Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

O Esférico

17
Jun20

O "Comandante" Weigl

O Esférico

wdia_grande (1).jpg

 

É nítido que os jornais desportivos hoje mais não são que "moços de recados" dos gabinetes de comunicação dos grandes clubes. Em suma, um desperdício de tempo e dinheiro.

Sem qualquer pudor que lhe acuda, o jornal "A Bola" assume-se orgulhosamente como o fiel escudeiro desse viveiro de suspeitas a que ainda hoje chamamos, piedosamente, Benfica.

Weigl foi propalado como o grande sucesso de bilheteira de Janeiro. Para não destoar, o Benfica desembolsou uns exorbitantes 20M pelo petiz.

Não posso deixar de notar, contudo, que desde a chegada do alemão os resultados do Benfica têm caído a pique. Se, numa primeira fase, o Benfica acumulara 20 vitórias, 4 empates e 4 derrotas, após a entrada do ex-Dortmund os registos estancaram numas agonizantes 7 vitórias, 6 empates e 3 derrotas. Pré-Weigl: 2.28 pontos por jogo. Pós-Weigl: 1.68 pontos por jogo.

Algo não correu bem nos cálculos. E, a julgar pelos resultados, o contabilista da obra foi o mesmo que arquitectou o saudoso RDT.

A opinião dum Sportinguista confesso é uma coisa. Mas acontece que este pormenor não escapou ao, por estes dias, olhar cortante dos adeptos encarnados, que não se furtaram a mencionar esse facto, não obstante as odes marítimas trauteadas à ceia pelo despreocupado Lage.

Por isso mesmo, com a devida diligência, os amigos de "A Bola" dedicam hoje a sua primeira página à nobre arte de polir nabos. É preciso relembrar que, melhor do que ganhar jogos, o que importa é que o sr. 20 milhões pegou no "comando" do navio — mesmo que o navio seja uma chalupa em naufrágio acelerado.

13
Jun20

Um Jovane No Deserto // Sporting 1 P. Ferreira 0

O Esférico

41.jpg

É possível que Amorim saiba algo sobre o futuro de Mathieu que nós não sabemos. Ou que o véu do balneário oculte delitos que os olhos não vêem. Encostar o melhor defesa do Sporting para vincar a sua autoridade seria sempre uma opção controversa. Mas, na sua própria lógica retorcida, traz um grãozinho de sanidade ao planeamento da próxima época.

Mathieu é um dos melhores centrais que já passou pelo clube. É, para mim, o melhor a actuar hoje no país. Um elemento vital na equipa. Estes são factos que não nos oferecem contestação. Mas não formam a imagem completa do activo. Pois é precisamente a sua importância que o torna um elemento desestabilizador. Desde que chegou ao clube, o francês perdeu 29 jogos por lesão, equivalentes a 5 meses de paragem. Perdeu mais, na realidade, porque a sua condição obriga a que seja poupado frequentemente. No total, Mathieu tem uma taxa de ausência na ordem dos 25% no campeonato — um quarto dos jogos. Comparativamente, Coates não totaliza sequer 3 meses de paragem em 4 temporadas de leão ao peito. A defesa é montada em redor de Mathieu, naturalmente. Mas, devido a esta irregularidade, não consegue jamais atingir a estabilidade ideal. Caminha sobre brasas, entre o medo de não contar com o seu líder e a euforia de contar com ele. Muitos dos nossos problemas defensivos explicam-se nestes termos, por paradoxal que seja.

Amorim até pode ter comprado uma guerra inútil (não sabemos). Mas, ao fazê-lo, está também a apontar o caminho para o futuro. O Sporting tem que começar a olhar além de Mathieu.

Vietto é outro jogador na mesma linha. Um craque puro, visionário, elegante. Mas falta-lhe intensidade, fôlego, dimensão física, consequência. Quando está em campo — como ontem — traz ideias a um conjunto vegetativo. Quando se ausenta — como muitas vezes sucede — o rendimento da equipa cai na lama.

Enquanto o Sporting tiver estes como as suas referências, e as suas referências forem mera matéria fátua, o clube jamais poderá orquestrar um ataque credível ao título.

