Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

O Esférico

02
Jun20

Três Reflexões: Contas, (Re)campeonato, Alcochete

O Esférico

stromp.jpg

1 — Enraizada na cultura dos grandes clubes portugueses está a cega avidez do imediatismo. Por razões históricas, culturais, passionais, não nos é possível encarar qualquer futuro próximo sem agitar as bandeiras do império. Um dos grandes erros no Sporting tem a ver com a sua fraca cultura de auto-análise. Ninguém diz, com todas as letras, que o Sporting é hoje o 3º grande do futebol português — e isto quando não está ocupado a ser o 4º ou o 5º nos relvados.

Quando a passada se anuncia larga para tão curta perna, é natural que o embate com a realidade provoque danos irreparáveis. Aqui, instala-se o tipo de paranóia colectiva que tem assombrado o clube nas últimas décadas — entre a esperança e o desespero, entre o tudo e o nada.

Isto para dizer que os últimos resultados financeiros trimestrais do SCP são uma oportunidade. São-no porque coincidem, precisamente, com o colapso económico e autocrático do Porto, prelúdio cacofónico de fim de uma era.

Assim, o nosso primeiro objectivo estratégico para a próxima época deve ser, não um salto onírico para o trono, mas a ultrapassagem do FCP, tornada mais plausível por esta conjugação de pragas. Apenas ultrapassando primeiro um dos rivais poderemos depois ter chão para ultrapassarmos o seguinte, sem o risco de nos estatelarmos nas cinzas da depressão.

2 — Ter como base de licitação algo na ordem dos 13 milhões já é esticado para uma tela de Rembrandt, quanto mais para um treinador com dois meses de Liga. Nesse sentido, a pandemia veio ajudar Amorim, esvaziando a polémica em redor da sua escolha e dissipando o absurdo da sua cláusula. Deu tempo para arrefecer a batata que lhe entregaram, conhecer melhor o clube e adaptar o plantel às sua ideias. Com as bancadas vazias, não há nenhuma razão para que não possa fazer da época que resta a pré-época da pré-época da próxima época — com atenção aos jovens, calma, solidificação de processos e, quiçá, o bónus de tirar o título ao Benfica ou ao Porto.

3 — Num país que desespera pela neutralização das claques, o desfecho do processo de Alcochete tem todo o impacto de uma brisa crepuscular. "Prossigam, senhores", mais valia dizer. Dos mais de 40 acusados, apenas 9 cumprirão pena efectiva. Juntem-lhe a indiferença governativa, a anarquia clubística, e facilmente podemos prever mais 12 meses de facadas ao luar.

Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto foram absolvidos, por falta de provas. Em jeito típico, mal liberto do jugo judicial, e logo reconciliado com a sua paixão por voltas olímpicas aos canais de tv, BdC retornou ao modo de campanha em que vive perpetuamente, ejaculando de manipulações relativistas as frequências difusoras. Por um dia, foi 2018 outra vez.

Assim, o homem que jurou um dia querer deixar de ser sócio do SCP com efeitos imediatos deseja agora com efeitos imediatos a restituição dos seus direitos de sócio. E embandeira com grande sonsice a sua absolvição, que pretende agora colar à destituição pela calada da memória. Só lhe faltou irromper pela SAD com um guardanapo assinado por Sassá Mutema a garantir-lhe plenos poderes sobre a fazenda... Mas ninguém aqui esquece que a destituição deu-se em Junho de 2018 e a sua detenção ocorreu 5 meses depois, em Novembro. Aos sócios foi-lhes pedido que apreciassem, entre outras coisas, violações estatutárias graves, que variavam desde a usurpação de funções, à criação de órgãos sociais ilegais, passando pela convocação ilegítima de AGs, e por aí fora (coisa pouca). Em lado algum da nota de culpa se lê qualquer referência ao seu hipotético envolvimento nos ataques, ou a um processo judicial que só veio a atingi-lo meio ano depois.

Do mesmo modo, são duas coisas diferentes o estabelecimento de culpa por um acto específico em sede judicial e a sua responsabilização, enquanto líder do clube, pelo ambiente que arrasou o clube entre Fevereiro e Junho daquele ano. Resumidamente, os sócios tiraram-lhe as medidas, fartaram-se do fumo a enxofre que o seguia para todo o lado e despacharam-no de mãos na ciática de volta para a fossa.

Se BdC ainda hoje fantasia com o Sporting, nada tem a ver com lacunas processuais ou distorções no julgamento dos associados, mas sim com a sua manifesta doença mental, que o impede de conseguir dar conta de si próprio enquanto cidadão — vulgo, arranjar um trabalho, um negócio, uma esposa rica...

No seu delírio, que é infinito, considera que os mesmos sócios que já votaram três vezes a sua destituição, suspensão e expulsão, devem agora continuar a admirar a sua pessoa, discutir a sua pessoa, deliberar a sua pessoa, em sucessivas AGs para as quais são arrastados mês sim, mês não, consoante os caprichos do senhor.

