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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

22
Dez19

Como Um Palhaço União Uma Nação // Portimonense 2 Sporting 4

O Esférico

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Olhando para a estupenda reviravolta operada ontem pelo Sporting, em Portimão, não posso deixar de recordar uma outra reviravolta semelhante, aqui há uns anos atrás, também contra uma equipa trôpega, inconstante e pródiga em truques circenses. O ano era 2008, o treinador Paulo Bento e o adversário o Benfica. De uma desvantagem de 0-2 ao intervalo virámos para uma vitória por 5-3, com golos de Djaló, Liédson, Derlei e Vukcevic. A Taça, viríamos a ganhá-la. Mas, tal como ontem, essa vitória também pareceu nascer duma rara epifania colectiva, destilada duma profunda sensação de frustração exorcizada com fogo bento ao intervalo, e não tanto da prática consistente de bom futebol. Tal como ontem, a 1ª parte pareceu retratar mais fielmente os andamentos da época do que a 2ª parte. Tal como em 2019, em 2008 eram mais os pontos que nos separavam da liderança do campeonato do que os anos que hoje nos separam do apocalipse climático.

A impressão que fica é que, não fora o episódio com Bolasie, e o nosso destino parecia predeterminado rumo a uma implosão de equívocos — posicionais e não só —, embaladas pela cacofonia falida das claques, que já mal conseguem disfarçar ao que vão. Ainda há umas horas atrás, um sujeito com ar de guru sentimental me tinha garantido, na televisão, que qualquer alteração aos pressupostos do sucesso ficaria para outras núpcias. E eu, como espectador crédulo da tv shopping, senti-me confiante nas virtudes tonificadoras daquela máquina de abdominais 'made in China', seguro da eficácia cortante daquelas facas Ginsu. Silas não ia inventar. Só que inventou. Um bocadinho. Por isso, quando descobri pela primeira vez que Vietto estava em campo, na altura em que marcou o golo, não foi propriamente alegria que senti, mas sim o efeito arrepiante de termos um treinador que acha ser coisa de valor deixar no banco o nosso melhor finalizador num jogo onde nada mais importa senão a vitória.

Às 4 da manhã, só há clientes defraudados na tv shopping. Afinal, aquelas facas Ginsu não cortavam um pilar da Ponte 25 de Abril de um só golpe e a maquineta de abdominais não nos transforma em réplicas do Brad Pitt em três sessões. E no Sporting, geralmente, são quase sempre 4 da manhã nos tempos que correm.

Felizmente, há males que vêm por bem. E um simples gesto pode transformar uma cerimónia fúnebre numa ópera épica em dois minutos. Uma nação apática redesperta perante uma agressão externa. E uma equipa amorfa toca a reunir perante as cambalhotas bufas dum rabolho. Efectivamente, o Sporting continua a ser perseguido pelo fantasma da "visão intuitiva" na Taça da Liga. Já houve a "mão" de Pedro Silva na bola, e ontem houve a "mão" de Bolasie num palhaço. A mão não existiu, o palhaço sim. Pois palhaço Willyan é. E João Pinheiro o cúmplice ingénuo deste mísero espectáculo. O que têm ambos os lances em comum? São a projecção fictícia dum universo paralelo que só existe na glândula olfactiva dos árbitros. A João Pinheiro cheirou-lhe a marosca. Mas enganou-se, pois o fedor vinha todo dos confettis que Willyan largara durante a sua queda para a morte. Batatinha, põe-te a pau...

De repente, encontrámos um factor de união: o desprezo pela fantochada. Num ápice, Frederico Varandas sai ao caminho do árbitro com uma karateka de palavras "contundentes", e a lucidez de Silas ganhou novo ímpeto após início titubeante, como o provam as decisões certeiras — e consequentes — tomadas na 2ª parte (além da ousadia de procurar novas soluções para velhos problemas, como foi a aposta em Plata.)

A história diz-nos que a teatralidade no futebol é sol de pouca dura num contexto amaldiçoado por graves falhas estruturais. Mas o golpe de teatro que ontem nos abençoou com um mar de aplausos pode muito bem ser o tónico ideal para "pegar de caras" o FC Porto, esse sim um adversário de dureza credenciada. E então, sim, uma vitória poderá mesmo ser a cola que venha a unir de vez as (muitas) peças soltas deste plantel.

