Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

O Esférico

02
Jun20

Três Reflexões: Contas, (Re)campeonato, Alcochete

O Esférico

stromp.jpg

1 — Enraizada na cultura dos grandes clubes portugueses está a cega avidez do imediatismo. Por razões históricas, culturais, passionais, não nos é possível encarar qualquer futuro próximo sem agitar as bandeiras do império. Um dos grandes erros no Sporting tem a ver com a sua fraca cultura de auto-análise. Ninguém diz, com todas as letras, que o Sporting é hoje o 3º grande do futebol português — e isto quando não está ocupado a ser o 4º ou o 5º nos relvados.

Quando a passada se anuncia larga para tão curta perna, é natural que o embate com a realidade provoque danos irreparáveis. Aqui, instala-se o tipo de paranóia colectiva que tem assombrado o clube nas últimas décadas — entre a esperança e o desespero, entre o tudo e o nada.

Isto para dizer que os últimos resultados financeiros trimestrais do SCP são uma oportunidade. São-no porque coincidem, precisamente, com o colapso económico e autocrático do Porto, prelúdio cacofónico de fim de uma era.

Assim, o nosso primeiro objectivo estratégico para a próxima época deve ser, não um salto onírico para o trono, mas a ultrapassagem do FCP, tornada mais plausível por esta conjugação de pragas. Apenas ultrapassando primeiro um dos rivais poderemos depois ter chão para ultrapassarmos o seguinte, sem o risco de nos estatelarmos nas cinzas da depressão.

2 — Ter como base de licitação algo na ordem dos 13 milhões já é esticado para uma tela de Rembrandt, quanto mais para um treinador com dois meses de Liga. Nesse sentido, a pandemia veio ajudar Amorim, esvaziando a polémica em redor da sua escolha e dissipando o absurdo da sua cláusula. Deu tempo para arrefecer a batata que lhe entregaram, conhecer melhor o clube e adaptar o plantel às sua ideias. Com as bancadas vazias, não há nenhuma razão para que não possa fazer da época que resta a pré-época da pré-época da próxima época — com atenção aos jovens, calma, solidificação de processos e, quiçá, o bónus de tirar o título ao Benfica ou ao Porto.

3 — Num país que desespera pela neutralização das claques, o desfecho do processo de Alcochete tem todo o impacto de uma brisa crepuscular. "Prossigam, senhores", mais valia dizer. Dos mais de 40 acusados, apenas 9 cumprirão pena efectiva. Juntem-lhe a indiferença governativa, a anarquia clubística, e facilmente podemos prever mais 12 meses de facadas ao luar.

Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto foram absolvidos, por falta de provas. Em jeito típico, mal liberto do jugo judicial, e logo reconciliado com a sua paixão por voltas olímpicas aos canais de tv, BdC retornou ao modo de campanha em que vive perpetuamente, ejaculando de manipulações relativistas as frequências difusoras. Por um dia, foi 2018 outra vez.

Assim, o homem que jurou um dia querer deixar de ser sócio do SCP com efeitos imediatos deseja agora com efeitos imediatos a restituição dos seus direitos de sócio. E embandeira com grande sonsice a sua absolvição, que pretende agora colar à destituição pela calada da memória. Só lhe faltou irromper pela SAD com um guardanapo assinado por Sassá Mutema a garantir-lhe plenos poderes sobre a fazenda... Mas ninguém aqui esquece que a destituição deu-se em Junho de 2018 e a sua detenção ocorreu 5 meses depois, em Novembro. Aos sócios foi-lhes pedido que apreciassem, entre outras coisas, violações estatutárias graves, que variavam desde a usurpação de funções, à criação de órgãos sociais ilegais, passando pela convocação ilegítima de AGs, e por aí fora (coisa pouca). Em lado algum da nota de culpa se lê qualquer referência ao seu hipotético envolvimento nos ataques, ou a um processo judicial que só veio a atingi-lo meio ano depois.

Do mesmo modo, são duas coisas diferentes o estabelecimento de culpa por um acto específico em sede judicial e a sua responsabilização, enquanto líder do clube, pelo ambiente que arrasou o clube entre Fevereiro e Junho daquele ano. Resumidamente, os sócios tiraram-lhe as medidas, fartaram-se do fumo a enxofre que o seguia para todo o lado e despacharam-no de mãos na ciática de volta para a fossa.

Se BdC ainda hoje fantasia com o Sporting, nada tem a ver com lacunas processuais ou distorções no julgamento dos associados, mas sim com a sua manifesta doença mental, que o impede de conseguir dar conta de si próprio enquanto cidadão — vulgo, arranjar um trabalho, um negócio, uma esposa rica...

No seu delírio, que é infinito, considera que os mesmos sócios que já votaram três vezes a sua destituição, suspensão e expulsão, devem agora continuar a admirar a sua pessoa, discutir a sua pessoa, deliberar a sua pessoa, em sucessivas AGs para as quais são arrastados mês sim, mês não, consoante os caprichos do senhor.

Naturalmente, pelo clube são os adeptos loucos. Mas loucos não são. E BdC não voltará ao Sporting. Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais.

Por isso, senhoras e senhores, ajeitem-se no sofá, que a bola está prestes a rolar.