E é preciso falar sobre estas questões do futuro, porque nos é impossível falar sobre o jogo de ontem com conversa de gente, tão pobre foi. Pese todo o colorido táctico que se tentou emprestar à equipa, a verdade é que um jogo que servia para nos aliviar as dores da pandemia, acabou por relembrar-nos, de forma brutal, que este continua a ser o mesmo Sporting que está a 17 pontos do líder, que disputou meia época com um ponta-de-lança no plantel, que levou 4-1 do Basaksehir, que foi eliminado pelo Alverca, que contratou Jesé, que vai no seu 4º treinador esta época e que continua a socorrer-se de tipos como Borja ou Eduardo.

A exibição de ontem é consequência desta mantinha de desvarios. Nesse sentido, a vitória só poderia mesmo fazer-se por imaculada concepção, cortesia de Jovane, que, de coisa nenhuma, fez um golo que é tudo. De resto, tirando as arrancadas do cabo-verdiano, um par de defesas de Max, o acerto dos centrais, o voluntarismo de Acuña, e uma ou outra incursão de Wendel, não se aproveitou nada nem ninguém. Mas é na pré-época que se fazem experiências. E nunca a Liga me pareceu tanto uma pré-época oficial como agora.

11
Jun20

A Comunidade Científica Que Investigue

O Esférico

20200611_034433.jpg

 

A teoria da relatividade assume comportamentos bizarros nos jogos do Benfica e deveria, por si só, suscitar a preocupação da comunidade científica.

Entre o jogo da semana passada e o jogo de ontem em Portimão jogaram-se 17 minutos de tempo suplementar — 7' num e 10' noutro.

Assim à vista desarmada parece-me que há uma anomalia no eixo resultado-tempo que gravita à volta dos encarnados, na medida em que o tempo encolhe ou dilata-se consoante o resultado no marcador.

Resultados negativos parecem ter o efeito de dilatar os descontos e o número de remates para o ar de Dyego Sousa. Resultados positivos parecem ter o efeito de encurtá-los (como aconteceu nos últimos triunfos do Benfica — nos distantes tempos de D. Dinis — frente a Gil Vicente e Belenenses, em que os descontos se ficaram por uns austeros 4 minutos).

É estranho como a percepção das paragens do jogo se torna muito mais minuciosa nuns casos do que noutros.

Temo que, no futuro, uma eventual desvantagem no marcador implique mais 15 ou 20 minutos do imperdível espectáculo de Bruno Lage a contemplar, de mãos nos bolsos e olhar mortiço, a bainha do seu fato de treino Lacatoni.

É que a este ritmo de desaires o Benfica é capaz de chegar ao final da época com mais dois jogos inteirinhos nas pernas do que os restantes rivais — uma grave discriminação cronológica.

Entretanto, enquanto Vieira e Lage foram de mãos dadas ver o mar — quiçá em busca dum caminho marítimo para o Seixal desprovido de viadutos —, o líder encarnado conseguiu completar mais 24 horas sem pronunciar as palavras "claques" ou "No Name Boys" — um feito assinalável, dadas as circunstâncias.

06
Jun20

O Seráfico Benfiquista

O Esférico

weigl-zivkovic-benfica-new.jpg

 

Deve ser uma felicidade ser do Benfica — uma das raras bênçãos desta vida. Imagino eu, que vivo do lado de cá do inferno uma existência abjecta, poluta, imoral e servil. Por acaso sou do Sporting, mas, para tamanha indigência espiritual, tanto faria que fosse do Porto, do Tondela ou do Farense — era igual.

Nós, vencidos do clubismo, olhamos de olhos esbugalhados e carentes para esse oásis de virtudes nos antípodas de Lisboa, muito como um sem-abrigo espreita o caviar dos ricos pela vitrine panorâmica do Ritz.

Invejamos esses píncaros de grandeza, cobiçamos essas iguarias de altivez. Enquanto reviramos os escombros da nossa miséria, imaginamos, ansiosos, como seriam as nossas vidinhas se vivêssemos todos nessa 'penthouse' de probidade em que os ditosos lampiões habitam. Como seriam se habitássemos esse mundo mágico, onde os adeptos se multiplicam mais rápido do que a taxa de natalidade mundial, os fetos nascem com superagentes, as investigações evaporam-se nos misteriosos bosques da justiça, os jornais ungem-nos diariamente dos mais doces encómios e os nossos beiços se banham perpetuamente em inesgotáveis fontes de óleo-de-courato...