P.S.: O Conselho de Disciplina, se quiser manter a mais pequena aparência de seriedade, só tem uma solução: despenalizar Bolasie por aquela expulsão, que mais não é do que uma vil subversão dos princípios do jogo. Não há maneira de sustentar aquela decisão.

17
Dez19

De Luva Branca // Santa Clara 0 Sporting 4

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Sem inventar, sem recorrer a alquimias confabuladas no córtex delinquente do cérebro, o Sporting arrancou ontem a sua melhor exibição, até à data, no campeonato português. Podemos apenas imaginar o que deve ter custado a Silas decidir a equipa para este jogo. Silas — cujo voto de silêncio o reveste duma aura de monge trágico num cenário de apocalipse — não exibe aquele ar de angústia reprimida por acaso. É um homem torturado. À noite, depois de deitar os jogadores e passar a pente fino o hotel à cata de ultras atrás dos cortinados, recolhe aos seus aposentos, onde fica a sós com velhos fantasmas. De um lado tem um anjinho que lhe sopra ao ouvido líricas delicadas sobre consistência, identidade e lógica num colectivo desportivo. Do outro lado tem um diabrete que lhe sussurra fábulas pérfidas, garantindo-lhe que a melhor maneira de provar o seu valor é congeminar uma complexa equação quântica na qual Jesé, Eduardo e Rosier possam coexistir no corpo enxertado dum monstro futebolístico mais dado a feitiçarias de savana do que à prática de chutar a bola.

Porém, após uma agitada véspera que lhe comoveu a alma, Silas optou pelos conselhos do primeiro. E assim, quando ontem o Sporting subiu ao relvado do Estádio de São Miguel, apresentou-se à refrega com os 11 jogadores que, neste momento, aparentam dar mais garantias à equipa — no sistema que melhor rentabiliza as suas características.

Afoito em teoria, mas cândido na sua essência, o Santa Clara mostrou ser o adversário ideal para o Sporting nesta fase perigosa da época. Não é por acaso que não vence há 7 jogos, assim como não é por acaso que os tiros que lhe decretaram a morte cerebral tenham sido disparados a fechar a 1ª parte e a abrir a 2ª — espaço temporal do velório para equipas em desinvestimento psíquico.

Melhores em campo? Luiz Phellype, Bolasie e Ristovski — com menção honrosa para Vietto. É verdade que raros são os opinadores que mencionam o macedónio num contexto de lisonjeio. Mas é, na humildade dos 2,5 milhões que custou, tudo aquilo que Rosier não consegue ser do alto dos seus faraónicos 8 milhões. É menos destrambelhado do que o francês no critério com que define as jogadas, e mais sólido, quer a atacar, quer a defender. Ontem, a sua presença fez-se sentir sobretudo em finos pormenores, que taparam momentos de potencial desequilíbrio do colectivo. Nunca será um jogador de excelência, mas é o melhor lateral de raiz que temos no plantel — algo que deveria suscitar a preocupação de todos. Já Bolasie, por seu turno, resgatou do passado o golo que a justiça lhe devia, tal é o empenho e alegria que empresta ao jogo — uma alegria, claro está, um tanto rústica e despojada, como um churrasco de Domingo, mas ainda assim legitimadora do título de "empréstimo do ano". Ele corre, ele pula, ele atira-se, ele rebola — e confere a esta cacofonia de movimentos uma intuição técnica residual, diria que nascida do instinto de sobrevivência, não tanto do talento inato. Fez um belo golo de cabeça, de costas, numa rotação perpétua em gravidade zero, numa ode à complexidade que, basicamente, prova porque jamais poderia ser um avançado. Esse papel está destinado a Luiz Phellype, um rapaz de modos melancólicos que chega a dar a impressão de empurrar as bolas para a baliza por despeito, tal é a solidão que o consome lá na frente. Mas empurra-as — e já o fez por oito vezes esta época.

Demoraram 24 horas a chegar, mas foram quatro murraças de luva branca bem espetadas no focinho encapuzado do veneno que corrói o clube.

16
Dez19

Devolvam a Curva Sul aos Sócios!

