielefeld (II. Bundesliga) foram um rotundo fracasso. Há aqui um risco claro.

Marega, por exemplo, custou ao Porto 4 milhões. Mitroglou custou ao Benfica 7 milhões, vindo do Fulham. Zé Luís veio do Spartak por 8.5M e Seferovic chegou do E. Frankfurt a custo zero. Escuso de ir mais longe.

Urge por isso a pergunta: será que o scouting do Sporting viu o que mais ninguém viu? Onde não existem certezas pode haver esperança. Esperemos que o seu real valor esteja mais próximo da sua prestação na Liga Europa deste ano (5 golos), porque o seu registo na Eslováquia diz-me pouco.

Resolve-se um problema, surgem outros. A descaracterização do ADN Sporting no plantel principal continua prego a fundo. Se olharmos para o nosso onze-tipo, verificamos que, actualmente, só existem um jogador da formação e dois portugueses. Tudo isto merece a nossa reflexão.

12
Jan20

Revista na Tribuna, Dignidade no Campo // V. Setúbal 1 Sporting 3

O Esférico

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Descerrem a cortina, soem as pancadas de Molière. Lá porque Vítor Hugo Valente passou ao lado de uma brilhante carreira no teatro, não quer dizer que tenha desistido de usar saiotes. Um produto anacrónico do decrépito Parque Mayer, o líder sadino não se poupou a esforços na preparação do espectáculo de ontem, juntando ao pedido inédito o efeito cómico de uma auto-proclamada "honorabilidade" — isto vindo dum fulano que não sai à rua sem levar duas lambadas dos credores. Porém, onde La Feria usa a pompa para compensar a vacuidade das suas produções, Vítor dispensa essa mesma pompa e mete as fichas todas numa espécie de apoteose saloia da palhaçada, em que os apanha-bolas mascarados surgem para dar um toque distópico a este clássico da peixeirada. No meio do espectáculo todo, só se esqueceu foi de esclarecer porque razão recusou a oferta do Sporting.

A resposta a essa pergunta está no jogo em si. Longe dos 80% de acamados que alegavam, o número de convocados confirma que tinham jogadores mais que suficientes para ir a jogo. Limitados, certamente, mas bem dentro dos requisitos mínimos exigidos. Legítima a frustração da equipa sadina, mas o livro de reclamações devem pedi-lo, antes de mais, ao seu líder, que, em período de campanha, mostrou-se mais preocupado com a sua reeleição do que com a saúde dos atletas. E serviu-se da grandeza (e fragilidade) do SCP para ampliar a sua mensagem.

Montado o cenário, vendidos os bilhetes, chegou-se então à hora do jogo. Acenderam-se os holofotes, abriu-se a cortina da tribuna, e imediatamente o 1º acto arrancou, com uma salva de labregos abatendo-se sobre as porcas vidraças da mesma para uma prova de espiritismo verbal e bailado contemporâneo no charco. Para o 2º acto Valente brindou os presentes com uma comovente cena de dramatismo conjugal, com dedadas afirmativas e ameaças de retirada dos acepipes da mesa. Houve aplausos, pigarreios, somaram-se votos. No 3º acto, Valente, qual dama despeitada, sentou-se a duas cadeiras de distância de FV, amuado com a insensibilidade do líder leonino. No 4º e último acto tossiu aos microfones os restos duma sarna persistente e cortou relações com o SCP, privando-nos desses preciosíssimos empréstimos que o VFC sempre dispensa. Depois, desapareceu na noite, presumivelmente para levar mais umas lambadas de credores ofendidos. Foi um espectáculo entretido, feito para benefício exclusivo da primeira plateia, onde se sentam os sócios votantes.

Varandas, valha a verdade, dedicou-lhe o mesmo tipo de desprezo que qualquer um de nós dedicaria a um labrego etilizado que se debruçasse do balcão para vociferar contra os órfãos da Casa Pia. O Sporting agiu bem. Não foi inflexível, deixou uma porta entreaberta. Com isso desmascarou o bluff dos sadinos. E o árbitro apitou para o início do jogo, verificada a fiabilidade das redes.

Em relação à partida em si, destaco a extrema dignidade dos seus intervenientes. Antes de mais, dos atletas sadinos. Foram lá para jogar à bola, não para carpir mágoas ou descarregar frustrações. Entre espasmos de vigor e uma certa apatia, chegaram mesmo a assustar, mercê dum delírio febril em forma de golo que deixou o Sporting momentaneamente de quarentena. E o 'forcing' final que protagonizaram deve chegar para afastar qualquer receio de mortes prematuras. Mas também do Sporting, que perante uma situação complexa não entrou em campo para fazer fretes a ninguém. Resolveu quando tinha de resolver, tentou gerir quando tinha de gerir, foi ponderado no meio de tantas emoções, e no meio de tamanha racionalidade só sofreu um golo e perdeu dois jogadores para o derby de sexta — um avanço que eu considero positivo. Entre os melhores leões destaco Bruno Fernandes e Ristovski, com Bolasie também interventivo. Jesé também entrou, mas apenas para nos lembrar que pagar quotas também traz inconvenientes.