Uma das grandes vantagens do Benfica, por exemplo, é não ter claques. Nunca tiveram. Dúvidas? Quem o diz, categoricamente, é Luís Filipe Vieira, o líder encarnado. "Claques? Nunca soube que o Benfica tinha claques". O que é extremamente vantajoso, convenhamos. Enquanto outros lidam com catástrofes animais como a de Alcochete, os benfiquistas podem, por exemplo, canalizar todos os seus esforços para a produção em massa de vouchers beneficentes (outra regalia do associativismo encarnado) ou passes VIP para as classes desfavorecidas de directores da PJ e juízes da Relação.

Quem, na absurda tentação de argumentar pela paz desportiva, não foi já interrompido por um benfiquista que, emergindo elasticamente de trás do seu impenetrável muro ético, nos esmaga com este xeque-mate heróico: "ao menos nós não temos Alcochetes!"? Como é bom ser do Benfica! Despreocupadamente, levianamente, altaneiramente do Benfica!

Mas, por detrás de todo o ecossistema celeste, espreitam perigos — como um corpo seráfico sem defesas bacterianas.

Tremo então só de imaginar o que seria se um grupo de malfeitores atacasse o autocarro da equipa com tijolos de betão densos como o Isaías. Isso seria tremendamente embaraçoso, quando o nobre líder já confirmou a inexistência de tais pessoas. Com alívio, portanto, os benfiquistas não têm que temer que os seus ídolos sejam hospitalizados com vidros nos olhos, ou que os líderes da equipa vejam as suas casas vandalizadas com ameaças em plena luta pelo título... Ainda assim, admito que não seria nada recomendável que a UEFA fechasse o Estádio da Luz pelo comportamento de claques ilegais a quem se desse apoio logístico em todos os jogos... E seria um tudo nada intrigante — confesso — que um clube visse o seu estádio interditado pela FPF depois de anos a encobrir grupos que — graças a Deus — não existem! Tal como não faria sentido mostrar surpresa quando uma claque que nós próprios declarámos extinta andasse por aí a atropelar, esfaquear, pontapear e emboscar adeptos de outros clubes, em virtude da cobertura clandestina que lhe prestámos ao longo dos tempos... Certo, seria chato, um tudo nada incómodo, admito, e um pesadelo de relações públicas internacional...

Sim, tudo isso seria uma pena, uma terrível e fatal ironia. E — quase me atrevo a dizer — motivo para demissão colectiva e humilhação generalizada.

Felizmente, não há quaisquer indícios de que tal esteja para acontecer. O Benfica não tem hoje, nem nunca teve, claques. O que aconteceu nunca aconteceu. E, assim, o seráfico adepto benfiquista pode prosseguir a vida, confortavelmente embalado nos braços da grã-ventura.

05
Jun20

Futebol de Origem // V. Guimarães 2 Sporting 2

O Esférico

1024.jpeg

Foi virado do avesso que o campeonato português regressou, aturdido por três meses de pandemia, recortes de violência extra-relvados, guerras intestinas nos bastidores e ecos de distopia nas bancadas nuas. Quem poderia adivinhar, após cinco jogos de retoma, que os únicos vencedores seriam, não Sporting, Benfica ou Porto, mas Famalicão e o aflito Portimonense? A ordem do futebol colapsou. O mundo está ao contrário.

Nesse sentido, a sabedoria convencional saiu de campo tão desconchavada como tudo o resto. Durante semanas, ouvimos todos dizer que futebol sem adeptos não fazia sentido. Que a retoma da Liga era uma loucura. Que jogar após tão longa paragem seria impossível. Mas o apito soou, a bola rolou, e quando isso sucedeu só ficou no ar a alegria dos jogadores e o entusiasmo dos adeptos, cada qual no seu poleiro. O futebol aconteceu, como num pelado escolar, reduzido à mais pura expressão de movimento, camaradagem e competição. Sem ruído, sem distracções, sem truques de circo, as figuras tristes ficaram para aqueles que, de fora, reclamam sobre a modalidade uma autoridade desproporcionada — prova de que o mal do desporto não jaz nos seus executantes, como tantas vezes no-lo querem fazer crer, mas sim na economia de bajuladores que vivem da poeira que eles próprios levantam: presidentes, empresários, comentadores, claques.

