Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

O Esférico

29
Jan20

A Vida Depois de Bruno

O Esférico

bruno-fernandes-4k-sporting-fc-portuguese-football

 

Agora que se concretizou a transferência de Bruno Fernandes para o Manchester United, é hora de focar alguns pontos em redor deste assunto.

1 — Um profissional de corpo e alma, profundo respeitador do emblema que representou, pessoa séria e frontal. Ninguém mais do que Bruno Fernandes merece ser feliz no clube onde escolheu prosseguir a carreira. Ficar no Sporting a ver a banda passar parecia-me particularmente injusto para alguém que nunca recebeu borlas na vida. Boa viagem, querido Capitão! Terá vida difícil no actual contexto do MU. Porém, BF já provou vezes sem conta que consegue prosperar no caos.

2 — Este negócio não corresponde ao valor do jogador. Com uma cláusula de 100M e uma exigência inicial de 70M limpos, uma venda por 55M+variáveis fica bastante aquém do melhor negócio possível.

3 — Agradeçam a Sousa Cintra e à Comissão de Gestão, em primeiro lugar.

4 — Há muita coisa opaca relativamente aos valores envolvidos e o comunicado do SCP não ajuda a deslindar o mistério. A saber:

a) aos agentes cabe a fatia de 5.5M. Mas não fica claro se é o SCP que assume a totalidade desse valor.

b) 5M de montante variável consoante o número de jogos. Mas estamos a falar de quantos jogos?

c) 5M dependentes da participação do MU na Champions League. Mas em que moldes? Participação na próxima época? Em qualquer época? Pela forma como o United joga, alguém pode garantir que se qualificará para a CL no final da época? Eu não.

d) 15M dependentes de prémios individuais do jogador. Tradução: dinheiro que não existe. Tradução livre: uma "Renatada".

e) Qual é realmente a tranche que cabe à banca? 30% ou 50%? Qual das restruturações está em vigor, afinal? Também sobre isso o comunicado é omisso.

CONCLUSÃO — Até agora, e garantidamente, o Sporting apenas sabe que receberá 55M pelo negócio. Tudo o resto está envolvido em imponderáveis mistérios e carece de esclarecimento por parte da SAD. Dos montantes variáveis, receberemos no máximo mais 10M, se quiser ser optimista, naquilo que mais parece golpe de cosmética para disfarçar as debilidades da venda. Desses 55M, podemos estimar que apenas entre 25M a 35M entrarão realmente nos cofres do clube. E do que entrará nos cofres do clube devemos ainda descontar uma fatia para ressarcimento urgente de credores vários. Feitas as contas, sobra pouco. Do mal o menos, perdida esta época, trata-se de dinheiro que permitirá preparar a próxima temporada com mais tempo. Mas, tendo em conta a difícil relação que esta direcção tem tido com recursos e reforços, alguém pode garantir que será bem aplicado? Será o investimento desse valor suficiente para suprir a ausência do melhor médio do futebol português? E o que são 20 ou 30 milhões no futebol moderno? Quase nada. Ou, trocando por miúdos, são o Rosier, o Borja, o Doumbia, o Ilori, o Jesé, o Eduardo, o Camacho e o L. Phellype.

17
Dez19

De Luva Branca // Santa Clara 0 Sporting 4

O Esférico

stcsporting.jpeg

Sem inventar, sem recorrer a alquimias confabuladas no córtex delinquente do cérebro, o Sporting arrancou ontem a sua melhor exibição, até à data, no campeonato português. Podemos apenas imaginar o que deve ter custado a Silas decidir a equipa para este jogo. Silas — cujo voto de silêncio o reveste duma aura de monge trágico num cenário de apocalipse — não exibe aquele ar de angústia reprimida por acaso. É um homem torturado. À noite, depois de deitar os jogadores e passar a pente fino o hotel à cata de ultras atrás dos cortinados, recolhe aos seus aposentos, onde fica a sós com velhos fantasmas. De um lado tem um anjinho que lhe sopra ao ouvido líricas delicadas sobre consistência, identidade e lógica num colectivo desportivo. Do outro lado tem um diabrete que lhe sussurra fábulas pérfidas, garantindo-lhe que a melhor maneira de provar o seu valor é congeminar uma complexa equação quântica na qual Jesé, Eduardo e Rosier possam coexistir no corpo enxertado dum monstro futebolístico mais dado a feitiçarias de savana do que à prática de chutar a bola.

Porém, após uma agitada véspera que lhe comoveu a alma, Silas optou pelos conselhos do primeiro. E assim, quando ontem o Sporting subiu ao relvado do Estádio de São Miguel, apresentou-se à refrega com os 11 jogadores que, neste momento, aparentam dar mais garantias à equipa — no sistema que melhor rentabiliza as suas características.

Afoito em teoria, mas cândido na sua essência, o Santa Clara mostrou ser o adversário ideal para o Sporting nesta fase perigosa da época. Não é por acaso que não vence há 7 jogos, assim como não é por acaso que os tiros que lhe decretaram a morte cerebral tenham sido disparados a fechar a 1ª parte e a abrir a 2ª — espaço temporal do velório para equipas em desinvestimento psíquico.

Melhores em campo? Luiz Phellype, Bolasie e Ristovski — com menção honrosa para Vietto. É verdade que raros são os opinadores que mencionam o macedónio num contexto de lisonjeio. Mas é, na humildade dos 2,5 milhões que custou, tudo aquilo que Rosier não consegue ser do alto dos seus faraónicos 8 milhões. É menos destrambelhado do que o francês no critério com que define as jogadas, e mais sólido, quer a atacar, quer a defender. Ontem, a sua presença fez-se sentir sobretudo em finos pormenores, que taparam momentos de potencial desequilíbrio do colectivo. Nunca será um jogador de excelência, mas é o melhor lateral de raiz que temos no plantel — algo que deveria suscitar a preocupação de todos. Já Bolasie, por seu turno, resgatou do passado o golo que a justiça lhe devia, tal é o empenho e alegria que empresta ao jogo — uma alegria, claro está, um tanto rústica e despojada, como um churrasco de Domingo, mas ainda assim legitimadora do título de "empréstimo do ano". Ele corre, ele pula, ele atira-se, ele rebola — e confere a esta cacofonia de movimentos uma intuição técnica residual, diria que nascida do instinto de sobrevivência, não tanto do talento inato. Fez um belo golo de cabeça, de costas, numa rotação perpétua em gravidade zero, numa ode à complexidade que, basicamente, prova porque jamais poderia ser um avançado. Esse papel está destinado a Luiz Phellype, um rapaz de modos melancólicos que chega a dar a impressão de empurrar as bolas para a baliza por despeito, tal é a solidão que o consome lá na frente. Mas empurra-as — e já o fez por oito vezes esta época.

Demoraram 24 horas a chegar, mas foram quatro murraças de luva branca bem espetadas no focinho encapuzado do veneno que corrói o clube.

Mais sobre mim

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D