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Quem tem seguido com atenção o julgamento do ataque à Academia não ficou decerto indiferente aos testemunhos dos jogadores na semana passada, onde foram descritos com minúcia granular os actos bárbaros de que foram alvo, assim como as sequelas psicológicas que ainda perduram. Se tais palavras resultaram nalguma alteração da percepção pública dos ataques, foi apenas no sentido de dar cor a um filme que, nalguns sítios, ainda se pintava de preto e branco. Não há acto redentor que possa salvar o lixo que hoje se encontra em julgamento.

Ontem, um conjunto de energúmenos de cara tapada recebeu a equipa nos Açores com o arrepiante cântico "Alcochete sempre, Alcochete sempre!" Tal canalhice não pode deixar de causar arrepios a qualquer cidadão decente, pois evoca, além do pior que o ser humano esconde em si, a impotência do Estado perante marginais que impõem aos outros uma tripla "sharia" de ameaças, coacção e paulada. Anúncios nunca faltam. Mas, em termos práticos, o que fez a tutela para estancar esta epidemia de violência? Nada. O problema só piorou. E, ante a evidência de estarmos perante autênticas máfias organizadas, atentatórias aos direitos de todos nós, a estratégia de desresponsabilização tem passado por individualizar o caso como um problema do Sporting — como se não houvesse uma hemorragia de violência nos campos de norte a sul deste país, como se não tivesse já morrido gente. Pois o que está aqui em causa é a subsistência de uma "elite" de cabecilhas que em tudo se move como um narco-estado — e que para isso conta com a colaboração de "soldados rasos", como os de ontem, os quais, em troca do trabalho sujo, se contentam com as sobras dos outros, naquilo que é, de facto, uma dinâmica de gang.

Em tribunal as coisas ficaram claras. "Tenho muito medo de que volte a acontecer", confessou Wendel. "Ainda hoje, quando jogamos, sinto ansiedade que caso as coisas não corram bem possa acontecer novamente", afirmou Bruno Fernandes. "De cada vez que o Sporting perde, fico com medo que a situação se repita", reforçou Ristovski. E de Mathieu sobrou esta ideia: "ainda hoje no final dos jogos me lembro deste episódio muito forte".

O que aconteceu ontem é uma coacção descarada à liberdade dos atletas, e uma inconcebível apologia da selvajaria. Em que estado mental terão ficado os jogadores, sabendo que poderão voltar a Lisboa para novas sessões de porrada? Mas há aqui uma motivação ainda mais tenebrosa: há gente que está, deliberadamente, a tentar acabar com o clube. Para eles, cada derrota é "dinheiro em caixa". Qualquer empresário que valha um vintém olha para isto e veta qualquer contratação — ou inflaciona os preços para níveis suicidários. Qualquer adepto normal vê isto e pensa duas vezes antes de meter os pés num estádio. Por isso, tratemos isto como aquilo que efectivamente é: uma luta pela nossa sobrevivência. Eis algumas medidas que a direcção poderia tomar:

1) Algo foi feito, mas é preciso mais. Hoje em dia há tecnologias de vídeo e reconhecimento facial que facilmente colam uma cara a um registo ou cartão de sócio. A 'entourage' das equipas desportivas do Sporting tem que estar preparada para isso, nesta altura de grandes perigos. Gritos como o de ontem são claramente motivo de banimento vitalício de toda e qualquer actividade relacionada com o clube. São um crime público, também, de incitamento à violência. Na Inglaterra, são os próprios clubes que identificam os infractores nas suas fileiras e os expulsam dos estádios. Porque não acontece isso por cá?

2) Devolvam a curva sul aos sócios! Devolvam-na às famílias, aos avós, aos netos, aos amigos. Com preços e pacotes especiais, simbolicamente, se preciso for. Vedem a venda de lugares para membros identificados de claques. Arranquem as urtigas e plantem no seu lugar uma nova e frondosa árvore de amizade e clubismo são.

3) Assumam o carácter ideológico desta batalha. Assumam uma posição clara contra as claques — quaisquer claques. Porque é a cultura de fanatismo paramilitar fomentada por aquelas que, no fundo, estamos a discutir. Estarmos, com pinças, a esmiuçar que esta é má, aquela é mais ou menos, e a outra é boazinha, apenas serve para deixar a porta entreaberta aos infractores. Acabem-se com as claques — ou crie-se uma claque oficial do clube que elimine todas as outras; uma claque única, sujeita ao escrutínio e braço disciplinar do SCP. Desde logo, não-sócios e cadastrados não poderiam integrar essa claque. O saneamento passa por regras de acessão (e participação) rígidas. Uma coisa é certa: as claques não podem auto-regular-se. Esta é a oportunidade duma vida. Impulsionemos o Sporting para o século XXI!