P.S.: Espero que FV não esteja a preparar-se para cometer um espantoso acto de autofagia ao vender Bruno Fernandes dias antes dum derby. O negócio pode ser bom, mas qualquer desaire com o rival depressa atiraria isso para segundo plano. Se bem que no Sporting já nada me surpreende.

06
Jan20

Socos No Escuro // Sporting 1 FC Porto 2

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O Sporting entrou em 2020 como começou 2019: desferindo socos às cegas dentro do saco escuro das suas incoerências. Daí resultaram alguns momentos de graça, meia-dúzia de arritmias nas bancadas, duas bolas nos postes, cinco cartões amarelos e mais uma vitória moral para o museu. No fim, erros de marcação e ineficácia custaram-nos os 3 pontos. Mas a realidade que releva da partida poderá custar-nos muito mais do que isso. Ou não estivéssemos nós num mês totalmente decisivo para o clube, cujos testes de fogo para a SAD e Silas implicam recepções ao Porto e Benfica, duas deslocações a Braga e uma eventual final. Perdido o primeiro teste, o Sporting situa-se agora no 4º lugar, atrás do Famalicão, a 12 pontos do Porto e a 16 do Benfica. A estabilidade directiva ficou um pouco mais longe, o abismo mais próximo, e a mudez de Silas no banco permitiu que a transitoriedade da sua posição falasse novamente mais alto.

Naturalmente, após o jogo, o treinador enfatizou a vontade de chegar aos dois primeiros lugares. Seguramente, amanhã, os jornais encher-se-ão de declarações de Hugo Viana a garantir a iminência do título nacional, e de Frederico Varandas a afiançar a enorme qualidade do plantel, fruto do milagre financeiro que alega ter produzido. É impressão minha ou há mesmo uma bebedeira generalizada que impregna todo o clube? Uma bebedeira que arranca já trôpega das bancadas, perde-se a caminho do WC, entra por engano nos corredores do poder arrotando o relato do cantinho do Morais, antes de se estatelar numa poça da sua própria urina, onde escorre o ADN de 18 anos de jejum? As "claques-apenas-em-nome" passam 45 minutos em silêncio, um movimento da carochinha lança um manifesto destitutivo 24 horas antes dum clássico e a direcção desdobra-se em fanfarronices propagandísticas que mais não são que tofu de alguidar. Mas sobre o estado da nação sportinguista escreverei amanhã.

Assim, os optimistas dirão que o Sporting jogou bem, foi superior, teve as melhores oportunidades. E se olharmos para os 25' iniciais da 2ª parte, diria que não andam longe da verdade. Já os pessimistas dirão que a 1ª parte foi uma maçada, uma manifestação empírica do corpo enfermo que o Sporting habita. A verdade talvez esteja algures no meio, mas onde a ilusão não chega sobram aqueles 20 minutos finais, apogeu do colapso físico e mental, cobrança final dum esforço que implica sempre duas frentes de corrida: contra o adversário e contra nós próprios. Pois enquanto a pedalada durou, o Sporting, na pior das hipóteses, foi sempre um osso duro de roer para os azuis (sérios, mas cinzentos); na melhor das hipóteses chegou a emanar um ar de supremacia que, na realidade, não existe.

Ironicamente, o melhor do Sporting esteve também na raiz do seu colapso. Por três vezes Vietto teve o golo feito nos pés. Por três vezes falhou, alheio à lição de Acuña. Por algum motivo no Atletico Madrid não quiseram ficar com ele. Pese embora todo o seu talento, Vietto não tem golo, e a intensidade é pouca. Em Setembro "apostei" com os leitores que Bolasie, Jesé e Fernando, os três juntos, não fariam metade dos golos que Bas Dost fez na sua pior época em Alvalade. Se calhar até posso juntar Vietto a esse grupo, com alguma folga. Como Fernando não joga desde o tempo da Dona Branca, e os restantes só facturam no 2º anel, é fácil de ver que vou ganhar essa aposta (com juros), para desgosto dos iluminados que adjectivaram Dost de "cepo dispendioso". Foi essa noção do leite derramado que ficou a pesar na consciência duma equipa que reconhece as suas debilidades. Por isso, quando Soares desfez o empate, a fita puxou atrás e o complexo de culpa cristalizou-se. O empate estava no futuro, mas a equipa queria era refazer o passado. Ficou presa na nortada. Mais do que a boa 2ª parte, ou a esforçada 1ª parte, são os últimos 20' que melhor definem a época do Sporting.

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