Para o Sporting, regressar aos relvados nestas circunstâncias constituiu uma novidade refrescante. Sem a Juve Leo no topo sul a amolar as navalhas desde o 1º minuto, e sem a turba vimaranense a proporcionar a habitual salva de cadeiras e escarretas, o colectivo leonino entrou em campo ligeiramente encandeado pela nudez insólita de tudo, por instantes confuso com as dimensões gigantescas que a bola — e apenas a bola — tomou perante um mundo em retirada.

Ainda assim, passado o bluff inicial do adversário, o futebol dos leões oscilou sempre entre o matreiro e o ponderado, o sábio e o distraído, com alguns momentos de entendimento promissor, embalado por uma condição física invejável para quem reduzira a sua actividade física, nos últimos dois meses, a um regime de viagens achineladas entre o frigorífico e o bidé.

Se o Sporting titubeou, o mesmo se deveu a pecados como o egoísmo juvenil de alguns homens dianteiros, cerimónia defensiva ou o estranho vírus que tem afectado os guarda-redes — de todos os intervenientes os mais estáticos, e talvez por isso os mais susceptíveis a inalarem a apatia que soprava do lado das bancadas.

Falhas, mas falhas perfeitamente entendíveis à luz das circunstâncias, e, não obstante, insuficientes para ensombrarem a afirmação inequívoca de Sporar, as estreias positivas de Quaresma e Matheus, ou a exibição fulminante de Jovane.

Para quem esperava que o futebol fosse hoje uma coisa diferente, a surpresa deverá ser como este tem a capacidade de sobreviver nos cenários mais improváveis, e a forma como estamos a reaprender a apreciá-lo à luz dos seus pergaminhos originais.

Já para o Sporting, este ambiente de pré-época era exactamente o que faltava a um clube a precisar de pacificação e um treinador a precisar de tempo para reordenar prioridades antes de uma época seguinte que será inevitavelmente moldada à imagem das restrições emergentes.

02
Jun20

Três Reflexões: Contas, (Re)campeonato, Alcochete

O Esférico

stromp.jpg

1 — Enraizada na cultura dos grandes clubes portugueses está a cega avidez do imediatismo. Por razões históricas, culturais, passionais, não nos é possível encarar qualquer futuro próximo sem agitar as bandeiras do império. Um dos grandes erros no Sporting tem a ver com a sua fraca cultura de auto-análise. Ninguém diz, com todas as letras, que o Sporting é hoje o 3º grande do futebol português — e isto quando não está ocupado a ser o 4º ou o 5º nos relvados.

Quando a passada se anuncia larga para tão curta perna, é natural que o embate com a realidade provoque danos irreparáveis. Aqui, instala-se o tipo de paranóia colectiva que tem assombrado o clube nas últimas décadas — entre a esperança e o desespero, entre o tudo e o nada.

Isto para dizer que os últimos resultados financeiros trimestrais do SCP são uma oportunidade. São-no porque coincidem, precisamente, com o colapso económico e autocrático do Porto, prelúdio cacofónico de fim de uma era.

Assim, o nosso primeiro objectivo estratégico para a próxima época deve ser, não um salto onírico para o trono, mas a ultrapassagem do FCP, tornada mais plausível por esta conjugação de pragas. Apenas ultrapassando primeiro um dos rivais poderemos depois ter chão para ultrapassarmos o seguinte, sem o risco de nos estatelarmos nas cinzas da depressão.

2 — Ter como base de licitação algo na ordem dos 13 milhões já é esticado para uma tela de Rembrandt, quanto mais para um treinador com dois meses de Liga. Nesse sentido, a pandemia veio ajudar Amorim, esvaziando a polémica em redor da sua escolha e dissipando o absurdo da sua cláusula. Deu tempo para arrefecer a batata que lhe entregaram, conhecer melhor o clube e adaptar o plantel às sua ideias. Com as bancadas vazias, não há nenhuma razão para que não possa fazer da época que resta a pré-época da pré-época da próxima época — com atenção aos jovens, calma, solidificação de processos e, quiçá, o bónus de tirar o título ao Benfica ou ao Porto.

3 — Num país que desespera pela neutralização das claques, o desfecho do processo de Alcochete tem todo o impacto de uma brisa crepuscular. "Prossigam, senhores", mais valia dizer. Dos mais de 40 acusados, apenas 9 cumprirão pena efectiva. Juntem-lhe a indiferença governativa, a anarquia clubística, e facilmente podemos prever mais 12 meses de facadas ao luar.

Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto foram absolvidos, por falta de provas. Em jeito típico, mal liberto do jugo judicial, e logo reconciliado com a sua paixão por voltas olímpicas aos canais de tv, BdC retornou ao modo de campanha em que vive perpetuamente, ejaculando de manipulações relativistas as frequências difusoras. Por um dia, foi 2018 outra vez.

Assim, o homem que jurou um dia querer deixar de ser sócio do SCP com efeitos imediatos deseja agora com efeitos imediatos a restituição dos seus direitos de sócio. E embandeira com grande sonsice a sua absolvição, que pretende agora colar à destituição pela calada da memória. Só lhe faltou irromper pela SAD com um guardanapo assinado por Sassá Mutema a garantir-lhe plenos poderes sobre a fazenda... Mas ninguém aqui esquece que a destituição deu-se em Junho de 2018 e a sua detenção ocorreu 5 meses depois, em Novembro. Aos sócios foi-lhes pedido que apreciassem, entre outras coisas, violações estatutárias graves, que variavam desde a usurpação de funções, à criação de órgãos sociais ilegais, passando pela convocação ilegítima de AGs, e por aí fora (coisa pouca). Em lado algum da nota de culpa se lê qualquer referência ao seu hipotético envolvimento nos ataques, ou a um processo judicial que só veio a atingi-lo meio ano depois.

Do mesmo modo, são duas coisas diferentes o estabelecimento de culpa por um acto específico em sede judicial e a sua responsabilização, enquanto líder do clube, pelo ambiente que arrasou o clube entre Fevereiro e Junho daquele ano. Resumidamente, os sócios tiraram-lhe as medidas, fartaram-se do fumo a enxofre que o seguia para todo o lado e despacharam-no de mãos na ciática de volta para a fossa.

Se BdC ainda hoje fantasia com o Sporting, nada tem a ver com lacunas processuais ou distorções no julgamento dos associados, mas sim com a sua manifesta doença mental, que o impede de conseguir dar conta de si próprio enquanto cidadão — vulgo, arranjar um trabalho, um negócio, uma esposa rica...

No seu delírio, que é infinito, considera que os mesmos sócios que já votaram três vezes a sua destituição, suspensão e expulsão, devem agora continuar a admirar a sua pessoa, discutir a sua pessoa, deliberar a sua pessoa, em sucessivas AGs para as quais são arrastados mês sim, mês não, consoante os caprichos do senhor.

Naturalmente, pelo clube são os adeptos loucos. Mas loucos não são. E BdC não voltará ao Sporting. Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais.

Por isso, senhoras e senhores, ajeitem-se no sofá, que a bola está prestes a rolar.

* Na imagem, Francisco Stromp recebe o pontapé de saída da filha do presidente do SCP Daniel Queiroz dos Santos, antes dum Benfica-Sporting, em 1916.

 
19
Mar20

Rafael Leão Contra-Embucha

O Esférico

transferir (3).jpeg

Desde o descalabro de Alcochete, uma ideia acima de todas tem norteado a minha conduta sobre essa matéria: não tecer julgamentos de valor sobre os jogadores que estavam lá naquele dia, entre todos o mais infame da história do SCP.

Para esse posicionamento contribui a noção inatacável de que as vítimas foram os atletas — eles e a instituição. Não pessoa A, B ou C, lista D, E ou F, destituído fulano ou destituído sicrano.

A nós não nos cabe o papel de psiquiatras do diabo. Cada qual é um indivíduo singular e complexo, moldado num conjunto de idiossincrasias que o distingue dos demais. Do mesmo episódio de violência podem resultar desfechos vários, todos eles plausíveis: pânico para uns, recalcamento para outros, oportunismo para este, solidariedade para aquele, redenção aqui, recriminação acolá, traumas ou superação — e ainda "é chato", para alguns.

O grupo de jogadores que rescindiu com o clube nunca foi um grupo coerente (nem poderia sê-lo). Uns, como William ou Patrício, desde cedo pugnaram por um acordo com o Sporting. Outros regressaram e honraram a camisola. No caso de Rafael Leão, entre as razões que invocou para rescindir e a forma usurária como andou a oferecer o lombo pelos "mercados de carne" em 2018, deixou um espaço grande para o nascimento de azedumes tribais, como aqui dei conta em texto escrito a 08/08/18 (as dúvidas sobre a sua carreira não se confirmaram, mas o resto do texto permanece estranhamente actual).

