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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

02
Jul20

Acendam As Velas // Sporting 2 Gil Vicente 1

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Começam a avolumar-se os indícios de que, à septuagésima tentativa, Frederico Varandas terá finalmente acertado no treinador. Evidentemente, desembolsou um valor obsceno por ele. Mas quanto cada um de nós pagaria por um gato falante que aterra sempre em pé? Pois, nesta altura, Amorim parece ter imposto uma linguagem felina no seio do plantel que toda a gente entende.

Ultrapassada parece estar a rigidez mórbida dos tempos de Silas, ou a anárquica bonomia celebrizada por Keizer. Há uma nova elasticidade em voga e a sensação de que a equipa encarna várias dimensões para o mesmo fim. Olho para este Sporting e mal o reconheço. Olho para ele com a mesma admiração com que olhava para o veterano da turma, repetente de sábias andanças que parecia sempre recorrer ao melhor calão, aos melhores trejeitos, a afinidades inalcançáveis (todo o gesto que intentava parecia condenado ao insucesso e, no entanto, quando surgia do outro lado da mandriagem, dez piruetas depois, aterrava perfeito, enlaçado num sorriso confiante). De que outro modo podemos explicar esta recorrência de sucessos com a presença em campo, ora indiferente, ora desastrosa, de alguém como Borja? Quatro cambalhotas depois, aterramos em pé...

Agora, se somente Frederico Varandas acertasse em três ou quatro contratações de enfiada, este Sporting estaria pronto para liderar uma corrida pelo título já na próxima época. Pois, ironicamente, a vinda de Amorim não é só alívio para Varandas, é também a repudiação de Varandas. Repudiação, mais concretamente, pela forma anedótica como gizou a equipa para 19/20. Senão vejamos: o clube contratou nove jogadores para esta temporada. Porém, desses nove, apenas dois entraram no onze titular de ontem. Há uns dias, frente ao Belenenses, nem isso: apenas Sporar.

Amorim, claramente, não tem uma ideia muito positiva sobre os esforços da SAD anteriores à sua chegada. Ontem estrearam-se mais dois miúdos: Tiago Tomás e Joelson. Com similar descaramento, Amorim parece propor soluções, jogo após jogo, que todos os outros antes dele garantiam não existirem. E duas vidas opostas parecem coabitar em Alvalade neste momento: uma nova, que veio para ficar, e uma antiga, que será descartada. É este o espelho impiedoso que Amorim trouxe consigo, e montou no centro do relvado, apontado para as cúpulas dirigentes do 2º anel. Maior descaramento do que este só se a Belle Dominique aparecesse a dançar ao som de Jimmy Somerville numa marcha da extrema-direita.

P.S.: ao passo que jogadores como Plata, Jovane e Quaresma têm aproveitado cada momento para fincarem a sua bandeira em terras do futuro, outros, como Sporar ou Camacho, não têm conseguido acompanhar esta ascensão colectiva. Ultimamente, o esloveno parece desligado da equipa, alheio aos processos, desavindo com os timings de passe e remate. Mas, neste caso, poderemos estar a falar de uma provisória consequência das mutações tácticas de uma equipa à procura de si... Já no caso de Camacho, comparo o seu rendimento a alguém que tenta enfiar o mundo inteiro no buraco de uma agulha. Precipitado, forçado, atabalhoado — seja a jogar mais à frente ou mais atrás, tardo em perceber o motivo da sua aquisição.

02
Dez19

Estaca Zero // Gil Vicente 3 Sporting 1

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Falemos primeiro de coisas boas — apesar de o trabalho recente de Silas ter sido demolido em 90'. Falemos de coisas boas — apesar do espectáculo confrangedor de ver nos nossos criativos artes de escriturário numa corrida de galgos. Falemos então de coisas boas. A 1ª parte? Razoável. Com posse, circulação, ideia de jogo, reacção ao golo, controlo emocional. O sistema? Sensata a sua manutenção, assim como a (quase) replicação do onze, apostando-se tudo no cavalgar da onda europeia. Eu teria feito o mesmo. Indicadores positivos que o golo do Gil Vicente, ao nascer dum inusitado erro individual, não de falência colectiva, pareceu confirmar, em vez de desmentir.

