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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

29
Jan20

A Vida Depois de Bruno

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Agora que se concretizou a transferência de Bruno Fernandes para o Manchester United, é hora de focar alguns pontos em redor deste assunto.

1 — Um profissional de corpo e alma, profundo respeitador do emblema que representou, pessoa séria e frontal. Ninguém mais do que Bruno Fernandes merece ser feliz no clube onde escolheu prosseguir a carreira. Ficar no Sporting a ver a banda passar parecia-me particularmente injusto para alguém que nunca recebeu borlas na vida. Boa viagem, querido Capitão! Terá vida difícil no actual contexto do MU. Porém, BF já provou vezes sem conta que consegue prosperar no caos.

2 — Este negócio não corresponde ao valor do jogador. Com uma cláusula de 100M e uma exigência inicial de 70M limpos, uma venda por 55M+variáveis fica bastante aquém do melhor negócio possível.

3 — Agradeçam a Sousa Cintra e à Comissão de Gestão, em primeiro lugar.

4 — Há muita coisa opaca relativamente aos valores envolvidos e o comunicado do SCP não ajuda a deslindar o mistério. A saber:

a) aos agentes cabe a fatia de 5.5M. Mas não fica claro se é o SCP que assume a totalidade desse valor.

b) 5M de montante variável consoante o número de jogos. Mas estamos a falar de quantos jogos?

c) 5M dependentes da participação do MU na Champions League. Mas em que moldes? Participação na próxima época? Em qualquer época? Pela forma como o United joga, alguém pode garantir que se qualificará para a CL no final da época? Eu não.

d) 15M dependentes de prémios individuais do jogador. Tradução: dinheiro que não existe. Tradução livre: uma "Renatada".

e) Qual é realmente a tranche que cabe à banca? 30% ou 50%? Qual das restruturações está em vigor, afinal? Também sobre isso o comunicado é omisso.

CONCLUSÃO — Até agora, e garantidamente, o Sporting apenas sabe que receberá 55M pelo negócio. Tudo o resto está envolvido em imponderáveis mistérios e carece de esclarecimento por parte da SAD. Dos montantes variáveis, receberemos no máximo mais 10M, se quiser ser optimista, naquilo que mais parece golpe de cosmética para disfarçar as debilidades da venda. Desses 55M, podemos estimar que apenas entre 25M a 35M entrarão realmente nos cofres do clube. E do que entrará nos cofres do clube devemos ainda descontar uma fatia para ressarcimento urgente de credores vários. Feitas as contas, sobra pouco. Do mal o menos, perdida esta época, trata-se de dinheiro que permitirá preparar a próxima temporada com mais tempo. Mas, tendo em conta a difícil relação que esta direcção tem tido com recursos e reforços, alguém pode garantir que será bem aplicado? Será o investimento desse valor suficiente para suprir a ausência do melhor médio do futebol português? E o que são 20 ou 30 milhões no futebol moderno? Quase nada. Ou, trocando por miúdos, são o Rosier, o Borja, o Doumbia, o Ilori, o Jesé, o Eduardo, o Camacho e o L. Phellype.

28
Jan20

Resposta Positiva Em Noite de Velório // Sporting 1 Marítimo 0

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Fechem um tipo dentro dum caixão e atirem-no ao mar — o que vai ele ouvir? O rugido embotelhado dum universo oblíquo, a solidão indefinível de barbatanas e galeões, a contagem decrescente da morte. Em suma, mais ou menos o que qualquer adepto que esteve ontem em Alvalade ouviu. As palmas tristes dum império falido, o trote abafado de soldados em fuga, as suásticas verbais de alguns em transição para o Chega. Pelo menos durante os primeiros 45 minutos. Um ambiente agoirento, bizarro, nas bancadas, agudizado pela postura de dois dos principais protagonistas deste drama: na tribuna um presidente a fazer-se de morto, na curva sul as claques a fazerem-se de vivas. Vivemos num mundo bizarro, onde o que nos separa da insanidade é a admissão da nossa condição. E enquanto cada um cava a sua trincheira, o SCP definha nesta ladainha exibicional. Ganha um, perde dois. Ganha dois, perde um. Será assim até ao fim. O equilíbrio perfeito para a salvaguarda deste irrespirável status quo.

