25
Set20
Ordem, À Falta de Melhor // Sporting 1 Aberdeen 0
O Esférico
Para o Sporting, entrar ontem em Alvalade para defrontar o Aberdeen apresentava-se como um campo minado de riscos, cheio de hipóteses funestas a cada esquina. Uma equipa virgem de competição contra outra no seu 9º jogo oficial, um surto pandémico que nos desfalcou de treinador e jogadores, um onze jovem, um estádio vazio.
Impossibilitado de elevar o conjunto aos píncaros da excelência, Amorim optou por arquitectar um afundamento colectivo nos baixios da mediocridade, um sítio inóspito e estéril onde, do mal o menos, todos podiam dar um contributo igual para a causa. Pois não se entra num campo minado a sprintar para o abismo, mas com mil cuidados e precisão cirúrgica, num futebol bonacheirão, afunilado, cínico, sarapintado de ocasionais picos de virilidade, quando do esquecimento assomava a necessidade de concluir em vitória tão denodada empresa.
Atónitos com este desplante, os escoceses tornaram-se espectadores da sua própria emboscada, desconfiados, claustrofóbicos, tímidos — talvez as lendas sobre os campos minados de Alvalade fossem verdadeiras, afinal... Prometeram-lhes mortandade e vísceras, mas vieram dar a uma terra onde não há urgências existenciais, onde tudo fica para amanhã, onde o café se bebe com um cheirinho. Por uma ou outra ocasião os descendentes do clã MacLeod ainda ensaiaram o seu grito Braveheart, mas, naquele palco desnudo, outonal e sorumbático, soou tudo como uma interpretação amadora de uma companhia de teatro ao ar livre.
O Sporting navegou assim a sua improvisada chalupa durante grande parte do jogo — agora remas tu, agora remo eu, devagar, devagarinho, para acomodar velocidades e formas díspares de pensar na morte da bezerra. Temia-se um cataclismo, mas Amorim saiu-se com um belo Paulo Bento Vintage 2008 D.O.C. — castas Touriga Nabiçal e Pastellon Blanc. Os de Aberdeen tragaram-no avidamente, deliciados, e foram recambiados para terras do Grã-Brexit com menos uma preocupação na cabeça.
Amorim, claro está, contou com cúmplices em campo para a concretização do seu estratagema. Jovane e Vietto (uma assistência e um mar nulidades) esforçaram-se por corresponder à mediocridade do futebol exigido, ao passo que Porro, Wendel e Coates contrabalançaram a questão com exibições de evidente qualidade e dedicação. Tiago Tomás, o miúdo, desempatou o imbróglio a favor da eficácia.
E tudo teria decorrido sem mácula, se Eduardo Ferro — talvez inspirado por uma vozinha caída do céu — não tivesse decidido retirar Wendel e Porro no momento mais crítico do jogo, e substituí-los por dois efebos pubescentes, erro amador que rapidamente reanimou o Aberdeen e esteve perto de ser fatal. Aparentemente, não aguentavam mais cinco minutos em campo em prol da estabilidade da equipa... Frente ao LASK, sem dúvida, haverão mais oportunidades para testar a nossa sorte.