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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

21
Out19

Claques: Nem Mais Um Passo Atrás

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No pós-Alcochete havia, no Sporting, quem tivesse a fantasia de que a relação com as claques poderia um dia voltar a uma espécie de idade da inocência, remendada por vagos exercícios de recalcamento colectivo e fé em Deus. Eu nunca embarquei nessa cantiga, e escrevi-o aqui, advogando pela extinção das mesmas ou a sua total refundação. As razões são diversas, entre as quais contam-se a captura das claques por comandos de desordeiros profissionais que do Sporting se servem antes de servirem o Sporting, a galopante tribalização das dinâmicas internas e o perigosíssimo empoderamento das suas cúpulas, com a nefasta consequência de termos hoje um segundo órgão de poder não-eleito no seio duma sociedade cotada em bolsa. Mas, sobretudo, porque quando se dá um acontecimento tão cataclísmico como o que ocorreu a 15 de Maio de 2018, atinge-se um ponto de não-retorno em que se exige visão, não hesitação.

Parece-me a mim que F. Varandas é o tipo de pessoa reactiva, não proactiva. Qualidades pouco abonatórias para um líder. Pois de um líder espera-se que saiba interpretar a gravidade dos factos e conjugá-los com o sentimento dos sócios (que não estão com as claques), desbravando, com medidas oportunas, caminhos consentâneos com o sinal dos tempos. Essa seria a única forma de prevenir o caos que é hoje visível. Oportuno, portanto, teria sido adoptar estas medidas quando o ferro estava quente. Porque depressa — muito depressa — percebemos que estes grupos, nomeadamente a JL, não contentes com os danos infligidos ao clube, nunca se mostraram dispostos a submeter-se à mais cândida "palmadinha na mão", jamais abdicando duma auto-proclamada "autoridade moral" que em tudo lhes permitisse condicionar os destinos do clube, mesmo que à pancada. Os sinais estavam todos lá, como aqui fui relatando.

Não deixo, todavia, de estar ao lado do presidente nesta matéria. Esta medida, embora tardia, é corajosa, ainda que insuficiente. O problema é que parte duma direcção enfraquecida e, no contexto actual, arrisca-se a ser confundida por sectores da bancada cujo apoio seria essencial com um acto de auto-preservação de poder, na lógica da postura defensiva que a estrutura tem, aliás, adoptado ultimamente. Não posso deixar de notar que, ao contrário do que vem escrito no comunicado da SAD (que está repleto de razões válidas), esta reacção não decorre de uma invocada falta de apoio à equipa de futebol, mas sim dos acontecimentos de Sábado, cujo alvo foi a própria estrutura. Mau timing, sempre. Porém, bem vistas as coisas, esses ataques inenarráveis não terão deixado outra alternativa à SAD, e isso é um escudo argumentativo plausível, mesmo que não infalível.

Previsivelmente, isto não ficará por aqui. E, dependendo dos próximos desenvolvimentos, poderá chegar-se a um ponto em que a expulsão das claques fique em cima da mesa. O que para mim não é um problema. Começam a desenhar-se as linhas de nova batalha pela alma do clube. E terão que ser os sócios do SCP, na sua globalidade, a saberem distinguir entre o mau trabalho desta SAD na área do futebol profissional e a pertinência das medidas agora tomadas. Porque o que está em causa não poderia ser mais importante. Termos um clube moderno, equipado para o século XXI, no qual as bancadas são restituídas às multidões de famílias e amigos; ou um clube anacrónico, sujeito à "lei marcial" destes grupos "paramilitares", no qual a generalidade dos sócios são cada vez mais espectadores dispensáveis no processo decisório? Muito possivelmente, desta inevitável cisão dependerá o renascimento do nosso clube. Porque este, tal como está, não tem futuro.

P.S.: Uma breve ronda pelos canais de tv dá-nos a prova inequívoca de que o nível médio de inteligência no comentarismo lusitano define-se na malga de farelos à rés-do-chão. Condenam a violência dos GOA? Sim, certamente. Opõem-se às ameaças? Oh, sim, veementemente! Até acham que aquilo de Alcochete foi um tudo nada desagradável... Naturalmente, são unânimes em chorar a morte prematura do Mercedes do vogal (se há coisa que comove esses prodígios do coice verbal é verem um Mercedes maltratado). Então qual é a sua opinião final? Que FV esteve mal, muito mal. Coitadinhas das claques, etc... Isto significa o quê, em termos práticos? Só pode querer dizer que, nas suas cabeças, o estado de direito deve subjugar-se a um certo "direito" à violência, que é, afinal, mero resultado da "paixão" pelo futebol. Ah, essa valente "paixão" que permite que um desaire desportivo transforme as pessoas em bichos... Não me surpreende que tão poucos refugiados sírios queiram ficar em Portugal. Afinal, também eles vieram de sítios onde a lei não significa nada. Reconhecem à distância o cheiro a trampa.