Naturalmente, pelo clube são os adeptos loucos. Mas loucos não são. E BdC não voltará ao Sporting. Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais.

Por isso, senhoras e senhores, ajeitem-se no sofá, que a bola está prestes a rolar.

* Na imagem, Francisco Stromp recebe o pontapé de saída da filha do presidente do SCP Daniel Queiroz dos Santos, antes dum Benfica-Sporting, em 1916.

 
10
Fev20

Juve Leo, Organização Terrorista

O Esférico

717478.png

Diz a lei de combate ao terrorismo em vigor:

"Considera-se grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visem prejudicar a integridade e a independência nacionais, impedir, alterar ou subverter o funcionamento das instituições do Estado previstas na Constituição, forçar a autoridade pública a praticar um acto, a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, OU AINDA INTIMIDAR CERTAS PESSOAS, GRUPOS DE PESSOAS OU A POPULAÇÃO EM GERAL".

E prossegue, tipificando os actos enquadráveis no conceito, entre os quais:

"a) Crime contra a vida, a integridade física ou a liberdade das pessoas;
c) Crime de produção dolosa de perigo comum, através de [inter alia] libertação de substâncias radioactivas OU DE GASES TÓXICOS OU ASFIXIANTES, etc"

Portanto, face ao que tem sido um comportamento consistente de agressões e ameaças, que conheceu episódios como o de Alcochete, a espera no Funchal, o arremesso de tochas contra atletas do Sporting, as invasões à garagem dos jogadores, a perseguição ao plantel nas ruas de Londres, o "Alcochete sempre", a invasão de bancadas no João Rocha, as tentativas de agressão aos órgãos sociais do clube, a destruição de carros, culminando ontem nas repugnantes agressões a membros do conselho directivo do SCP (incluindo a vil humilhação de uma rapariga de 16 anos), creio ser a hora de chamarmos os bois pelos nomes. A Juve Leo cumpre hoje vários dos requisitos apensos a uma organização terrorista. A Juve Leo é uma organização terrorista. Opera em território nacional. A sua religião é o ódio. O ódio pelo clube em tudo o que difere da sua visão medieval. E os aterrorizados somos nós, adeptos sportinguistas, atletas sportinguistas, funcionários sportinguistas, dirigentes sportinguistas.

O governo tem, por isso, nas suas mãos os meios legais para uma acção musculada contra este e outros grupos. Estamos perante uma epidemia de violência que devasta todos os estádios do país. Se não age, é por manifesta falta de vontade política. Falha na mais sagrada das missões: proteger os cidadãos, punir os infractores. É desgoverno em vez de governo. Não serve.

Sejamos muito claros. O que está aqui em causa é a própria sobrevivência do SCP. Ser ou não ser, eis a questão. Tudo se resume a isso. Há anos que bato na mesma tecla. Era tudo tristemente previsível. Mas repito, ainda assim: mais urgente do que mudar o plantel é desmontar estes grupos, reconquistar a bancada sul e devolvê-la a todos nós. A mensagem que este tipo de actos envia é clara: dirigentes, sócios ou atletas, ninguém está a salvo. Por cada pontapé há uma renovação que fica em risco, por cada tocha há um reforço que não vem, por cada cuspidela há um investidor que desiste, por cada soco uma Gamebox que fica por vender. Com isto, o seu objectivo fica estabelecido: matar o clube.

Virão agora aqueles que dizem pertencer à referida claque apenas por exaltado afecto leonino. "Há muita gente decente nas claques", dizem eles. Lobos em pele de cordeiro, cuja nobreza de carácter seria melhor provada se se distanciassem de tais grupos, ao invés de fazerem tão desconchavada defesa. A cumplicidade destes, se não é material, é seguramente moral. Tal como o é a cumplicidade de toda e qualquer claque que toma como suas as dores desta súcia de fanhosos. Conheço bem a laia. Fortes com os fracos, fracos com os fortes. Selvagens em matilha, mas lacaios de brega quando sós, às ordens da avozinha que lhes faz os papos-secos com marmelada ao lanche.

Se há gente decente nestes grupos, é por eles que (também) passa a solução. Saiam, lavem-se de pecados, rompam com este esfíncter gretado em sal, este ralo de pilosidades sebosas, este joanete a céu aberto, este traque cozido atrás da barraca, este urinol clandestino de idiotas, estas excrescência de tumores purulentos, esta gonorreia contraída em fétida viela e ejaculada em antros de fake news virtuais — latrina de chapa liderada por sobas pançudos criminalmente laureados.

Quanto a Frederico Varandas, mais do que rasgar as vestes, o que deve fazer é admitir os seus erros, fazer reset ao projecto e largar os pesos mortos que tem na estrutura. Em suma, ajude-nos a ajudá-lo, por favor! Pelo Sporting, pelo bem comum. Seja humilde, rodeie-se dos melhores.

Perante isto, a vitória do Sporting cai obrigatoriamente para segundo plano. Mas também por causa disto, deu-me um gozo tremendo.