* Na imagem, Francisco Stromp recebe o pontapé de saída da filha do presidente do SCP Daniel Queiroz dos Santos, antes dum Benfica-Sporting, em 1916.

 
19
Mar20

Rafael Leão Contra-Embucha

O Esférico

transferir (3).jpeg

Desde o descalabro de Alcochete, uma ideia acima de todas tem norteado a minha conduta sobre essa matéria: não tecer julgamentos de valor sobre os jogadores que estavam lá naquele dia, entre todos o mais infame da história do SCP.

Para esse posicionamento contribui a noção inatacável de que as vítimas foram os atletas — eles e a instituição. Não pessoa A, B ou C, lista D, E ou F, destituído fulano ou destituído sicrano.

A nós não nos cabe o papel de psiquiatras do diabo. Cada qual é um indivíduo singular e complexo, moldado num conjunto de idiossincrasias que o distingue dos demais. Do mesmo episódio de violência podem resultar desfechos vários, todos eles plausíveis: pânico para uns, recalcamento para outros, oportunismo para este, solidariedade para aquele, redenção aqui, recriminação acolá, traumas ou superação — e ainda "é chato", para alguns.

O grupo de jogadores que rescindiu com o clube nunca foi um grupo coerente (nem poderia sê-lo). Uns, como William ou Patrício, desde cedo pugnaram por um acordo com o Sporting. Outros regressaram e honraram a camisola. No caso de Rafael Leão, entre as razões que invocou para rescindir e a forma usurária como andou a oferecer o lombo pelos "mercados de carne" em 2018, deixou um espaço grande para o nascimento de azedumes tribais, como aqui dei conta em texto escrito a 08/08/18 (as dúvidas sobre a sua carreira não se confirmaram, mas o resto do texto permanece estranhamente actual).

Desde cedo, os especialistas viam o processo contra Leão como o mais forte do Sporting. Por não ter sido mencionado nas mensagens de Whatsapp, por não ter sido um alvo premeditado, por não ter sido directamente atacado. O seu comportamento posterior é, sobretudo, indicativo de um jovem deslumbrado e mal aconselhado, mas também contraditório naquilo que foi o seu quase regresso ao Sporting e a sua poli-traumatizada fuga do Sporting. A FIFA recusou-se a apreciar o caso, mas, num contra-golpe inesperado, o TAD veio dar razão ao SCP. Leão irá recorrer, sem dúvida, mas a chapada está dada.

Porém, ao contrário do que uns poderão pensar, esta decisão apenas vem justificar a acção atempada, quer da Comissão de Gestão, quer da SAD eleita. O Sporting pedia 45M de indemnização, o TAD decidiu-se por 16M — um terço do valor. Isto, "no caso mais forte que o Sporting tinha". E apenas chegámos a este ponto porque tanto o jogador como o Lille sempre se recusaram a negociar. Com um acordo oportuno, o clube teria provavelmente encaixado valores aproximados, mas numa altura bem mais vital.

Com recursos e contra-recursos, não é provável que o Sporting veja a cor da grana no próximo ano. Para se salvar, o Sporting precisava de liquidez para ontem, não para hoje (2 anos depois), ou para amanhã (4 anos depois). Volto a sublinhar: a acção decisiva da CG e da SAD foi o que evitou que o clube entrasse em incumprimento e acabasse na bancarrota. Isto é um mimo para o nosso orgulho, mas não muda nada.

09
Mar20

Palmadinha Psicológica // Sporting 2 Aves 0

O Esférico

Sporting-CP-x-CD-Aves.jpg

Parte do encanto das mudanças de treinadores reside na folclórica "chicotada psicológica", um safanão de poeiras que deixa toda a gente na sala aflita das alergias durante umas horas, numa agitação pulmonar que chega a ser confundida com vigor e irreverência física. Ainda que os efeitos a longo-prazo de tais mudanças sejam questionáveis, muitas vezes os efeitos imediatos cumprem o seu propósito. No SCP, por exemplo, Inácio ganhou um campeonato, Bento finalizou 05/06 no 2º lugar, Sá Pinto derrubou o Man. City e mesmo o sucinto Keizer chegou a convencer parte das bancadas de que, a partir dali, Alvalade seria uma espécie de bar aberto de onde todo os solteirões sairiam sempre de mão dada com a rainha do Carnaval ao final da noite.

Mas as "chicotadas psicológicas" raramente produzem soluções a longo-prazo. Razão pela qual fiquei, ironicamente, esperançado com o jogo de ontem. Brilhantismo, nem vê-lo. Velocidade tão pouco. Inspiração, muito menos. Tirando o resultado, três dias de Amorim não parecem ter surtido o mais pequeno efeito no futebol do Sporting. Na prática, do estado comatoso em que a equipa saiu de Famalicão, ontem o renascimento manifestou-se meramente num estertor cadavérico na cama do hospital, posto o que o corpo enfermo do nosso futebol se virou custosamente para um dos lados, fez um xixizinho na algália, queixou-se da posição da almofada e depressa regressou ao estado vegetativo original, com um 2-0 na mala e já não foi mau.

