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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

29
Nov19

O Melhor Sporting da Época // Sporting 4 PSV 0

O Esférico

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Diz muito sobre a época em curso o facto de apenas à entrada da quadra natalícia termos tido direito a ser brindados com uma exibição de gala, com o cheirinho repimpado de alta cultura e salões nobres. Vintage Sporting. E Silas a encontrar o seu ritmo. Primeiro, com uma abordagem idealizada ao jogo, desmantelando ao pontapé as dúvidas que se haviam instalado devido à longa paragem. Segundo, impondo um sistema equilibrado e condizente com a geografia actual do plantel. Não faz mais sentido jogar com Luiz Phellype ao centro, com dois jogadores móveis gravitando à sua volta nas proximidades? Afinal, é o que há: um ponta-de-lança e um superavit de extremos.

A verdade é que, em vantagem logo aos 9', não teve a letargia competitiva tempo de cobrar a factura, mercê da entrada, fulgurante de uns, e dormente de outros. Quando o PSV quis despertar desta modorra, já era uma equipa nervosa e sôfrega, enleada nos arames intrincados do seu futebol ofensivo, ao qual os arranques monocórdicos de Tué Na Bangna Bruma apenas ofereciam mais exasperação a uma equipa necessitada de lucidez. À criminosa eficácia do Sporting contrastou sempre a indecisão trôpega dos holandeses, superiormente negados nas suas malfeitorias pelo sistema anti-mísseis que Mathieu leva com ele para onde quer que se desloque no relvado.

Uma dessas ocasiões — quando Tué Na Bangna viu ser-lhe negado um golo certo — foi além do mero suspiro de alívio, materializando, 'in loco', o nascimento dum guarda-redes. Brilhante o nosso nº 1 na forma como saiu aos pés do prevaricador, indicando que por trás de um patrício pode estar um Maximiano.

O que de mais animador tem a prestação dum treinador é a forma como rentabiliza os seus atletas. São notórias as melhorias de jogadores como Doumbia, Camacho ou Vietto, assim como a recuperação de Bolasie, alguém que, nas circunstâncias certas, seria uma aquisição valiosa para o clube. E mesmo Rosier, amparado pelos seus colegas, chega a parecer um tipo razoável, com futuro no Gil Vicente. Não foi um jogo perfeito, no sentido em que não corresponde à matriz leonina termos sempre menos posse do que os adversários. Mas, para o bem e para o mal, isto é o que veremos com Silas. Um certo pragmatismo felino, enrolado numa mantinha de rigor defensivo, sempre de olho na iguaria no rebordo da mesa. Se Silas conseguir guardar as lições deste jogo poderá ter encontrado um nicho. Se não, voltaremos à estaca zero num ápice.

Acuña só faz aquele slalom inovador porque alguém lhe disse que o seu instrumento de tortura favorito estava em saldos na Black Friday. Mas a minha última palavra será obrigatoriamente para o nosso capitão. Tudo o que Fernandes faz dentro de campo é apenas traduzível nas palavras "jogador de equipa grande". Qualquer outra interpretação do estilo, da consequência, é uma perversão da palavra orada. Qualquer destino que não seja o Bernabéu, o Etihad Stadium ou a Allianz Arena é uma violência contra um jogador que iça, por si só, todos os seus colegas para níveis de execução sinfónicos. Para Fernandes, correr não é sacrifício, é libertação. O risco é um acto revolucionário, num mundo cada vez mais sujeito ao primado da banalidade. Um exemplo? No primeiro golo, podia muito bem ter parado aquela bola, subjugando-a sob o pé e protegendo-a à espera de um apoio que nunca chegaria, fazendo as agulhas subirem 5 graus na Escala do Bocejo e matando a jogada — como 99% dos jogadores, decerto, fariam. Não o fez, chamando a si uma inspiração que passou por todos os jogadores holandeses sem que nenhum deles se tivesse apercebido dela, e executando-a com um toque de habilidade que inaugura novas teorias sobre os limites do corpo humano. Com essa decisão instantânea, Fernandes não só encontrou um finalizador ávido em Luiz Phellype, como também terá mudado o curso do jogo. As pessoas apercebem-se do impacto de tal genialidade nestes pormenores? O que seria o Sporting sem isto?