Mas uma ideia não chegou para a filosofia do Gil. O Sporting há muito que deixou de impor regras. Anda a reboque dos rivais, não o contrário. A equipa, tal como os adeptos, vive pendurada do próximo jogo, do próximo resultado. Não há visão estratégica das coisas. Foi Vítor Oliveira quem melhor o disse: faltam jogadores de qualidade ao Sporting. E aí jaz o busílis da questão.

De todas as alterações que podiam ter sido feitas, lamenta-se profundamente que a escolha tenha recaído na inclusão de Jesé, um daqueles fulanos a quem apenas por caridade permitimos que repita ao jantar histórias antigas dos seus tempos de engatatão. As histórias são sempre as mesmas, porque algures no caminho perdeu-se, ébrio com o falso elixir da juventude, e baralhou-se nas contas do tempo. Quando acorda já tem 26 anos. Ainda ontem era um menino. À semelhança do seu futebol, aliás: vira para aqui, vira para ali, foge para a linha, volta para trás e perde a bola. Nunca, em momento algum, o vemos tomar qualquer decisão crítica, porque nunca, em momento algum, percebe o sentido do jogo. Jesé é hoje a imagem perfeita do plantel leonino: está de malas feitas, fala um dialecto estranho e vive de esperanças emprestadas. Estes "reforços" não farão todos juntos metade dos golos que Bas Dost, ao pé coxinho, fez na época passada (23). Pim!

Assim, numa equipa que só se pode dar ao luxo de ter um Vietto no onze, ontem teve dois. Defensivamente, Jesé, como o argentino, vale zero. Tê-los (mais Wendel) simultaneamente na equipa é abrir uma via rápida de passes para as costas da nossa defesa. Bem pode Fernandes correr atrás da bola e esbracejar para os colegas. Enquanto ele faz três viagens ao pote, os outros ainda estão a dividir a factura do almoço. Frente a um G. Vicente invicto em casa (e carrasco do Porto), ir a jogo com esta parelha é o mesmo que aparecer num convívio de caçadores com uma garrafa de rosé: há risadas, calduços, e no fim o Vítor Oliveira esfola a lebre.

Numa 2ª parte que apresentou todas as características dum pesadelo suado, nem as alterações de Silas surtiram efeito. Pelo contrário. Quanto mais mexidas, mais atolado ficou o nosso futebol. Em desespero, saltou para campo Eduardo, uma última cartada apenas comparável ao atirar de água sobre óleo a ferver. Mas resume na perfeição a situação em que estamos. Demos as voltas que dermos, neste elenco não há combinação que resulte em absolvição. É um Totoloto onde a chave suplementar é sempre um número fora do baralho. E irá piorar. Porquê? Porque o problema é tão psíquico como qualitativo. Qualitativo, porque deliberadamente se escaqueirou uma equipa competitiva, com requintes de amadorismo à mistura. Psíquico, porque vender sonhos de campeão a um plantel que mal chega para a Intertoto é sinónimo de depressão a longo-prazo. Hoje são 13 pontos, mas provavelmente serão muitos mais no fim. Obrigam os jogadores a olhar para cima, quando deviam era olhar para dentro.

Lamento apenas que por tão pouco os adeptos percam a clarividência. Os erros, esses, nunca desapareceram. Uma vitória é um penso na ferida. Mas por baixo a gangrena alastra. Não me desvio um milímetro da avaliação que fiz. Tudo é periclitante neste Sporting — e um par de desaires deita a casa abaixo. Clarificação, precisa-se. Responsabilização. E seria importante que os sócios trocassem a alucinação imediatista pela visão geral do futebol. Mas não o farão. E o despertar, como sempre, não será feito com o doce chilrear dos passarinhos, mas sim com o violento detonar duma bomba. Por isso mesmo digo que o Sporting não tem cultura interna para estar no topo do futebol nacional, e muito menos no topo do futebol europeu. Nem hoje, nem nos próximos tempos.

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