Foi, por assim dizer, uma palmadinha psicológica. Para já. Pois para Amorim o verdadeiro trabalho começa agora, na ala de psiquiatria, mais concretamente, já que o primeiro grande obstáculo a vencer é o bloqueio mental que os jogadores sentem sempre que a bola vem ter com eles, acobardados com a cobrança das bancadas, mistificados com o vazio da vida, plenamente cientes de que, no ambiente actual, uma salva de assobios no momento errado pode custar-lhes o emprego. Razão pela qual o futebol do Sporting parece equivaler-se, neste momento, a uma espécie de carrossel para menores de 6 anos, animado por uma mecânica rudimentar, cautelosa e previsível, na qual os jogadores recebem a bola, pensam nas mil e uma maneiras como a morte os poderá levar, e optam, regra geral, por desfazer-se da mesma da forma mais segura possível — o que, convenhamos, é uma dinâmica responsável para um lar de 3ª idade, mas gera poucos benefícios numa actividade que costuma laurear quem corre mais e melhor.

Do banco, Amorim assistiu, atónito, ao esfrangalhar de um clube com mais de 100 anos de vida. A sua chegada não produziu qualquer fogo-de-artifício. Mas talvez seja melhor assim. O Sporting não precisa de picos de emoção e curativos na hora. Precisa é de alguém que meta as mãos à obra e comece por remover o entulho espalhado no chão. Com um contrato longo, Amorim terá mais tempo para esse trabalho. Que remédio... Talvez estejamos a assistir à inversão dos pressupostos da "chicotada psicológica". E isso seria muito bom.

05
Mar20

Casino de Alvalade

O Esférico

img_920x519$2020_03_05_16_29_41_1671683.jpg

Desde que um tal de José Mourinho deixou Vilarinho pregado à cadeira para vir a tornar-se um mito ao serviço do Porto, a busca pelo próximo profeta do futebol nacional tem sido a principal demanda pelo Santo Graal em terras de Marcelo I. Desde então, muitos ameaçaram vestir o sagrado manto. Villas-Boas, Domingos, Conceição — sem efeito. E até um certo sr. Azenha tinha "metodologias muito semelhantes" ao profeta sadino, até o Benfica lhe despachar a carreira com um 8-1 e um lacinho. Pelo caminho, fomos todos apanhados na curva por um certo mister de juba folclórica, cujo apelido de mártir Nazareno prometia frugal carreira, mas que veio a revelar-se praga tramada para os adversários: o superlativo Jorge Jesus.

Chegados a 2020, o Sporting também julga ter encontrado o seu Santo Graal. Talvez sentindo os augúrios da lenda em formação — e escaldada pelas fugas anteriores de Mourinho e Villas-Boas —, a SAD decidiu jogar na antecipação. Amorim, O Conquistador, já não será coroado em Benfica e Porto nos próximos tempos. Resta saber se, no Sporting, não passa de Conquistador a Marreta num ápice, engolido pelo anti-ciclone de Alvalade.

Amorim tem 2 meses de treinador no 1º escalão e custa 10M aos cofres do clube. É, portanto, mais uma aposta de risco elevado para Varandas, que tem por hábito falhar nestas jogadas de casino. A lógica mandaria que Silas aguentasse o barco até Maio. Afinal, já não perseguimos qualquer título, e mudar de técnico agora acarreta o risco de estarmos a entregar um cálice envenenado ao novo incumbente. Mas lógica não é propriamente o forte desta gestão. É pesar os pressupostos austeros da época contra este investimento inédito num técnico. E agora liquidou parte da almofada que tinha para o verão e dotou, por tabela, o Braga de um orçamento de leão.

Mas é preciso ressalvar a subjectividade de tudo. Há treinadores que fazem muito com pouco (Bento era um desses), e há treinadores que fazem pouco com muito (Lopetegui, por exemplo). O plantel do Sporting não é tão mau como os números indicam. Com um dedo atencioso, há margem para melhorar. Mas mesmo o técnico mais dotado não pode trazer o paraíso à Terra se não tiver as ferramentas certas — ou se for minado pela mesma estrutura débil que orquestrou o descalabro presente.

Há também um lado mais racional na questão. Arrisca-se porque há a muda admissão de que se bateu no fundo. Joga-se com a aura transcendental que Amorim angariou em pouco tempo para reanimar o sonho. Se, por acaso, nestes 2 meses, o futebol melhora, e os resultados também, isto poderá dar o impulso para a época seguinte que de outro modo não se conseguiria. Com a justiça prestes a desabar sobre o Benfica, e o Porto em processo de bancarrota, este momento pode ser fulcral para dar um golpe de asa e virar as nossas sortes.

Amorim teve um início arrebatador ao serviço do Braga. Tragou Sporting, Benfica e Porto num ápice, escorregou na Liga Europa, mas rapidamente consolidou o 3º lugar. Tanto quanto sei, Amorim pode ser a próxima grande invenção do futebol nacional. Ninguém pode, para já, garantir o contrário. E, se assim for, a exorbitância agora investida parecerá coisa pouca daqui a um ano. O futebol é fértil em impulsos, e convém ter algum recato antes de sabermos os resultados.

Tudo o resto me parece secundário. Nada me interessa a ligação passada de Amorim ao Benfica. Nada me interessam os pruridos éticos invocados (se as regras o permitem, o SCP tem que servir-se delas para agir no que julga ser do seu superior interesse). A mim apenas me interessa que Amorim justifique os lisonjeios que tem recebido — merecidamente — de todos os lados.