P.S.: mais de 24 horas após o sucedido, ainda não ouvi uma única palavra de solidariedade por parte de putativos candidatos e opositores. Um silêncio que vale por mil palavras. Fica registado.

16
Dez19

Devolvam a Curva Sul aos Sócios!

O Esférico

wm.jpeg

Quem tem seguido com atenção o julgamento do ataque à Academia não ficou decerto indiferente aos testemunhos dos jogadores na semana passada, onde foram descritos com minúcia granular os actos bárbaros de que foram alvo, assim como as sequelas psicológicas que ainda perduram. Se tais palavras resultaram nalguma alteração da percepção pública dos ataques, foi apenas no sentido de dar cor a um filme que, nalguns sítios, ainda se pintava de preto e branco. Não há acto redentor que possa salvar o lixo que hoje se encontra em julgamento.

Ontem, um conjunto de energúmenos de cara tapada recebeu a equipa nos Açores com o arrepiante cântico "Alcochete sempre, Alcochete sempre!" Tal canalhice não pode deixar de causar arrepios a qualquer cidadão decente, pois evoca, além do pior que o ser humano esconde em si, a impotência do Estado perante marginais que impõem aos outros uma tripla "sharia" de ameaças, coacção e paulada. Anúncios nunca faltam. Mas, em termos práticos, o que fez a tutela para estancar esta epidemia de violência? Nada. O problema só piorou. E, ante a evidência de estarmos perante autênticas máfias organizadas, atentatórias aos direitos de todos nós, a estratégia de desresponsabilização tem passado por individualizar o caso como um problema do Sporting — como se não houvesse uma hemorragia de violência nos campos de norte a sul deste país, como se não tivesse já morrido gente. Pois o que está aqui em causa é a subsistência de uma "elite" de cabecilhas que em tudo se move como um narco-estado — e que para isso conta com a colaboração de "soldados rasos", como os de ontem, os quais, em troca do trabalho sujo, se contentam com as sobras dos outros, naquilo que é, de facto, uma dinâmica de gang.

Em tribunal as coisas ficaram claras. "Tenho muito medo de que volte a acontecer", confessou Wendel. "Ainda hoje, quando jogamos, sinto ansiedade que caso as coisas não corram bem possa acontecer novamente", afirmou Bruno Fernandes. "De cada vez que o Sporting perde, fico com medo que a situação se repita", reforçou Ristovski. E de Mathieu sobrou esta ideia: "ainda hoje no final dos jogos me lembro deste episódio muito forte".

O que aconteceu ontem é uma coacção descarada à liberdade dos atletas, e uma inconcebível apologia da selvajaria. Em que estado mental terão ficado os jogadores, sabendo que poderão voltar a Lisboa para novas sessões de porrada? Mas há aqui uma motivação ainda mais tenebrosa: há gente que está, deliberadamente, a tentar acabar com o clube. Para eles, cada derrota é "dinheiro em caixa". Qualquer empresário que valha um vintém olha para isto e veta qualquer contratação — ou inflaciona os preços para níveis suicidários. Qualquer adepto normal vê isto e pensa duas vezes antes de meter os pés num estádio. Por isso, tratemos isto como aquilo que efectivamente é: uma luta pela nossa sobrevivência. Eis algumas medidas que a direcção poderia tomar:

1) Algo foi feito, mas é preciso mais. Hoje em dia há tecnologias de vídeo e reconhecimento facial que facilmente colam uma cara a um registo ou cartão de sócio. A 'entourage' das equipas desportivas do Sporting tem que estar preparada para isso, nesta altura de grandes perigos. Gritos como o de ontem são claramente motivo de banimento vitalício de toda e qualquer actividade relacionada com o clube. São um crime público, também, de incitamento à violência. Na Inglaterra, são os próprios clubes que identificam os infractores nas suas fileiras e os expulsam dos estádios. Porque não acontece isso por cá?

2) Devolvam a curva sul aos sócios! Devolvam-na às famílias, aos avós, aos netos, aos amigos. Com preços e pacotes especiais, simbolicamente, se preciso for. Vedem a venda de lugares para membros identificados de claques. Arranquem as urtigas e plantem no seu lugar uma nova e frondosa árvore de amizade e clubismo são.

3) Assumam o carácter ideológico desta batalha. Assumam uma posição clara contra as claques — quaisquer claques. Porque é a cultura de fanatismo paramilitar fomentada por aquelas que, no fundo, estamos a discutir. Estarmos, com pinças, a esmiuçar que esta é má, aquela é mais ou menos, e a outra é boazinha, apenas serve para deixar a porta entreaberta aos infractores. Acabem-se com as claques — ou crie-se uma claque oficial do clube que elimine todas as outras; uma claque única, sujeita ao escrutínio e braço disciplinar do SCP. Desde logo, não-sócios e cadastrados não poderiam integrar essa claque. O saneamento passa por regras de acessão (e participação) rígidas. Uma coisa é certa: as claques não podem auto-regular-se. Esta é a oportunidade duma vida. Impulsionemos o Sporting para o século XXI!

Mais sobre mim

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D