01
Out19

Do Céu Caiu um Penalty // Aves 0 Sporting 1

O Esférico

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Quem esperava um renascimento qualitativo do Sporting na partida de ontem terá de esperar mais uns tempos. A prova de que o nosso futebol se escreve hoje por linhas tortas é que podemos dar por nós a ignorar o jogo, pegar no carro, ir amparar a esposa em trabalho de parto, e voltarmos à partida na certeza de que não perdemos nada de especial — rigorosamente nada. Mas, em relação a isso, pouco Silas poderia fazer no espaço de quatro dias. É certo que o novo treinador também teve a sua quota parte de tiros ao lado ontem, como foram as apostas em Jesé, Eduardo e Borja. E se Eduardo ainda ornou a sua insonsa mediania com um par de remates perigosos, Jesé fez precisamente o contrário, promovendo um recital de hipotéticos passinhos de dança num contexto de total aversão à bola, potencialmente letais numa boite nocturna, mas infelizmente inúteis num jogo de futebol. Até agora, todos os esforços para encontrar Jesé, que anda há largos anos desaparecido, revelaram-se infrutíferos, não obstante a Interpol estar metida ao barulho. E quem se atrever a dizer que o avistou ontem, à hora de jantar, num relvado em Vila das Aves, está certamente a fiar-se numa perigosa dose de optimismo.

O contraste, neste navio dos emprestados, veio com Bolasie, um rapaz cuja abnegação — nem sempre efectiva, mas certamente valiosa — ontem nos valeu o triunfo. Foi um penalty literalmente caído do céu, numa altura em que o futebol do Sporting assemelhava-se a uma âncora presa ao fundo dum mar de banalidades. O dedo de Silas — se dedo de Silas houve — notou-se da forma mais subtil. Não num empenho palpável à luz do dia, muito menos na diversidade de soluções, mas na mais fina filigrana de solidez da qual escorreu a gotícula de felicidade que nos permitiu manter a baliza inviolada pela primeira vez em 23 anos. E não é que o Sporting não tenha tentado ser fiel à tradição. Ao ser passivo nas bolas paradas, ao ser indolente na recuperação, ao ser pouco criterioso nos espaços que escolhe para perder o esférico. Contámos com a boa fortuna dos postes, é verdade. Mas eu gosto de pensar que, algures na subjectividade penta-dimensional do futebol, estava escondido o grãozinho de premeditação que nos permitiu levar os 3 pontos. O que fica claro é que esta equipa não tem golo — jamais poderia ter golo. Vive dos pontapés de Fernandes, e quando estes não aparecem o nosso futebol parece não ter outra finalidade senão esperar pela morte. Não creio estar enganado se disser que, ontem, o primeiro remate no interior da área do Aves apenas surgiu na 2ª parte, já depois da entrada de Luiz Phellype.

Mais do que jogar bom futebol, o que importava era ganhar. E, por vezes, ganhar no meio do caos pode dar o impulso de que a equipa precisa para encarar os próximos desafios.

P.S.: De repente, ofendem-se as comadres. Tudo por causa do curso de treinador de Silas. O mundo está cheio de medíocres com o canudo debaixo do braço. Eu, no lugar de José Pereira, estaria mais preocupado com os muitos treinadores "habilitados" que não demonstram ter sequer aptidões para orientar um churrasco de Domingo, quanto mais equipas de futebol. No Belenenses, Silas fez o que muitos outros não conseguiram fazer: dar-lhe estabilidade no meio do caos. Não é um currículo genial, mas é, por si só, a prova 'ad hoc' de que pode desempenhar o cargo. Comparar a profissão de treinador de futebol com a profissão de médico só vem demonstrar o desnorte de quem o faz. Quando um cirurgião falha uma artéria alguém morre. Quando Wendel falha a baliza, na pior das hipóteses, há uma porta que estremece algures. Não obstante, perante um quadro de fiscalização em constante evolução, mais uma vez fica exposto o risco que Frederico Varandas assumiu com esta opção. No Belém, ninguém pareceu preocupar-se com o nível IV de Silas. No Sporting, como já percebemos, tudo ganha outra dimensão.

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