05
Mar20

Pára o Baile

O Esférico

img_920x518$2020_03_05_02_49_40_1671435.jpg

O recentemente falecido Vasco Pulido Valente deixou-nos estas palavras, escritas em 2006, as quais assentam que nem uma luva aos factos ontem ocorridos:

«Na história do Apito Dourado, por exemplo, o ponto mais típico e revelador, no fundo, o ponto mais português, não é o descaramento ou o cinismo, é o tom de intimidade, às vezes, de verdadeira estima da conversa. "Ó pá, ó fulano, ó amigo", repetem os vários vigaristas com um inconfundível calor de família. E, num certo sentido, são mesmo pessoas de família, que durante anos se ajudaram, se aldrabaram ou zangaram para maior glória do futebol. Torcer uma regra ou subornar um árbitro entra numa velha rotina, que já ninguém considera estranha ou condenável.
No caso do Apito Dourado, a "escuta" abalou a tradição. Um acidente sem grande importância. Em Lisboa inteira, e suponho que em Portugal inteiro, os donos da economia, do sector público e do sector privado jantam e almoçam em público, com inteiro sossego, para trocar "informação interna" ou traficar influência. [...] Como o patriótico pessoal do futebol, também eles se conhecem: da faculdade, de uma empresa, de um governo qualquer. Pior (ou melhor) ainda: a mulher do A é cunhada do C, o filho do B casou com a sobrinha do F, e por aí fora, sempre à volta. Uma palavrinha aqui, um favorzinho ali, não lhes parece nada de extraordinário. [...] Uma sociedade pequena e pobre (e, por cima, católica) gera necessariamente corrupção. O número, o anonimato e a distância reforçam o rigor; a estreiteza, a convivência e a proximidade criam o mundo paralelo dos "compadres".»

Se há acaso feliz que decorre das novidades de ontem, esse tem a ver com a transversalidade das suspeitas. Não há argumento exculpante para o típico adepto obtuso, que por defeito vê em qualquer investigação individualizada o focinho odioso de uma obscura conspiração contra o seu clube de eleição. A malta, na miséria partilhada, torna-se mais mansa, mais convidativa à justiça. "Está bem, se tu vais ao fundo, eu também não me importo de ir", lá confessam, a esforço. Porque também o futebol português habita neste microcosmos de pulhice contagiosa, em que os seus protagonistas se infectam mutuamente de esquemas transmitidos a passou-bens no terraço do Ritz, não surpreende que o mais pequeno pontapé numa pedra revele logo, sem esforço, uma ninhada de lacraus. Para uma investigação tecida durante 5 longos anos, é natural que vá tudo na rede.

Sem surpresa, os suspeitos do costume coleccionam mais um dia em tribunal. Pinto da Costa, Vieira, Salvador, Bruno de Carvalho, Carlos Pereira, etc. Está lá a corja (quase) toda. Têm o medalheiro cheio, não é difícil imaginá-los a partilharem com os netos, galhofeiros, a história de cada acusação. "Olha, esta ganhei por causa duns chocolatinhos que ofereci a fulano... escapei-me por pouco por uma viela processual", diz um. "Esta foi quando roubei um camião. Não fosse a amnistia do doutor...", afiança outro. Previsivelmente, estão todos satisfeitíssimos por "colaborar com a justiça". Do alto do pagode, declaram-se todos inocentíssimos. Não fosse a terrível maçada das trafulhices, colaborariam com a justiça até nas horas vagas, eu sei... É como a velha história do peido: cheira mal, mas ninguém se acusa.

O nomeado-surpresa da noite foi mesmo Varandas. Por casos que, alegadamente, dizem respeito ao mandato de BdC, por fado fatal ou vontade própria, a verdade é que embarca na sua primeira "travessia do arguido". Para ele também fica a lição: não há dama que arremeta dois virtuosos passos pelo pantanal lusitano sem imediatamente ficar com os saiotes salpicados de lama. Foi a sua estreia, e talvez não seja a última.

Quanto a mim, é motivo de regozijo sempre que a justiça sacode a poeira dos manuais. Há muito que esta pocilga precisa duma varridela geral.

28
Fev20

Kebab de Leão // Basaksehir 4 Sporting 1

O Esférico

img_920x518$2020_02_27_20_42_33_1669172.jpg

 

Não estou a brincar. Ao intervalo do jogo de ontem disse a um amigo: "o que vai acontecer é que o Sporting vai marcar um golinho na 2ª parte, depois vai sofrer outro já perto do fim, vamos para prolongamento, e perdemos o jogo por 4-1 ou 5-1." Isto, palavra por palavra, ipsis verbis. Porque o repito aqui? Não para exortar hipotéticos dons proféticos, que não possuo. Mas sim para realçar a importância do conhecimento estatístico, da noção histórica do clube, das dinâmicas de (des)confiança internas, naquilo que é a formação de abordagens, instintos, percepções e estratégias para o futuro. Esta gente que hoje se senta no banco não disfarça aquilo que é: merceeiros da era do papel, de lápis na orelha e uma clamorosa ignorância sobre a cultura do SCP nos bolsos do fato de treino. Escapa-nos o ouro das mãos por isso mesmo, ano após ano.