09
Dez19

A Dois Tempos // Sporting 1 Moreirense 0

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Quando Bolasie introduziu a bola na baliza do Moreirense aos 11', a alegria libertada parecia corporizar o corolário natural dum jogo que começara firmemente assente numa lógica de posse, domínio, audácia e organização. Era também o selar simbólico de algo maior, o anel matrimonial colocado no dedo desta relação de interesse entre o congolês e os sportinguistas, que vêem nele, na época de todos os perigos, um exemplo de profissionalismo e paixão pelo jogo, isto por oposição, precisamente, à ausência desses mesmos predicados em alguns outros jogadores ontem em campo.

No fio da navalha é como muitas vezes o Sporting se encontra. E, nesta era de precisões tecnológicas e cegueiras selectivas, foram 14cm aquilo que o VAR descortinou sobre a ilegalidade do golo. Tivesse Borja sido mais astuto e iniciado a jogada cruzando primeiro as pernas do adversário em vez da bola e nada disto teria acontecido, tal como decreta a nova bitola estabelecida no Boavista-Benfica.

O certo é que a partir daí o Sporting entrou numa espécie de falência de órgãos invisível à vista. O jogo tornou-se desligado, consequência de um divórcio entre a mente e o corpo, as ideias e as pernas, a vontade e a objectividade. A depressão pós-VAR instalou-se na equipa e voltámos a ver laivos de irregularidade a pintarem o relvado, intercalando momentos de apatia com jogadas de perigo — estas mais por incapacidade do adversário do que por virtuosismo colectivo. Não foi por falta de treino, decerto, mas porque a míngua de soluções obriga a que se depositem as esperanças em elementos deficitários, como foram os casos de Jesé (um remate de perigo e nada mais), Vietto (em decréscimo de há 3 jogos a esta parte), ou Wendel, que nos dias que correm mostra menos alegria no seu futebol do que uma viúva num velório. E o elemento geralmente aglutinador do baralho — Bruno Fernandes — foi ontem carta fora dele.

Num cenário normal, o Sporting fez mais do que o suficiente para marcar 3 ou 4 golos. Mas numa conta de dividir os lucros mal dão para as despesas, e isto só mesmo depois de o único ponta-de-lança do plantel aparecer para oferecer a sobremesa. Bolasie, o próprio, viria a protagonizar mais uma tripleta de lances de perigo, assim como um par de assistências perigosas que não deram em golo. Por causa disso, foi, a par de Mathieu e Maximiano, o melhor em campo. Mas foi só quando Silas — mestre das mil tácticas — discerniu o óbvio que as coisas mudaram. A cada oportunidade, Luiz Phellype demonstra que, não sendo um primor, é a solução mais lógica para uma equação complicada. Assim, ainda se foi a tempo de emendar aquilo que parecia destinado a ser uma correria inglória para o empate, num jogo em que o Sporting foi superior, mostrou bom futebol a espaços, mas em que lhe faltou qualidade nas decisões. Depois de testar contra o Gil Vicente um inovador sistema de 4-4-20 losangos, com mais ângulos do que faces, Silas derivou ontem para um sistema com (quase) mais pinos do que galgos. E no meio da nem sempre lúcida sofreguidão, apenas as saídas de Vietto e Jesé permitiram que as contas pendessem definitivamente a favor da vitória.

P.S.: Logo numa altura em que Neto se afirmava como uma alternativa valiosa, lesionou-se com gravidade, mercê dum lance macabro em que tudo fez para liderar pelo exemplo e pela garra. Rápidas melhoras, pois de um Neto destes muito estamos necessitados.

02
Dez19

Estaca Zero // Gil Vicente 3 Sporting 1

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Falemos primeiro de coisas boas — apesar de o trabalho recente de Silas ter sido demolido em 90'. Falemos de coisas boas — apesar do espectáculo confrangedor de ver nos nossos criativos artes de escriturário numa corrida de galgos. Falemos então de coisas boas. A 1ª parte? Razoável. Com posse, circulação, ideia de jogo, reacção ao golo, controlo emocional. O sistema? Sensata a sua manutenção, assim como a (quase) replicação do onze, apostando-se tudo no cavalgar da onda europeia. Eu teria feito o mesmo. Indicadores positivos que o golo do Gil Vicente, ao nascer dum inusitado erro individual, não de falência colectiva, pareceu confirmar, em vez de desmentir.