12000 nas bancadas deve ser um recorde negativo em jogos da Liga. E 25 minutos sem tocar na bola deve ser novo recorde para Jesé. Razão pela qual impõe-se a pergunta: perdido por um, perdido por mil, porquê esta insistência num fulano que não acrescentou rigorosamente nada a não ser uma pilha de facturas? Porque não aproveitar o resto da época para dar oportunidades aos mais novos? Se há, afinal, talento em Alcochete (P. Mendes, Max, Jovane, etc), porquê atafulhar o plantel de forasteiros medíocres? "Perguntas. Perguntas", repetia, gélido, Roy Batty, o "replicant" artificial de Blade Runner, antes de suprimir a vida do seu criador.

No meio do desnorte inicial, quem tem raça é rei. E quem tem raça é Ristovski, um jogador que continua a desafiar o destino a cada novo dia. Seria pneu sobressalente num candidato ao título. Neste Sporting é lufada de ar fresco. Estranhamente certeiro em pleno desnorte colectivo, tipicamente generoso, omnipresente. Não foi cura para coisa nenhuma, mas da sua confiança germinou a semente que floresceria na 2ª parte. E com a sua lucidez obstou a males maiores, quando já a bola corria para uma baliza desamparada.

Não que o Marítimo tenha sido um rival complicado. Igualmente confuso no passe e pouco rigoroso na construção, foi nesta displicência intermédia que o futebol de Wendel acabou por prosperar e Doumbia achou espaço para respirar. Fernandes, ao seu estilo, foi consequente quer no sucesso, quer no insucesso. Um cruzamento falhado gera sempre um embaraço alheio que termina invariavelmente em canto. Um passe errado carrega em si virose que adoece o adversário de confusão. E um pontapé certeiro abre na trave uma escala de Richter. Os dois lados podem ter-se equivalido pelo bocejo nos primeiros 45'. Mas foi sempre o Sporting que demonstrou mais vontade de ganhar.

Todos andam em negação. Em negação as claques quanto à queda do seu boçal guru. Em negação outros quanto à incapacidade desta direcção. Em negação Silas, que emergiu do jogo com ideias de apanhar o FCP no 2º posto. Ter objectivos é bom. Eu também quero um dia marcar numa final da Champions. Porém, há ironias destas. Talvez seja precisa uma certa dose de negacionismo para se treinar. Estas coisas são contagiosas e os balneários cenários idílicos para pandemias psíquicas. E foi porventura assim, neste clima de delírio colectivo, que os jogadores emergiram do balneário para a 2ª parte, em negação quanto à sua morte desportiva, em negação quanto ao velório na plateia, em negação quando à 1ª parte, mergulhados numa febre competitiva que proporcionou alguns dos minutos mais agradáveis que eu vi o Sporting oferecer nos últimos meses. Se foi tudo a fingir, não sei. Mas ganharam-se mais uns segundos de vida no caixão. O presidente pode continuar a fazer-se de morto e as claques podem continuar a fazer-se de vivas. Pelo menos por mais uma semana.

P.S.: A notícia foi a estreia de Sporar, mas o destaque vai para o regresso de Jovane à competição.

23
Jan20

Chega Sporar

O Esférico

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O Sporting precisava desesperadamente dum ponta-de-lança. Ele aí está. Sporar é, inequivocamente, um ponta-de-lança.

Porque há questões várias que se levantam com esta aquisição, o melhor que pode acontecer a Sporar é facturar logo dois ou três golos nos primeiros jogos e cair depressa no goto dos adeptos. O pior que pode acontecer é tudo manter-se na mesma, mergulhando logo Sporar na mesma nuvem de suspeição que mina todo o plantel. Daí — como se vê — é muito difícil escapar com vida.