P.S.: como Hitler afundado num bunker de demência nos últimos dias do Reich, assim vão as nossas "claques": paranóicas, bárbaras e suicidas. Numa noite em que o foco uníssono dos adeptos foi tão aprazível como a partida em si, optaram por fazer política no momento mais descabido de todos.

11
Nov19

O Sporting Foi Belém Enquanto Quis // Sporting 2 Belenenses 0

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Quando o cronómetro bateu os 35' de jogo já Eduardo tinha passado sete bolas ao adversário, as bancadas engalfinhavam-se umas contra as outras num despique de insultos, o jogo violara múltiplas cláusulas humanitárias da Convenção de Genebra, e uma árida brisa fluvial deixava os caracóis de Zé Pedro ainda mais desamparados no banco, ao lado do qual um atónito Silas se afundava cada vez mais no seu blusão polar.

Para quem sempre se identificou como Sportinguista, a confusão deve ter parecido palpável. O ingresso anunciara um Sporting-Belenenses, mas a verificação prática dos factos indiciava mais um despique entre dois Belenenses da mesma moeda, só faltando ao visitado uns retoques no símbolo e o exílio para pátrias alheias para completar a metamorfose de colosso dos relvados para tuna de enfermagem do São Francisco Xavier. Tanto mais que alguns dos jogadores que desfilaram em campo de verde-e-branco pareciam ter lá sido postos por intermediários do Benfica, com o único intuito de praticarem pontapés na atmosfera até à recepção aos encarnados.

Silas só se terá apercebido do equívoco quando olhou para o lado e em vez de ver o Chaby a jogar Angry Birds no telemóvel deparou-se com um Paulinho visivelmente agitado pela falta de jeito do Rosier. Eventualmente, alguém tê-lo-á avisado de que não existe no mundo uma única equipa grande que jogue com três centrais contra um adversário do fundo da tabela. Assim, a prova de que a sua abordagem ao jogo foi um desastre foi, precisamente, a forma como tudo alterou ainda antes do intervalo. Arriscou ao retirar Neto em vez de Ilori, mas terá calculado que a solidez de Coates (mais uma grande noite) ficaria melhor complementada com a rapidez do formando leonino, ao mesmo tempo que Camacho trouxe para o jogo um frenesim de iniciativas (nem sempre lúcidas) perante o olhar atónito de Jesé. Também a entrada de Doumbia ao intervalo pareceu confirmar as ligeiras melhorias do costa-marfinense constatadas na partida anterior. Melhor quando tem companhia ao lado, parece mais solto e disponível para o jogo, e isso mesmo comprovou-se pela forma como conseguiu transportar a bola até à área contrária em duas ou três ocasiões. A entrada oportuna de Luiz Phellype veio apenas dar um rumo a esses agoiros.

Tudo isso gerou uma certa sensação de inconformismo na equipa, desencadeando esparsas escaramuças perto da área azul, ainda que sem grande objectividade no ataque à baliza. Mas, pelo menos, esse despertar teve o condão de focar as bancadas no essencial. E quando aos 75' Vietto puxou do seu arsenal, sem concurso público, o golo da jornada — para gáudio dos olheiros do Cirque du Soleil — já não foi apenas um soluço de total espanto que os adeptos soltaram. Com o marcador aberto e o Belém de calças na mão, o Sporting explanou então o seu melhor futebol da partida, esforço que foi premiado com mais um golo.