Mas uma ideia não chegou para a filosofia do Gil. O Sporting há muito que deixou de impor regras. Anda a reboque dos rivais, não o contrário. A equipa, tal como os adeptos, vive pendurada do próximo jogo, do próximo resultado. Não há visão estratégica das coisas. Foi Vítor Oliveira quem melhor o disse: faltam jogadores de qualidade ao Sporting. E aí jaz o busílis da questão.

De todas as alterações que podiam ter sido feitas, lamenta-se profundamente que a escolha tenha recaído na inclusão de Jesé, um daqueles fulanos a quem apenas por caridade permitimos que repita ao jantar histórias antigas dos seus tempos de engatatão. As histórias são sempre as mesmas, porque algures no caminho perdeu-se, ébrio com o falso elixir da juventude, e baralhou-se nas contas do tempo. Quando acorda já tem 26 anos. Ainda ontem era um menino. À semelhança do seu futebol, aliás: vira para aqui, vira para ali, foge para a linha, volta para trás e perde a bola. Nunca, em momento algum, o vemos tomar qualquer decisão crítica, porque nunca, em momento algum, percebe o sentido do jogo. Jesé é hoje a imagem perfeita do plantel leonino: está de malas feitas, fala um dialecto estranho e vive de esperanças emprestadas. Estes "reforços" não farão todos juntos metade dos golos que Bas Dost, ao pé coxinho, fez na época passada (23). Pim!

Assim, numa equipa que só se pode dar ao luxo de ter um Vietto no onze, ontem teve dois. Defensivamente, Jesé, como o argentino, vale zero. Tê-los (mais Wendel) simultaneamente na equipa é abrir uma via rápida de passes para as costas da nossa defesa. Bem pode Fernandes correr atrás da bola e esbracejar para os colegas. Enquanto ele faz três viagens ao pote, os outros ainda estão a dividir a factura do almoço. Frente a um G. Vicente invicto em casa (e carrasco do Porto), ir a jogo com esta parelha é o mesmo que aparecer num convívio de caçadores com uma garrafa de rosé: há risadas, calduços, e no fim o Vítor Oliveira esfola a lebre.

Numa 2ª parte que apresentou todas as características dum pesadelo suado, nem as alterações de Silas surtiram efeito. Pelo contrário. Quanto mais mexidas, mais atolado ficou o nosso futebol. Em desespero, saltou para campo Eduardo, uma última cartada apenas comparável ao atirar de água sobre óleo a ferver. Mas resume na perfeição a situação em que estamos. Demos as voltas que dermos, neste elenco não há combinação que resulte em absolvição. É um Totoloto onde a chave suplementar é sempre um número fora do baralho. E irá piorar. Porquê? Porque o problema é tão psíquico como qualitativo. Qualitativo, porque deliberadamente se escaqueirou uma equipa competitiva, com requintes de amadorismo à mistura. Psíquico, porque vender sonhos de campeão a um plantel que mal chega para a Intertoto é sinónimo de depressão a longo-prazo. Hoje são 13 pontos, mas provavelmente serão muitos mais no fim. Obrigam os jogadores a olhar para cima, quando deviam era olhar para dentro.

Lamento apenas que por tão pouco os adeptos percam a clarividência. Os erros, esses, nunca desapareceram. Uma vitória é um penso na ferida. Mas por baixo a gangrena alastra. Não me desvio um milímetro da avaliação que fiz. Tudo é periclitante neste Sporting — e um par de desaires deita a casa abaixo. Clarificação, precisa-se. Responsabilização. E seria importante que os sócios trocassem a alucinação imediatista pela visão geral do futebol. Mas não o farão. E o despertar, como sempre, não será feito com o doce chilrear dos passarinhos, mas sim com o violento detonar duma bomba. Por isso mesmo digo que o Sporting não tem cultura interna para estar no topo do futebol nacional, e muito menos no topo do futebol europeu. Nem hoje, nem nos próximos tempos.

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