Do mesmo modo, hoje nem precisaria de escrever qualquer artigo. Bastaria remeter para os últimos parágrafos do texto que assinei na semana passada sobre o jogo da 1ª mão. Está lá tudo, incluindo estas palavras: "O Sporting ainda vai bem a tempo de ser eliminado".

Na realidade, o Sporting perdeu a eliminatória em três momentos específicos.

Na 1ª mão, quando aos 70' decidiu repousar sobre os louros da exibição e entregou o comando da partida aos turcos.

Ontem, com a substituição de Jovane por Doumbia aos 72'. Se a entrada de Plata tinha agitado o jogo, culminando no golo de Vietto, já a introdução de um trinco para o lugar de um avançado numa altura em que o Sporting dominava (pela primeira vez) a partida — e mostrava-se mais perto do empate do que do 1-3 —, foi a cereja podre no topo do bolo de trampa.

E a entrada atabalhoada de Eduardo aos 91', durante a marcação dum canto, gerando distracção e confusão numa altura em que a equipa precisava era de foco e estabilidade. Previsivelmente, foi na sequência desse canto que surgiu o 3-1, e, embora o resultado ainda só apontasse ao prolongamento, a eliminatória morreu ali, efectivamente. Pois sem um maestro no meio-campo, com Vietto deslocado para a esquerda, e as tarefas de construção entregues aos trolhas Doumbia-Eduardo-Battaglia, era uma questão de tempo até que o Basaksehir marcasse o golo fatal. O prolongamento improdutivo do Sporting só confirmou essa ideia. Do naufrágio leonino apenas dois jogadores se safaram, agarrados, ofegantes, ao destroço flutuante do seu esfoço inglório: Acuña e Ristovski.

Já D. Silas "O Indeciso", que inicialmente apenas pecara pela pífia abordagem ao jogo, não tanto pela escolha do onze, deu uma vez mais lugar à risível figura de D. Silas Medroso, receitando, a partir do banco, mezinhas holísticas por interposta pessoa, e atirando para o relvado todos os cepos que tinha à mão, numa ode à sofisticada ideia de estancar hemorragias com baldes de cascalho.

Recuso a ideia de que o Sporting era superior a este Basaksehir — tecnicamente, dizem-me. A técnica só tem corpo quando é animada por ideias coerentes, pelo colectivo, pela lucidez estratégica. Caso contrário, é folha morta em tempestade de neve. O que os turcos não têm em virtuosismo, têm em persistência, solidariedade, conhecimento do adversário, eficácia. São, por isso, superiores a nós. Mereceram vencer. Só uma coisa me parece cruel. Levámos anos a tentar pronunciar Gençlerbirligi, e agora vamos passar outros tantos a tentar pronunciar Basaksehir. Triste sina. É tapar o nariz e aguentar até ao fim da época.

P.S.: Ontem, os tugas foram todos à viola. Não é malapata, não. É a reles competitividade do nosso campeonatozeco, onde a gula de um ou dois clubes abafa completamente todos os outros indigentes, condenados a guerrearem entre si pelas últimas raspas da malga.

21
Fev20

Pitéu Turco // Sporting 3 Basaksehir 1

O Esférico

transferir (1).jpeg

Poucas vezes me deu tanto prazer ver o Sporting esta época como no jogo de ontem. Pelo menos até aos 60', altura em que a equipa antecipou o fecho da loja, encerrou a caixa, recolheu os toldos e reuniu o staff para uma cavaqueira amena à volta da grande área de Max, deixando a concorrência facturar impunemente no lote vizinho e arrebanhar por instantes os dividendos que tinham até então pertencido exclusivamente aos leões.

O jogo em Vila do Conde — artefacto museológico hoje exibido na ala dos grandes desastres exibicionais, uma prateleira abaixo dos maiores 'hits' de Vercauteren — tinha deixado adivinhar o que aí vinha. A substituição do infrutífero Camacho por Jovane, o desmantelamento daquele enterro em forma de dupla Doumbia-Eduardo, a fuga definitiva ao cadafalso dos três centrais, táctica-trapezista que apenas tem rendido ao Sporting más aterragens.

Aproveitar a intensidade carnívora de Battaglia para sacudir a poeira e devolver Wendel (apagado, apesar de tudo) às funções de ligação intermédia, soltando Vietto atrás do ponta-de-lança, restitui ao nosso futebol pergaminhos ofensivos mais consentâneos não só com o ADN histórico do clube, mas também com as características do plantel — e os resultados foram notórios. Para isso contribuiu a presença simultânea em campo dos que são efectivamente os nossos melhores jogadores — exceptuando Mathieu — e a confiante mobilidade de Jovane (para mim o melhor em campo), cuja omnipresença no último terço permitiu também a Sporar focar-se em funções exclusivas da sua posição. O esloveno já marca, e isso é bom para consolidar o seu estatuto. Mas nem por isso a equipa escapou à calamidade da fraca eficácia, resultante de alguma falta de esclarecimento na definição do último passe/remate, esbanjamento que teve em Vietto e Sporar os seus rostos mais visíveis, não obstante os bonitos golos que ambos assinaram.