Desde cedo, os especialistas viam o processo contra Leão como o mais forte do Sporting. Por não ter sido mencionado nas mensagens de Whatsapp, por não ter sido um alvo premeditado, por não ter sido directamente atacado. O seu comportamento posterior é, sobretudo, indicativo de um jovem deslumbrado e mal aconselhado, mas também contraditório naquilo que foi o seu quase regresso ao Sporting e a sua poli-traumatizada fuga do Sporting. A FIFA recusou-se a apreciar o caso, mas, num contra-golpe inesperado, o TAD veio dar razão ao SCP. Leão irá recorrer, sem dúvida, mas a chapada está dada.

Porém, ao contrário do que uns poderão pensar, esta decisão apenas vem justificar a acção atempada, quer da Comissão de Gestão, quer da SAD eleita. O Sporting pedia 45M de indemnização, o TAD decidiu-se por 16M — um terço do valor. Isto, "no caso mais forte que o Sporting tinha". E apenas chegámos a este ponto porque tanto o jogador como o Lille sempre se recusaram a negociar. Com um acordo oportuno, o clube teria provavelmente encaixado valores aproximados, mas numa altura bem mais vital.

Com recursos e contra-recursos, não é provável que o Sporting veja a cor da grana no próximo ano. Para se salvar, o Sporting precisava de liquidez para ontem, não para hoje (2 anos depois), ou para amanhã (4 anos depois). Volto a sublinhar: a acção decisiva da CG e da SAD foi o que evitou que o clube entrasse em incumprimento e acabasse na bancarrota. Isto é um mimo para o nosso orgulho, mas não muda nada.

09
Mar20

Palmadinha Psicológica // Sporting 2 Aves 0

O Esférico

Sporting-CP-x-CD-Aves.jpg

Parte do encanto das mudanças de treinadores reside na folclórica "chicotada psicológica", um safanão de poeiras que deixa toda a gente na sala aflita das alergias durante umas horas, numa agitação pulmonar que chega a ser confundida com vigor e irreverência física. Ainda que os efeitos a longo-prazo de tais mudanças sejam questionáveis, muitas vezes os efeitos imediatos cumprem o seu propósito. No SCP, por exemplo, Inácio ganhou um campeonato, Bento finalizou 05/06 no 2º lugar, Sá Pinto derrubou o Man. City e mesmo o sucinto Keizer chegou a convencer parte das bancadas de que, a partir dali, Alvalade seria uma espécie de bar aberto de onde todo os solteirões sairiam sempre de mão dada com a rainha do Carnaval ao final da noite.

Mas as "chicotadas psicológicas" raramente produzem soluções a longo-prazo. Razão pela qual fiquei, ironicamente, esperançado com o jogo de ontem. Brilhantismo, nem vê-lo. Velocidade tão pouco. Inspiração, muito menos. Tirando o resultado, três dias de Amorim não parecem ter surtido o mais pequeno efeito no futebol do Sporting. Na prática, do estado comatoso em que a equipa saiu de Famalicão, ontem o renascimento manifestou-se meramente num estertor cadavérico na cama do hospital, posto o que o corpo enfermo do nosso futebol se virou custosamente para um dos lados, fez um xixizinho na algália, queixou-se da posição da almofada e depressa regressou ao estado vegetativo original, com um 2-0 na mala e já não foi mau.

Foi, por assim dizer, uma palmadinha psicológica. Para já. Pois para Amorim o verdadeiro trabalho começa agora, na ala de psiquiatria, mais concretamente, já que o primeiro grande obstáculo a vencer é o bloqueio mental que os jogadores sentem sempre que a bola vem ter com eles, acobardados com a cobrança das bancadas, mistificados com o vazio da vida, plenamente cientes de que, no ambiente actual, uma salva de assobios no momento errado pode custar-lhes o emprego. Razão pela qual o futebol do Sporting parece equivaler-se, neste momento, a uma espécie de carrossel para menores de 6 anos, animado por uma mecânica rudimentar, cautelosa e previsível, na qual os jogadores recebem a bola, pensam nas mil e uma maneiras como a morte os poderá levar, e optam, regra geral, por desfazer-se da mesma da forma mais segura possível — o que, convenhamos, é uma dinâmica responsável para um lar de 3ª idade, mas gera poucos benefícios numa actividade que costuma laurear quem corre mais e melhor.