Sporar não carrega apenas a responsabilidade de suprir de golos uma equipa em crise atacante. Carrega também o peso de uma gestão que traz no currículo flops vários, entre saídas incompreensíveis e contratações falhadas. A pressão é, portanto, redobrada, a margem de erro limitada.

Agora perguntarão as pessoas porque é que Sporar, tendo o registo impressionante que tem no campeonato eslovaco, não era perseguido por Inter, Chelsea ou Bayern, mas sim por Sporting, Celtic e Al-Gharafa. Porque tinha o passe avaliado em 2.5 milhões, e não em 15 ou 20 milhões? A resposta é simples e curta. Porque a liga eslovaca não vale um chavo. Efectivamente, o campeonato da Eslováquia situa-se apenas no 30º lugar do ranking da UEFA, atrás de ligas como a da Roménia, Bulgária, Cazaquistão, Bielorússia, Azerbaijão, etc. Está para a Europa dos grandes como os distritais estão para a Liga NOS. Há lá Zéquinhas vários com 20/30 golos, mas isso pode não querer dizer nada.

Outra pergunta. Sporar chega por 6M (+ objectivos). É praticamente o mesmo valor da venda de Bas Dost (7M). Isto faz algum sentido? Por este valor, não havia nenhum avançado numa liga minimamente competitiva que pudesse exponenciar o seu rendimento num campeonato intermédio como o nosso? Tanto mais que as passagens de Sporar por Basileia e Arminia Bielefeld (II. Bundesliga) foram um rotundo fracasso. Há aqui um risco claro.

Marega, por exemplo, custou ao Porto 4 milhões. Mitroglou custou ao Benfica 7 milhões, vindo do Fulham. Zé Luís veio do Spartak por 8.5M e Seferovic chegou do E. Frankfurt a custo zero. Escuso de ir mais longe.

Urge por isso a pergunta: será que o scouting do Sporting viu o que mais ninguém viu? Onde não existem certezas pode haver esperança. Esperemos que o seu real valor esteja mais próximo da sua prestação na Liga Europa deste ano (5 golos), porque o seu registo na Eslováquia diz-me pouco.

Resolve-se um problema, surgem outros. A descaracterização do ADN Sporting no plantel principal continua prego a fundo. Se olharmos para o nosso onze-tipo, verificamos que, actualmente, só existem um jogador da formação e dois portugueses. Tudo isto merece a nossa reflexão.

23
Jan20

Aí Está a Factura

O Esférico

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A confrangedora imagem de Coates a jogar a ponta-de-lança nos minutos finais do jogo de ontem resume a tragicomédia em que se transformou esta gestão. Porque Coates não se limitou a jogar a ponta-de-lança. Efectivamente, era o único "ponta-de-lança" em campo.

Uma época em cacos, um balneário em fanicos, um clube em espiral suicida, dão plena razão a quem apontou ao centímetro os erros grosseiros desta direcção. Como costuma dizer-se, "estava escrito nas estrelas".

Os resultados são claros. Frederico Varandas deve aos Sportinguistas uma escolha. Uma escolha entre a continuidade do seu trabalho ou entre alguém que apresente novas soluções. Uma escolha para aqueles que acreditam que os pressupostos da sua candidatura foram cumpridos e aqueles que não acreditam. Deve, sobretudo, perceber que esta situação não é sustentável por mais tempo e que é o clube, em primeiro lugar, que sofre com isto. A época seguinte já está em risco. Mudanças exigem-se. Deveria por isso seguir o conselho que ele próprio deu — e bem — ao presidente anterior quando decidiu assumir a sua candidatura à liderança do SCP. Esconder-se atrás de silêncios sonsos ou desculpas fiadas deixou de ser opção. Há muita coisa que o caos herdado de 2018 não explica e cuja responsabilidade recai sobre a actual estrutura.