Conseguimos meter as hordas otomanas em retirada. Porém, o golo tardio de Visca — num pénalti forçado, mas também consentido pelo Sporting — garantiu ao Basaksehir o seu 'momento Dunquerque' — a esperança de terem dado um passo atrás mas ainda poderem dar dois em frente.

Foi esta displicência final do Sporting que reavivou uma eliminatória que podia ter ficado fechada ontem, tal foi a supremacia leonina. E, assim, quem se lembrar de nomes como o Rapid Viena, Casino Salzburg, Dínamo Bucareste, Grasshopper, Viking, Gençlerbirligi ou Halmstads, saberá que, na conjuntura actual do clube, um, dois, ou até três golos de vantagem podem significar pouco — e épocas como as de 90/91, 04/05 ou 11/12 têm sido estrelas raras no firmamento europeu. O Sporting ainda vai bem a tempo de ser eliminado. Pois não duvido que o Basaksehir, 2º classificado da liga turca, irá revelar a sua melhor face em casa. Para evitá-lo teremos que, no mínimo, mostrar a ambição que ontem evidenciámos durante uma hora e não retrocedermos para as folias tácticas em que o sr. Silas tem sido pródigo.

16
Fev20

O General Com Medo // Rio Ave 1 Sporting 1

O Esférico

img_920x518$2020_02_16_02_55_08_1664509.jpg

Completados 5 meses ao serviço do cçube, Silas prova categoricamente que treinar o Real Madrid ou treinar este Sporting é para ele um expediente que vai dar ao mesmo. Devagar, devagarinho, com medo, muito medinho, lá vai ele abordando os jogos, faça chuva ou faça sol, fiel à mesma míngua de ideias que caracteriza um participante da Casa dos Segredos, antítese empírica do exemplo dado por Humberto Delgado, o general sem medo para quem o gigantismo da opressão regimental só podia ser combatido olhando o adversário nos olhos. Só assim se explica a exibição execrável do Sporting, a total ausência de jogo atacante (tirando o remate-oásis de Eduardo), a solidão necrológica dos homens dianteiros (poucos, tão poucos), a inexistente criatividade nos raros momentos de posse.

Silas ainda não interiorizou uma noção quintessencial para qualquer treinador do Sporting que tenha por objectivo sobreviver no cargo por mais de meio ano: mais vale perder pontos a atacar do que perder pontos a jogar para o pontinho. Quando o Uber o larga em Alvalade ele estranha a ausência das paredes mal calafetadas do Restelo. Não o censuro pela confusão. O Sporting de 2020 é bastante parecido ao Belém de 2018. O mesmo pendor autofágico, o mesmo futebol em 2ª mão, a mesma obsessão por emprestados, a mesma equipa técnica. Mas qualquer vista de olhos mais atenta à nossa história deveria despertar Silas para as prioridades do seu consulado, entre aquilo que é tolerável para os adeptos do Sporting e o que é intolerável para os adeptos do Sporting. No topo da lista dos "intoleráveis" está, precisamente, passar 70' a jogar em estéril lateralização, inseminação abortada por dois pivôs que não constroem nada, não acrescentam nada, não garantem nada. Por isso mesmo, Silas não pode ser o treinador do Sporting na próxima época.

Mesmo tendo em conta as limitações do plantel, os castigos, as lesões e esse luto visceral por Bruno Fernandes, não pode haver desculpas para a produção do Sporting em 90' se resumir a um remate à trave. Não pode haver desculpas para sermos tão descaradamente submissos a uma equipa que nunca venceu um campeonato nacional, nunca venceu uma taça, nada. Nem que seja porque o Sporting entrou ontem em campo com seis internacionais AA, contra dois do Rio Ave.

O jogo de ontem foi, assim, um pedido de ajuda. Uma tentativa de suicídio ao ralenti, feita em público, sob o olhar atento dos bombeiros. E, se dúvidas existissem, terá servido de guia de marcha para uma série de jogadores. A começar por Borja, o único jogador do planeta que consegue perder três bolas numa única posse. Ou Wendel, o equivalente low-cost de um Pogba: engenhoso, talentoso, mas totalmente desprovido de mentalidade competitiva — não há pretensão ao título de campeão que resista a um protagonista com tamanha falta de fibra vencedora. Algo desacompanhado, é certo; perdido nos abismos milenares que o separavam da dupla Eduardo-Doumbia (Battaglia no banco?), não tem, porém, o impulso de vir procurar jogo atrás. O eclipse foi tão completo que o meu dedo já teclava o número da polícia, para dá-lo como pessoa desaparecida, quando o brasileiro emergiu dos vapores tísicos da equipa para desmarcar o fantasma de Jordão, lá no deserto relvado onde apenas a morte de ideias estava presente.

Assim, Silas persistiu no erro até aos 71', altura em que Coates é expulso e pulverizam-se quaisquer hipóteses de alterações substanciais. E depois há Sporar, homem-ilhéu no naufrágio. 4 jogos, 0 golos. O pior início possível para alguém que precisava de começar bem para dissipar as dúvidas. Sporar é mais vítima do que réu, é certo, pois a moda dos avançados figurantes já vem de trás, quando Keizer decidiu fazer de Bas Dost uma espécie de farol solitário em alto mar, por quem os barcos passam com indiferença e um aceno triste. Desta soma de misérias sobra apenas Maximiano, mais uma vez o melhor da equipa.