Do banco, Amorim assistiu, atónito, ao esfrangalhar de um clube com mais de 100 anos de vida. A sua chegada não produziu qualquer fogo-de-artifício. Mas talvez seja melhor assim. O Sporting não precisa de picos de emoção e curativos na hora. Precisa é de alguém que meta as mãos à obra e comece por remover o entulho espalhado no chão. Com um contrato longo, Amorim terá mais tempo para esse trabalho. Que remédio... Talvez estejamos a assistir à inversão dos pressupostos da "chicotada psicológica". E isso seria muito bom.

05
Mar20

Casino de Alvalade

O Esférico

img_920x519$2020_03_05_16_29_41_1671683.jpg

Desde que um tal de José Mourinho deixou Vilarinho pregado à cadeira para vir a tornar-se um mito ao serviço do Porto, a busca pelo próximo profeta do futebol nacional tem sido a principal demanda pelo Santo Graal em terras de Marcelo I. Desde então, muitos ameaçaram vestir o sagrado manto. Villas-Boas, Domingos, Conceição — sem efeito. E até um certo sr. Azenha tinha "metodologias muito semelhantes" ao profeta sadino, até o Benfica lhe despachar a carreira com um 8-1 e um lacinho. Pelo caminho, fomos todos apanhados na curva por um certo mister de juba folclórica, cujo apelido de mártir Nazareno prometia frugal carreira, mas que veio a revelar-se praga tramada para os adversários: o superlativo Jorge Jesus.

Chegados a 2020, o Sporting também julga ter encontrado o seu Santo Graal. Talvez sentindo os augúrios da lenda em formação — e escaldada pelas fugas anteriores de Mourinho e Villas-Boas —, a SAD decidiu jogar na antecipação. Amorim, O Conquistador, já não será coroado em Benfica e Porto nos próximos tempos. Resta saber se, no Sporting, não passa de Conquistador a Marreta num ápice, engolido pelo anti-ciclone de Alvalade.

Amorim tem 2 meses de treinador no 1º escalão e custa 10M aos cofres do clube. É, portanto, mais uma aposta de risco elevado para Varandas, que tem por hábito falhar nestas jogadas de casino. A lógica mandaria que Silas aguentasse o barco até Maio. Afinal, já não perseguimos qualquer título, e mudar de técnico agora acarreta o risco de estarmos a entregar um cálice envenenado ao novo incumbente. Mas lógica não é propriamente o forte desta gestão. É pesar os pressupostos austeros da época contra este investimento inédito num técnico. E agora liquidou parte da almofada que tinha para o verão e dotou, por tabela, o Braga de um orçamento de leão.

Mas é preciso ressalvar a subjectividade de tudo. Há treinadores que fazem muito com pouco (Bento era um desses), e há treinadores que fazem pouco com muito (Lopetegui, por exemplo). O plantel do Sporting não é tão mau como os números indicam. Com um dedo atencioso, há margem para melhorar. Mas mesmo o técnico mais dotado não pode trazer o paraíso à Terra se não tiver as ferramentas certas — ou se for minado pela mesma estrutura débil que orquestrou o descalabro presente.

Há também um lado mais racional na questão. Arrisca-se porque há a muda admissão de que se bateu no fundo. Joga-se com a aura transcendental que Amorim angariou em pouco tempo para reanimar o sonho. Se, por acaso, nestes 2 meses, o futebol melhora, e os resultados também, isto poderá dar o impulso para a época seguinte que de outro modo não se conseguiria. Com a justiça prestes a desabar sobre o Benfica, e o Porto em processo de bancarrota, este momento pode ser fulcral para dar um golpe de asa e virar as nossas sortes.

Amorim teve um início arrebatador ao serviço do Braga. Tragou Sporting, Benfica e Porto num ápice, escorregou na Liga Europa, mas rapidamente consolidou o 3º lugar. Tanto quanto sei, Amorim pode ser a próxima grande invenção do futebol nacional. Ninguém pode, para já, garantir o contrário. E, se assim for, a exorbitância agora investida parecerá coisa pouca daqui a um ano. O futebol é fértil em impulsos, e convém ter algum recato antes de sabermos os resultados.