Em relação a Silas, é uma daquelas coisas... Se o seu sistema pós-Bolasie tivesse aguentado até aos pénaltis e aí o Sporting prevalecesse mercê duma inspirada cartada chamada Renan, teria sido levado em ombros. Como apostou tudo na retranca e perdeu no último minuto, é tido como besta. Faltou-lhe exumar os restos mortais de Peyroteo e colocá-lo a líbero. Tê-lo-ia feito, se pudesse. Muitas vezes os adeptos vêm ter comigo com visões conflituantes sobre a culpabilidade de Silas. Na minha opinião, acho que contratar um treinador com as limitações no banco que este tem é como ter nas mãos uma granada sem pino: mais cedo ou mais tarde rebenta-nos na cara. Mas creio que a perspectiva mais correcta para se avaliar o trabalho do técnico é a seguinte: ainda que o plantel do Sporting esteja distante da qualidade que Benfica e Porto ostentam, a verdade é que continuamos a ter melhores jogadores do que Braga, Famalicão ou Guimarães, assim como as restantes equipas da 1ª liga — nem que seja pelo número de internacionais que o nosso onze apresenta. Continuamos também a ter o 3º maior orçamento do campeonato, com crise ou sem ela. Silas deverá ficar até ao fim da época, até porque o descalabro está consumado. Mas manda o bom senso que comecemos a preparar a sua sucessão.

19
Jan20

Adeus, Querido "Perna de Pau"

O Esférico

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A notícia do dia é a devolução de Fernando ao Shakthar Donetsk.

Parece-me precipitado.

Fernando assinou pelo Sporting ainda na Ucrânia, tendo sido depois transportado de maca para Alvalade num avião hospitalar do exército. Já em Lisboa, exames de rotina detectaram uma debilitante tendência para a horizontalidade, condição declarada incompatível com a prática do futebol.

Desde aí, a sua evolução tem sido notável. Em Outubro trocou a maca pela cadeira de rodas. Em Novembro trocou a cadeira de rodas por um par de muletas. Em Dezembro deixaram-no dar uns calduços no Paulinho — medida pela qual, no Sporting, se avalia a aptidão para a prática desportiva. Em Janeiro já calçava as botas sozinho. Por este andar, ainda ia a tempo de fazer o seu "minutinho à Shikabala" em Maio, ajudando o Sporting a consolidar o 6º lugar na classificação. Perdas destas podem custar caro.

Fernando chegou de maca e parte pelo próprio pé. É, por isso, uma história de sucesso leonino. Não tendo pisado o relvado uma única vez, foi, sem dúvida, a melhor contratação do defeso.

Numa altura de míngua financeira, este é também o tipo de serviço que o Sporting poderia comercializar para fora: medicina de reconstrução locomotora. Mais um caso de êxito, entre tantos outros.

Adeus, querido "Perna de Pau"! Muita sorte!

18
Jan20

Fumo No Porão // Sporting 0 Benfica 2

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Havia uma escola que frequentei quando era mais novo que organizava todos os anos um torneio de futebol inter-turmas. Tratava-se duma ocasião especial, pela qual esperávamos ansiosamente. E embora apenas participassem os alunos mais "veteranos", os mais novos, como eu, tomavam fervorosos partidos por esta ou aquela equipa, gerando uma euforia participativa que redundava num ambiente de jogo a sério em redor do campo. Uma das singularidades deste evento consistia na existência dum 'speaker', que se posicionava num palanque improvisado sobre a linha de meio campo — um bom malandro com ar de Spirou que não só anunciava resultados e substituições, como também interpunha bicadas satíricas sempre que achava conveniente. Lembro-me perfeitamente dum desses jogos, em que certa Equipa A abafava certa Equipa B, o massacre já ia penoso, até que a partir dos 6-0 cada novo golo era aproveitado pelo 'speaker' para se dirigir aos vencidos num tom de refinado sarcasmo: "coragem, ainda não acabou..." A ironia era óbvia: aquilo que se mascarava de estímulo para os humilhados era na realidade a sádica promessa de mais golos no bucho. E toda a gente ria.