Com tantos erros de casting, o empate acaba mesmo por assumir tonalidades milagreiras, um bálsamo inesperado para a nossa leonina comichão, arrancado literalmente do céu pela persistência de Bolasie. Jovane assumiu, não falhou, e deu com isso um sinal de confiança e vontade que lhe deverão garantir a titularidade nos próximos jogos.

Agora, nas semanas seguintes, iremos assistir a uma tendência interessante. O foco do descontentamento popular irá transitar gradualmente da direcção para o treinador. Se em teoria isto aponta para a culpabilização do técnico pela má época, não é de todo o que significa. Significa tão somente que, para os adeptos, o preço de fazer cair uma direcção desapontante é demasiado elevado, tendo em conta as forças do caos que se perfilam para lhe tomar o lugar. Trocando por miúdos, FV tem o seu lugar cada vez mais garantido até à próxima época.

11
Fev20

Para Um Sporting Indivisível Temos Que Assumir a Sua Divisão

O Esférico

large.jpg

Sobre a ideia da indivisibilidade do Sporting, tenho-a aflorado ocasionalmente nesta página — e com mais insistência desde os trágicos acontecimentos de 2018. Se já a tinha formada na cabeça, os últimos desenvolvimentos serviram para cristalizar os seus aspectos mais prementes.

Para o bem e para o mal, um novo clube saiu do verão desse ano. A ideia de um SCP policromático, casa de diversas sensibilidades e correntes, foi estilhaçada pela emergência de duas grandes facções conflituantes: uma pela restauração de uma certa decência histórica, outra pelo populismo. Nos dois anos subsequentes houve muito quem acalentasse, em vão, a ilusão de um clube reunificado, revivalismo moderno de uma era passada. Essa ilusão não só provou ser descabida, como se viu desarmada pela realidade, e tende a agudizar-se com a decisão (correcta) de negar a AG destitutiva e com o agravamento dos resultados até final da época.

O Sporting que uns dizem amar não é o Sporting que nós amamos. E para que o Sporting que eles dizem amar exista, este Sporting tem que morrer. Ou é como eles querem ou não há Sporting para ninguém. É esse o mantra, e não será derrotado com meias medidas.

Não escapa às observações de ninguém que os maiores focos de desestabilização se concentram na curva sul. Ora, o que abunda na mesma bancada? Claques. É portanto justo assumir que muitos destes adeptos têm ligações, afinidades ou proximidade com as claques. Mas, mais do que claques, impera ali uma mitologia. A mitologia da força sobre a lei, do futebol tribal, do ódio clubístico, da supremacia de um sportinguismo sobre outro.

Assim, temos de considerar a seguinte pergunta: o que mais pretende esta categoria de pessoas? De um modo geral, viver o Sporting como uma transmissão ininterrupta do "Pé Em Riste". Celeumas, indignações, contra-comunicados, golpes de teatro, murros na mesa, e também — algo comum a todos nós — golos na baliza. Muitos deles identificam esse modo de estar com o presidente destituído, outros com putativos candidatos, mas quase todos vêem desde o primeiro minuto Frederico Varandas como o principal obstáculo a esse devir. Há aqui um desequilíbrio químico com aspectos de toxicodependência.

Como podemos então desmantelar este 'pathos'? Não através de purgas anti-democráticas, mas sim de formas legítimas que permitam concretizar os mesmos objectivos. Para esta receita são necessários, sobretudo, dois ingredientes: astúcia e paciência. Não podemos fechar a bancada a quem comprou Gamebox, mas podemos preparar os próximos passos para dissolver a presença desses elementos naquele sector. Pois aquele sector — no estádio como no pavilhão — é para eles o sítio onde bate o coração desse sectarismo. Podemos e devemos considerar uma claque oficial em detrimento de todas as outras. Podemos e devemos expulsar as claques problemáticas, e pegar nas que não o são para um diálogo interno sobre o futuro unívoco dos GOA sob a alçada jurisdicional do clube. Não podemos alimentar a retórica radical com mais retórica radical, mas podemos neutralizar essas paixões com um comportamento ponderado e condigno. Não menos importante, o presidente deve rodear-se de pessoas capazes de quantificar em alma e feitos os sonhos dos sportinguistas. É esta a morte por mil golpes que recomendo para acabar com esta Hidra.

O corte terá de ser profundo e limpo. Mas, com as medidas certas, poderemos dar azo a uma espécie de selecção natural. Desprovidos da 'droga' que lhes alimenta a festa, esses elementos serão confrontados com duas opções: reunirem-se a nós na bancada como adeptos normais, ou afastarem-se do clube de vez. Seja como for, a dissolução estará alcançada, a cisão concretizada.

Quando há duas mentalidades inconciliáveis, manda a razão que se assuma a guerra em todo o seu horror. Chegámos a esse ponto. E, numa guerra, só pode haver um vencedor. Pugnemos então para que sobreviva a ordem, não a anarquia.

Possivelmente, teremos que conformar-nos em prosseguir feridos na nossa base popular, enfraquecidos, diminuídos — pelo menos durante um período. Porém, o que pode parecer fraqueza a uns, é na realidade força. O que poucos fazem em união, muito não fazem em divisão.