Tudo o resto me parece secundário. Nada me interessa a ligação passada de Amorim ao Benfica. Nada me interessam os pruridos éticos invocados (se as regras o permitem, o SCP tem que servir-se delas para agir no que julga ser do seu superior interesse). A mim apenas me interessa que Amorim justifique os lisonjeios que tem recebido — merecidamente — de todos os lados.

05
Mar20

Pára o Baile

O Esférico

img_920x518$2020_03_05_02_49_40_1671435.jpg

O recentemente falecido Vasco Pulido Valente deixou-nos estas palavras, escritas em 2006, as quais assentam que nem uma luva aos factos ontem ocorridos:

«Na história do Apito Dourado, por exemplo, o ponto mais típico e revelador, no fundo, o ponto mais português, não é o descaramento ou o cinismo, é o tom de intimidade, às vezes, de verdadeira estima da conversa. "Ó pá, ó fulano, ó amigo", repetem os vários vigaristas com um inconfundível calor de família. E, num certo sentido, são mesmo pessoas de família, que durante anos se ajudaram, se aldrabaram ou zangaram para maior glória do futebol. Torcer uma regra ou subornar um árbitro entra numa velha rotina, que já ninguém considera estranha ou condenável.
No caso do Apito Dourado, a "escuta" abalou a tradição. Um acidente sem grande importância. Em Lisboa inteira, e suponho que em Portugal inteiro, os donos da economia, do sector público e do sector privado jantam e almoçam em público, com inteiro sossego, para trocar "informação interna" ou traficar influência. [...] Como o patriótico pessoal do futebol, também eles se conhecem: da faculdade, de uma empresa, de um governo qualquer. Pior (ou melhor) ainda: a mulher do A é cunhada do C, o filho do B casou com a sobrinha do F, e por aí fora, sempre à volta. Uma palavrinha aqui, um favorzinho ali, não lhes parece nada de extraordinário. [...] Uma sociedade pequena e pobre (e, por cima, católica) gera necessariamente corrupção. O número, o anonimato e a distância reforçam o rigor; a estreiteza, a convivência e a proximidade criam o mundo paralelo dos "compadres".»

Se há acaso feliz que decorre das novidades de ontem, esse tem a ver com a transversalidade das suspeitas. Não há argumento exculpante para o típico adepto obtuso, que por defeito vê em qualquer investigação individualizada o focinho odioso de uma obscura conspiração contra o seu clube de eleição. A malta, na miséria partilhada, torna-se mais mansa, mais convidativa à justiça. "Está bem, se tu vais ao fundo, eu também não me importo de ir", lá confessam, a esforço. Porque também o futebol português habita neste microcosmos de pulhice contagiosa, em que os seus protagonistas se infectam mutuamente de esquemas transmitidos a passou-bens no terraço do Ritz, não surpreende que o mais pequeno pontapé numa pedra revele logo, sem esforço, uma ninhada de lacraus. Para uma investigação tecida durante 5 longos anos, é natural que vá tudo na rede.

Sem surpresa, os suspeitos do costume coleccionam mais um dia em tribunal. Pinto da Costa, Vieira, Salvador, Bruno de Carvalho, Carlos Pereira, etc. Está lá a corja (quase) toda. Têm o medalheiro cheio, não é difícil imaginá-los a partilharem com os netos, galhofeiros, a história de cada acusação. "Olha, esta ganhei por causa duns chocolatinhos que ofereci a fulano... escapei-me por pouco por uma viela processual", diz um. "Esta foi quando roubei um camião. Não fosse a amnistia do doutor...", afiança outro. Previsivelmente, estão todos satisfeitíssimos por "colaborar com a justiça". Do alto do pagode, declaram-se todos inocentíssimos. Não fosse a terrível maçada das trafulhices, colaborariam com a justiça até nas horas vagas, eu sei... É como a velha história do peido: cheira mal, mas ninguém se acusa.

O nomeado-surpresa da noite foi mesmo Varandas. Por casos que, alegadamente, dizem respeito ao mandato de BdC, por fado fatal ou vontade própria, a verdade é que embarca na sua primeira "travessia do arguido". Para ele também fica a lição: não há dama que arremeta dois virtuosos passos pelo pantanal lusitano sem imediatamente ficar com os saiotes salpicados de lama. Foi a sua estreia, e talvez não seja a última.

Quanto a mim, é motivo de regozijo sempre que a justiça sacode a poeira dos manuais. Há muito que esta pocilga precisa duma varridela geral.

Mais sobre mim

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D