No fim, o segredo esteve na solidez defensiva e na inspiração individual. Não é coincidência que o golo tenha sido cozinhado por três dos jogadores mais competentes do onze — Vietto, Bolasie e Fernandes —, com a participação do recém-entrado Phellype, num lance que teve início num passe estratosférico do próprio Vietto, ainda no meio-campo leonino, o qual foi concluir após cavalgada de 70 metros. O facto de nem Rosier, nem Borja, nem Doumbia, terem tocado na bola foi uma daquelas coincidências felizes que não vemos todos os dias.

Isto num jogo que, além dos golos e dos 15 minutos finais, teve pouquíssimo sumo para espremer. Sem surpresa, uma vez mais, o Sporting voltou a ter menos posse do que o adversário. Felizmente, esse aspecto poderá agora ser amplamente trabalhado na pausa tri-semanal do campeonato — mais uma das infelizes inovações em que a FPF é pródiga.

07
Nov19

Rosenborg 0 Sporting 2

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Visto que amanhã não me será possível escrever o habitual artigo, deixo aqui uns comentários muito breves ao jogo.

— Foi o desempenho mais consistente da era Silas. Pragmático o treinador na forma como neutralizou o jogo directo dos noruegueses, reforçando o miolo, o eixo da defesa, e secando as zonas de onde poderiam partir os passes. O Rosenborg não criou um único lance de perigo pelo ar.

— Consistente ou não, o Sporting continua a viver de ofertas e erros do adversário, como o provam os golos de hoje, marcados por um centrocampista e um central. Não há uma verdadeira linha atacante na equipa. Muito curto para quem almeja ganhar títulos.

— O abrandamento na 2ª parte foi um risco calculado face à vantagem, às limitações do Rosenborg e ao próximo jogo já no Domingo. Aposta ganha, para variar.

— Eduardo: o melhor que se pode dizer do seu futebol é que os seus passes a queimar, ao menos, acertam nos colegas. Isto quando não está meramente a desmarcar os apanha-bolas. Também ao betão dos diques não pedimos que seja dinâmico ou cite Platão. Eduardo é um pedregulho que ali se mete.

— Rosier: no sentido em que não comprometeu, o francês atingiu o seu plafond exibicional ao serviço do Sporting.

— Doumbia: é bom vê-lo a elevar-se um bocadinho acima da banalidade que o tem caracterizado, desempenho facilitado pelo presença de outro médio defensivo ao seu lado. Resta saber se é capaz de reproduzir isto a solo, como William Carvalho. Não me parece.

— Vietto reforçou a trajectória ascendente da sua afirmação. Bruno Fernandes não sabe jogar mal: só bem ou muito bem. Após um período periclitante, Coates responde com força mental e volta a mostrar porque é um dos melhores centrais que por cá passou nos últimos 15 anos. Renan é aquela tela esbatida que os nossos avós tiveram a decorar a marquise a vida toda e que anos depois vimos a descobrir que se trata dum Renoir avaliado em milhões.

— Borja: notou-se a falta de concentração competitiva para este nível. Quase sempre displicente em actos basilares do futebol, como são o toque de bola, o passe ou o mero levantar da cabeça.

— Pela seriedade inaudita com que a equipa encarou este jogo, dá para perceber que já interiorizaram que na Liga Europa é que está a salvação da época. Assim, o apuramento para os 1/16 final ganha força.

04
Nov19

Chover no Molhado // Tondela 1 Sporting 0

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Nem de propósito, o Sporting teve em tempos um avançado cedido pelo PSG chamado Carlos Bueno. Isto numa altura em que o PSG era o PSG do Pancrate, e não o PSG do Mbappé. Por isso, esse tal de Bueno era exactamente aquilo que poderíamos esperar dum jogador emprestado pelos parisienses em 2006: uma espécie de Jesé em tudo, mas ligeiramente mais tosco em tudo também.