Esta época fez-me recordar esse episódio. Algures, atrás dum pilar, há sempre uma vozinha jocosa que não pára de nos atirar o mesmo piropo: "ainda não acabou..." Efectivamente, ainda há tempo mais que suficiente para as coisas piorarem. Escusado será dizer, uma equipa com estas crateras estruturais não vai a lado nenhum na Liga Europa. A Taça de Portugal já foi e a Taça da Liga prepara-se para tomar o mesmo rumo. A meio do campeonato, são 19 os pontos que nos separam do líder. A Champions é uma miragem, o Famalicão deverá fugir no 3º lugar, e o Braga já nos morde os calcanhares no 5º. O Sporting não caminha para o pódio, caminha para ficar fora da Europa.

Não se pode dizer que tenhamos jogado propriamente mal ontem, assim como não se pode dizer que tenhamos chegado a jogar bem. Fomos uma equipa equilibrada dentro do possível, mas qualquer olhar atento aos jogadores das duas equipas em aquecimento aos 60' chegava para concluir que os equilíbrios negociados dentro de campo podiam ser ilusão rapidamente desfeita a qualquer instante. Dum lado, Rafa, Taarabt ou Seferovic; do outro Plata, Mendes, Eduardo, Borja. Dum lado homens feitos, do outro rapazes e flops. À maior consistência encarnada, o Sporting soube responder com duas ou três oportunidades claras. E, à semelhança do que já acontecera contra o FCP, períodos houve em que a assertividade leonina chegou a entusiasmar a plateia. Mas no fim venceu o Benfica, porque tem melhor futebol e, sobretudo, melhores jogadores nos momentos de definição e concretização.

Pois estes grandes jogos são como o algodão: não enganam. E assim, onde atletas como Max, Fernandes ou Mathieu responderam com graus variáveis de qualidade sempre que foram chamados a intervir, outros como Wendel, Doumbia ou L. Phellype viram a sua flagrante mediania brutalmente exposta por um adversário hábil em explorar este superavit de fragilidades — a começar pelo miolo, onde os raros laivos de construção sustentada não chegaram para compensar uma crónica lentidão e confusão na definição dos lances.

Tal como, infelizmente, preconizei, o mês de Janeiro prepara-se para ser o dilúvio que vai rebentar com os diques de Alvalade. Nesta lua de fel em curso, sugiro algumas coisas muito concretas:

1) Os resultados tornam cada vez mais urgente que esta direcção submeta a escrutínio eleitoral a teoria de que é particularmente dextra em gestão futebolística — afinal, a principal premissa da sua então candidatura.

2) Esteja mais uma semana, um mês ou um ano à frente do clube, FV deve concluir o saneamento das claques, nomeadamente através das propostas que eu já aqui expus: a) expulsão/extinção de todas as claques, ou substitui-las por uma claque oficial do clube; b) retirada da bancada inferior do topo sul aos GOA.

3) É necessário que se comece a preparar a sucessão de Silas. Independentemente do seu grau de culpa, os resultados são pobres, a sua competência é apenas mediana, e um treinador que nem pode falar com os jogadores não é seguramente o futuro do Sporting. Deixemo-nos de ideias tolas.

12
Jan20

Revista na Tribuna, Dignidade no Campo // V. Setúbal 1 Sporting 3

O Esférico

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Descerrem a cortina, soem as pancadas de Molière. Lá porque Vítor Hugo Valente passou ao lado de uma brilhante carreira no teatro, não quer dizer que tenha desistido de usar saiotes. Um produto anacrónico do decrépito Parque Mayer, o líder sadino não se poupou a esforços na preparação do espectáculo de ontem, juntando ao pedido inédito o efeito cómico de uma auto-proclamada "honorabilidade" — isto vindo dum fulano que não sai à rua sem levar duas lambadas dos credores. Porém, onde La Feria usa a pompa para compensar a vacuidade das suas produções, Vítor dispensa essa mesma pompa e mete as fichas todas numa espécie de apoteose saloia da palhaçada, em que os apanha-bolas mascarados surgem para dar um toque distópico a este clássico da peixeirada. No meio do espectáculo todo, só se esqueceu foi de esclarecer porque razão recusou a oferta do Sporting.

