Falar Para a Parede // Braga 1 Sporting 0
Os números explicam eloquentemente a época do Sporting até aqui: 16 vitórias, 3 empates, 13 derrotas (5 delas em casa), o que perfaz apenas 50% de triunfos. 5º lugar no campeonato, 22 pontos de atraso para o líder; 53% de posse de bola média; queda na 1ª eliminatória da TdP, queda nas meias-finais da TdL; jogos contra o top 5 = 1 vitória vs. 6 derrotas; 5º melhor ataque da Liga, 8ª defesa; 1 jogador da formação no onze titular; 3 treinadores (e continuam sem acertar); 3 jogadores nucleares vendidos e 9 jogadores contratados, dos quais apenas dois (Vietto e Bolasie) foram titulares em pelo menos metade dos 32 jogos efectuados.
Alguém vai ter que explicar-me em que medida é que isto encaixa numa direcção que fez uma campanha assente em três premissas fundamentais: priorização total da formação, desvalorização dos encargos financeiros e empolamento da sua astúcia futebolística. Mas que me expliquem isso sem racharem a espinha com qualquer malabarismo argumentativo.
Hoje, em duelo de mudos, ganhou quem teve maior clareza de processos. Ao passo que no Braga as peças certas encaixam nos lugares certos, o Sporting não consegue evitar assemelhar-se a um tabuleiro da Chicco para crianças, onde uma catatua atrevida tenta invariavelmente encaixar cubos no orifício dos triângulos, bolas no orifício dos rectângulos e o Hugo Viana no orifício dos dirigentes profissionais. Foi assim que o losango híbrido de Silas acabou fazendo figura de paralelepípedo perneta, com dois laterais esquerdos jogando um em cima do outro (Acuña e Borja), e um completo desequilíbrio na linha ofensiva (Camacho foi de tudo, desde extremo esquerdo, a extremo direito, passando por avançado, e acabou por não ser nada). O Sporting entrou com um onze titular que, na prática, apresentou 7 jogadores com missões sobretudo defensivas, e também por aí se viu o quão curto é esta mentalidadezita que o Sporting ostenta, na qual a primeira vítima acaba por ser Sporar, cujas raras intervenções até revelaram alguns pormenores de matador.
Menos má acabou por ser a atitude batalhadora da equipa, assim como a 1ª parte de Eduardo (que rapidamente voltou à costumeira banalidade na 2ª), ou a ocasional irreverência de Wendel, que, solto de amarras defensivas, ofereceu um vislumbre do que poderá render em novas funções. Mas pouco mais. No fundo, o abracadabra esquemático de Silas resultou apenas em 10 minutos de bem intencionada decência a abrir o jogo, durante os quais o Braga sofreu uma trombose ocular por não saber onde fixar as suas marcações, consequência da ausência de Bruno Fernandes. E se é verdade que o Sporting voltou a entrar bem no reatar da partida, depois disso rapidamente os acontecimentos redundaram numa macabra previsibilidade, durante a qual a ideia mais recorrente na cabeça de cada um de nós foi "quando surgirá o golo deles"? À falta de qualidade maior, à falta de liderança, à falta de lucidez, acabámos por cair vítimas da evidente maior solidez bracarense.
Resta-me apenas destacar um último pormenor, que, não explicando tudo, diz muito sobre o nosso estado de coisas. Jesé no banco, Pedro Mendes em Lisboa. Porquê? Tivemos durante dois dias três pontas-de-lança no plantel, logo passámos para dois, e hoje Silas escolheu munir-se apenas de um, num aceno de saudosismo a um passado recente. Porquê? Perante as mais que previsíveis dificuldades, não teria dado jeito termos dois homens de área nos minutos finais? Jesé, por acaso, foi a jogo? Numa época frustrada, continuamos a investir no sub-desenvolvimento de quem não tem futuro no clube, em vez do desenvolvimento de quem tem. Porquê? Que andamos a brincar, isso parece-me óbvio.