Dá-se, porém, que esse Bueno fez uma coisa que jamais me saiu da memória. Não me refiro ao poker marcado ao Nacional. Refiro-me ao sprint olímpico que o uruguaio fez no relvado de Alvalade, logo após o apito inicial duma partida qualquer. O árbitro inaugura as hostilidades, o adversário sai com a bola, e o Bueno, no estilo carnavalesco que o caracterizava, lança-se numa correria sôfrega, dir-se-ia que encarnando um mensageiro quinhentista que se vê subitamente a braços com novas da invasão espanhola às portas de Portalegre. No espaço de 15 segundos correu todas as ermidas do reino de Alvalade: as quatro bandeirolas de canto, o grande círculo, a área contrária e o túmulo de Peyroteo. Não conseguiu ficar com a bola. E no resto do jogo não mais deu sinal de si, tal como o Sporting na época.

Serve este exemplo para quê? Para um pouco de tudo, talvez, visto que vamos no 1456º episódio da saga Alvaláxia XXI, uma série que, em 2050, passará apenas como um segmento obscuro num documentário do Canal História dedicado a civilizações extintas.

Quis o destino que, num dos jogos mais interessantes do consulado de Silas, o Sporting sucumbisse, aos 88', vítima dos seus velhos pecados. Haverá exemplo mais perfeito do que é este clube? Um Sporting que, esforçado ou não, ruidoso ou não, emergirá sempre da neblina do sacrifício, invariavelmente, para revelar o seu corpo de pedinte andrajoso. Há muito que somos apenas aparência. Silas, é claro, não tem culpa das terríveis lacunas estruturais que esta direcção e o anterior técnico legaram à equipa. A sua intervenção estará sempre limitada por esses mesmos constrangimentos. Ser muito razoável ou pouco razoável: é neste reduzido espectro que se definirá o seu êxito. Ainda assim, é inegável que errou ao privar a equipa da sua única referência na área, e a substituição de um jogador vulgar (Doumbia) por outro ainda pior (Eduardo, que colocou Wilson em jogo no lance do golo) foi o maior acto de desinspiração leonina desde a venda de Moutinho ao Porto em 2010. Onde uns vêem uma injustiça contra-corrente no golo do Tondela, eu vejo a consequência dum factor de incerteza vindo do banco, numa altura em que a equipa estava num período sólido de assédio ao reduto contrário. Não há coincidências. E isto logo no dia em que Miguel Luís começou a sair da casca. Azar.

Tudo parece alucinação neste Sporting. A começar pelos dirigentes, passando pelos treinadores, e terminando nos adeptos, que continuam a rasgar as vestes como se fosse expectável que uma equipa que joga com Eduardo, Doumbia, Jesé ou Rosier, tivesse a obrigação de dar uma que seja para a caixa. Repetidamente vimos o presidente a garantir que esta equipa é superior à da época passada. Mais recentemente, Hugo Viana — cujos méritos se ficam pelo impecável corte do seu fato — assegurava a imensa "competitividade" deste plantel, anunciando nos jornais um dilúvio de títulos iminentes. E o próprio treinador, ainda anteontem, num brado de cavalaria mais quixotesco do que Joanino, estreou-se nesta patética dança das promessas, falando no título como uma coisa tangível. No entanto, à 10ª jornada, este Sporting, que nos afiançam ser prodigioso, está a 10 pontos do líder, a 8 do Porto e a 6 do — pasmem-se — Famalicão. É eliminado por equipas do 3º escalão. Vai no 3º técnico da época. Não tem referências. Parece uma banca de trapos numa medina em Marraquexe: incoerente, desorganizada e altamente especulativa. Não será mais realista assumirmos que estão a fazer-nos passar por parvos?

Esta época vai ser um constante "chover no molhado". Não servirá ao clube chegar a Maio com uma direcção ainda mais fragilizada do que está agora. As falhas são escandalosamente negligentes e sugerem uma inaptidão irremediável. Lamento apenas que quem de direito não saiba retirar as consequências dos seus erros. Nisso, começam a ser ominosamente parecidos a um outro elenco que, há não tanto tempo assim, também se recusava a fazê-lo. Não acabou bem.

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