A resposta a essa pergunta está no jogo em si. Longe dos 80% de acamados que alegavam, o número de convocados confirma que tinham jogadores mais que suficientes para ir a jogo. Limitados, certamente, mas bem dentro dos requisitos mínimos exigidos. Legítima a frustração da equipa sadina, mas o livro de reclamações devem pedi-lo, antes de mais, ao seu líder, que, em período de campanha, mostrou-se mais preocupado com a sua reeleição do que com a saúde dos atletas. E serviu-se da grandeza (e fragilidade) do SCP para ampliar a sua mensagem.

Montado o cenário, vendidos os bilhetes, chegou-se então à hora do jogo. Acenderam-se os holofotes, abriu-se a cortina da tribuna, e imediatamente o 1º acto arrancou, com uma salva de labregos abatendo-se sobre as porcas vidraças da mesma para uma prova de espiritismo verbal e bailado contemporâneo no charco. Para o 2º acto Valente brindou os presentes com uma comovente cena de dramatismo conjugal, com dedadas afirmativas e ameaças de retirada dos acepipes da mesa. Houve aplausos, pigarreios, somaram-se votos. No 3º acto, Valente, qual dama despeitada, sentou-se a duas cadeiras de distância de FV, amuado com a insensibilidade do líder leonino. No 4º e último acto tossiu aos microfones os restos duma sarna persistente e cortou relações com o SCP, privando-nos desses preciosíssimos empréstimos que o VFC sempre dispensa. Depois, desapareceu na noite, presumivelmente para levar mais umas lambadas de credores ofendidos. Foi um espectáculo entretido, feito para benefício exclusivo da primeira plateia, onde se sentam os sócios votantes.

Varandas, valha a verdade, dedicou-lhe o mesmo tipo de desprezo que qualquer um de nós dedicaria a um labrego etilizado que se debruçasse do balcão para vociferar contra os órfãos da Casa Pia. O Sporting agiu bem. Não foi inflexível, deixou uma porta entreaberta. Com isso desmascarou o bluff dos sadinos. E o árbitro apitou para o início do jogo, verificada a fiabilidade das redes.

Em relação à partida em si, destaco a extrema dignidade dos seus intervenientes. Antes de mais, dos atletas sadinos. Foram lá para jogar à bola, não para carpir mágoas ou descarregar frustrações. Entre espasmos de vigor e uma certa apatia, chegaram mesmo a assustar, mercê dum delírio febril em forma de golo que deixou o Sporting momentaneamente de quarentena. E o 'forcing' final que protagonizaram deve chegar para afastar qualquer receio de mortes prematuras. Mas também do Sporting, que perante uma situação complexa não entrou em campo para fazer fretes a ninguém. Resolveu quando tinha de resolver, tentou gerir quando tinha de gerir, foi ponderado no meio de tantas emoções, e no meio de tamanha racionalidade só sofreu um golo e perdeu dois jogadores para o derby de sexta — um avanço que eu considero positivo. Entre os melhores leões destaco Bruno Fernandes e Ristovski, com Bolasie também interventivo. Jesé também entrou, mas apenas para nos lembrar que pagar quotas também traz inconvenientes.

P.S.: Espero que FV não esteja a preparar-se para cometer um espantoso acto de autofagia ao vender Bruno Fernandes dias antes dum derby. O negócio pode ser bom, mas qualquer desaire com o rival depressa atiraria isso para segundo plano. Se bem que no Sporting já nada me surpreende.

