Como Atacar a Próxima Época
Não é tarde, nem é cedo, para abrirmos o véu sobre a próxima época. Aqui, importa desde logo destacar três perguntas como ponto de partida para os vários cenários que se colocam em cima da mesa. 1 - Há dinheiro? 2 - Há scouting? 3 - Há juventude?
Sobre a primeira, tendo em conta que a comunicação do clube é hoje inexistente, não temos indicações evidentes. Talvez a resposta mais clara venha, indirectamente, pelas mãos de Rúben Amorim, que, ao acelerar a integração de jovens na equipa, estará também a confessar as expectativas limitadas que tem em relação a reforços. Se juntarmos a isso o eclipse das receitas de bilheteira, a queda da publicidade e a impossibilidade de antecipar mais verbas da NOS, percebe-se logo a limitação de recursos. Tão pouco o Sporting poderá compensar este défice com vendas avultadas. Bruno Fernandes — cujo bolo transaccional estará quase reduzido a pó — já foi transferido, Acuña desvalorizou-se para 12M e o próprio Wendel está longe de inspirar loucuras em quem tem dinheiro.
Então, há scouting? Olhando para o rasto de contratações falhadas, para o prenúncio de contratações por falhar, e atendendo a que esse departamento não sofreu qualquer remodelação digna de nota, a resposta é não, não há — na medida em que o scouting é muito mais do que ler jornais e atender telefonemas de empresários.
Não obstante, há juventude. E alguma com inegável qualidade.
Temos então um clube com futuro, sem dinheiro e cujo scouting é anémico. Nestas circunstâncias, como montar uma oposição competitiva a um Porto campeão e a um Benfica de bolsa aberta comandado por Jesus?
A última coisa que a SAD deve fazer é entrar em pânico e reverter para a política de contratações insipiente que fez da temporada actual uma das piores de sempre. A persistente aposta em Hugo Viana tem de ser contraposta com uma coordenação abrangente e flexível com o treinador — o contrário, portanto, de o que se verificou com Keizer.
Estrategicamente, deve adoptar-se uma visão de guerrilha para a época que se avizinha. O que quer isto dizer? Um plantel mais curto e alinhado com a cultura do Sporting, a focalização do discurso de vitória em duas competições (em vez de quatro), a convergência da comunicação do clube com estes objectivos.
Na prática, isto significa manter a aposta em jovens como Matheus, Maximiano, Nuno Mendes, Quaresma, Plata, Jovane e Joelson (este último aproveita a escassez actual de extremos); manter a experiência no plantel (Coates, Acuña, Luís Neto); canalizar reforços para 3 ou 4 contratações de verdadeiro peso; reduzir do plantel; dispensa/venda de todos os excedentários.
A desvalorização de umas competições em detrimento de outras trará sempre algum risco, sobretudo se falharmos no essencial, mas tão ou mais correcto é concluir que, num plantel que geralmente mal chega para as encomendas, a dispersão de esforços tem retirado foco competitivo às competições mais importantes, sem grande proveito prático. A realidade obriga-nos a definir prioridades, estando o campeonato e as competições europeias à cabeça (onde está o ganho).
Entre os dispensáveis coloco Eduardo, Borja, Ilori, Lumor, Rosier, Camacho, Doumbia, Bruno Paulista, Misic, Miguel Luís, Mattheus Oliveira, Francisco Geraldes, Alan Ruiz (!), Battaglia.
Geraldes, porque só é a somar enquanto lhe olhamos para os pés, mas quando olhamos a tudo o resto (ambição, intensidade, eficácia) é sempre a subtrair.
Battaglia, porque tem um dos maiores ordenados, mas o seu rendimento colapsou depois da lesão.
A lista é longa. Porém, entre vendas (algumas) e empréstimos, o Sporting pode gerar aqui uma folga interessante, com vista à obtenção dos seus alvos de mercado. (Admito, é mais fácil dizer do que fazer).
Quanto à política de contratações, o foco deve estar na aquisição de 3/4 mais-valias, jogadores com experiência, créditos firmados, níveis físicos estáveis, e preferencialmente identificados com a cultura do clube — importante para fomentar uma dinâmica de união e compromisso. Jogadores como Adrien ou Slimani, não só são possíveis, como são recomendáveis. Assim como o retorno de Palhinha é para não desperdiçar.
A fazer fé em potenciais saídas e ajustamentos, identifico como prioritários um ponta-de-lança de topo (Sporar é claramente insuficiente), um extremo-direito, um médio-ofensivo (Adrien poderá não encaixar neste desígnio), um central e um lateral-direito.
Insistir na política da compra de refugo em quantidade seria um erro fatal do qual esta direcção não mais recuperaria. Na impossibilidade de atrair determinado alvo, a prioridade deverá sempre ser, em primeiro lugar, olhar para dentro. A título de exemplo, a questão dos centrais. Se o actual sistema for para manter, quatro centrais poderão não chegar. Talvez seja necessário um quinto. Um titular dos sub-23 pode perfeitamente fazer esse papel, sem necessidade de gastar 3 ou 4 milhões num estrangeiro medíocre. Só assim Frederico Varandas conseguirá materializar os pressupostos do seu projecto. É melhor que o faça. Porque no próximo ano poderá não ter as claques e a pandemia para o isentarem de sarilhos maiores.