A performance de FV na entrevista à TVI pareceu-me das mais sólidas do seu mandato. Não obstante, quando confrontado com a real natureza das divisões no clube, chutou para canto, remetendo para as direcções dos GOA o ónus da culpabilidade, e recusando as razões da fracturação interna do clube, que tem como uma das suas raízes a criação das claques — primeiro uma, depois muitas. Até à data, ninguém desta SAD soube ainda identificar os verdadeiros motivos da decadência acentuada do clube. E isso preocupa-me.

10
Fev20

Juve Leo, Organização Terrorista

O Esférico

717478.png

Diz a lei de combate ao terrorismo em vigor:

"Considera-se grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visem prejudicar a integridade e a independência nacionais, impedir, alterar ou subverter o funcionamento das instituições do Estado previstas na Constituição, forçar a autoridade pública a praticar um acto, a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, OU AINDA INTIMIDAR CERTAS PESSOAS, GRUPOS DE PESSOAS OU A POPULAÇÃO EM GERAL".

E prossegue, tipificando os actos enquadráveis no conceito, entre os quais:

"a) Crime contra a vida, a integridade física ou a liberdade das pessoas;
c) Crime de produção dolosa de perigo comum, através de [inter alia] libertação de substâncias radioactivas OU DE GASES TÓXICOS OU ASFIXIANTES, etc"

Portanto, face ao que tem sido um comportamento consistente de agressões e ameaças, que conheceu episódios como o de Alcochete, a espera no Funchal, o arremesso de tochas contra atletas do Sporting, as invasões à garagem dos jogadores, a perseguição ao plantel nas ruas de Londres, o "Alcochete sempre", a invasão de bancadas no João Rocha, as tentativas de agressão aos órgãos sociais do clube, a destruição de carros, culminando ontem nas repugnantes agressões a membros do conselho directivo do SCP (incluindo a vil humilhação de uma rapariga de 16 anos), creio ser a hora de chamarmos os bois pelos nomes. A Juve Leo cumpre hoje vários dos requisitos apensos a uma organização terrorista. A Juve Leo é uma organização terrorista. Opera em território nacional. A sua religião é o ódio. O ódio pelo clube em tudo o que difere da sua visão medieval. E os aterrorizados somos nós, adeptos sportinguistas, atletas sportinguistas, funcionários sportinguistas, dirigentes sportinguistas.

O governo tem, por isso, nas suas mãos os meios legais para uma acção musculada contra este e outros grupos. Estamos perante uma epidemia de violência que devasta todos os estádios do país. Se não age, é por manifesta falta de vontade política. Falha na mais sagrada das missões: proteger os cidadãos, punir os infractores. É desgoverno em vez de governo. Não serve.

Sejamos muito claros. O que está aqui em causa é a própria sobrevivência do SCP. Ser ou não ser, eis a questão. Tudo se resume a isso. Há anos que bato na mesma tecla. Era tudo tristemente previsível. Mas repito, ainda assim: mais urgente do que mudar o plantel é desmontar estes grupos, reconquistar a bancada sul e devolvê-la a todos nós. A mensagem que este tipo de actos envia é clara: dirigentes, sócios ou atletas, ninguém está a salvo. Por cada pontapé há uma renovação que fica em risco, por cada tocha há um reforço que não vem, por cada cuspidela há um investidor que desiste, por cada soco uma Gamebox que fica por vender. Com isto, o seu objectivo fica estabelecido: matar o clube.

Virão agora aqueles que dizem pertencer à referida claque apenas por exaltado afecto leonino. "Há muita gente decente nas claques", dizem eles. Lobos em pele de cordeiro, cuja nobreza de carácter seria melhor provada se se distanciassem de tais grupos, ao invés de fazerem tão desconchavada defesa. A cumplicidade destes, se não é material, é seguramente moral. Tal como o é a cumplicidade de toda e qualquer claque que toma como suas as dores desta súcia de fanhosos. Conheço bem a laia. Fortes com os fracos, fracos com os fortes. Selvagens em matilha, mas lacaios de brega quando sós, às ordens da avozinha que lhes faz os papos-secos com marmelada ao lanche.

Se há gente decente nestes grupos, é por eles que (também) passa a solução. Saiam, lavem-se de pecados, rompam com este esfíncter gretado em sal, este ralo de pilosidades sebosas, este joanete a céu aberto, este traque cozido atrás da barraca, este urinol clandestino de idiotas, estas excrescência de tumores purulentos, esta gonorreia contraída em fétida viela e ejaculada em antros de fake news virtuais — latrina de chapa liderada por sobas pançudos criminalmente laureados.

Quanto a Frederico Varandas, mais do que rasgar as vestes, o que deve fazer é admitir os seus erros, fazer reset ao projecto e largar os pesos mortos que tem na estrutura. Em suma, ajude-nos a ajudá-lo, por favor! Pelo Sporting, pelo bem comum. Seja humilde, rodeie-se dos melhores.

Perante isto, a vitória do Sporting cai obrigatoriamente para segundo plano. Mas também por causa disto, deu-me um gozo tremendo.

P.S.: mais de 24 horas após o sucedido, ainda não ouvi uma única palavra de solidariedade por parte de putativos candidatos e opositores. Um silêncio que vale por mil palavras. Fica registado.

Mais sobre mim

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D