06
Jan20

Socos No Escuro // Sporting 1 FC Porto 2

O Esférico

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O Sporting entrou em 2020 como começou 2019: desferindo socos às cegas dentro do saco escuro das suas incoerências. Daí resultaram alguns momentos de graça, meia-dúzia de arritmias nas bancadas, duas bolas nos postes, cinco cartões amarelos e mais uma vitória moral para o museu. No fim, erros de marcação e ineficácia custaram-nos os 3 pontos. Mas a realidade que releva da partida poderá custar-nos muito mais do que isso. Ou não estivéssemos nós num mês totalmente decisivo para o clube, cujos testes de fogo para a SAD e Silas implicam recepções ao Porto e Benfica, duas deslocações a Braga e uma eventual final. Perdido o primeiro teste, o Sporting situa-se agora no 4º lugar, atrás do Famalicão, a 12 pontos do Porto e a 16 do Benfica. A estabilidade directiva ficou um pouco mais longe, o abismo mais próximo, e a mudez de Silas no banco permitiu que a transitoriedade da sua posição falasse novamente mais alto.

Naturalmente, após o jogo, o treinador enfatizou a vontade de chegar aos dois primeiros lugares. Seguramente, amanhã, os jornais encher-se-ão de declarações de Hugo Viana a garantir a iminência do título nacional, e de Frederico Varandas a afiançar a enorme qualidade do plantel, fruto do milagre financeiro que alega ter produzido. É impressão minha ou há mesmo uma bebedeira generalizada que impregna todo o clube? Uma bebedeira que arranca já trôpega das bancadas, perde-se a caminho do WC, entra por engano nos corredores do poder arrotando o relato do cantinho do Morais, antes de se estatelar numa poça da sua própria urina, onde escorre o ADN de 18 anos de jejum? As "claques-apenas-em-nome" passam 45 minutos em silêncio, um movimento da carochinha lança um manifesto destitutivo 24 horas antes dum clássico e a direcção desdobra-se em fanfarronices propagandísticas que mais não são que tofu de alguidar. Mas sobre o estado da nação sportinguista escreverei amanhã.

Assim, os optimistas dirão que o Sporting jogou bem, foi superior, teve as melhores oportunidades. E se olharmos para os 25' iniciais da 2ª parte, diria que não andam longe da verdade. Já os pessimistas dirão que a 1ª parte foi uma maçada, uma manifestação empírica do corpo enfermo que o Sporting habita. A verdade talvez esteja algures no meio, mas onde a ilusão não chega sobram aqueles 20 minutos finais, apogeu do colapso físico e mental, cobrança final dum esforço que implica sempre duas frentes de corrida: contra o adversário e contra nós próprios. Pois enquanto a pedalada durou, o Sporting, na pior das hipóteses, foi sempre um osso duro de roer para os azuis (sérios, mas cinzentos); na melhor das hipóteses chegou a emanar um ar de supremacia que, na realidade, não existe.

Ironicamente, o melhor do Sporting esteve também na raiz do seu colapso. Por três vezes Vietto teve o golo feito nos pés. Por três vezes falhou, alheio à lição de Acuña. Por algum motivo no Atletico Madrid não quiseram ficar com ele. Pese embora todo o seu talento, Vietto não tem golo, e a intensidade é pouca. Em Setembro "apostei" com os leitores que Bolasie, Jesé e Fernando, os três juntos, não fariam metade dos golos que Bas Dost fez na sua pior época em Alvalade. Se calhar até posso juntar Vietto a esse grupo, com alguma folga. Como Fernando não joga desde o tempo da Dona Branca, e os restantes só facturam no 2º anel, é fácil de ver que vou ganhar essa aposta (com juros), para desgosto dos iluminados que adjectivaram Dost de "cepo dispendioso". Foi essa noção do leite derramado que ficou a pesar na consciência duma equipa que reconhece as suas debilidades. Por isso, quando Soares desfez o empate, a fita puxou atrás e o complexo de culpa cristalizou-se. O empate estava no futuro, mas a equipa queria era refazer o passado. Ficou presa na nortada. Mais do que a boa 2ª parte, ou a esforçada 1ª parte, são os últimos 20' que melhor definem a época do Sporting.

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