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O Esférico

Página independente de apoio ao Sporting Clube de Portugal. Opinião * Sátira * Análise * Acima do Sporting Mais Sporting

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O Esférico

02
Out20

Balbúrdia no Oeste // Sporting 1 LASK 4

O Esférico

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Coloquemos as coisas em perspectiva. Para um clube que vinha de uma das piores épocas desportivas da sua história, não podia haver nada pior do que ficar pelo caminho ainda antes de ter entrado na Liga Europa. É difícil explicar como se passa da exibição dominante de Paços de Ferreira para o patético descarrilamento a que assistimos ontem à noite. Num plano mais focalizado no tempo, podemos admitir que o surto viral (que levanta outras dúvidas) interferiu com a forma dos jogadores e os ritmos da equipa; dividiu o grupo e obrigou a desvios estratégicos; forçou alguns a assumirem o esforço de muitos num curto espaço de tempo. Num plano mais amplo, a recorrência destes berbicachos remete para a gradual desvalorização qualitativa do plantel, e a aposta súbita — e sôfrega — em jovens valores é a circunstância inevitável de se ter perdido um ano e meio de mandato em desvios programáticos, dispensas polémicas e contratações falhadas — tiros nos pés que nos depauperaram (ainda mais) os cofres e atrelaram-nos a um ciclo vicioso de vender mal para comprar barato, e pagar caro o que se comprou barato.
 
E depois há coisas como o alegado goleador-referência da equipa começar os jogos todos no banco (e quando entra exala a aura dum anacoreta aterrado com o inesperado peso da morte), há coisas como haver um extremo-esquerdo sem haver um extremo-direito, há coisas como um jogo de playoff decisivo, jogado em casa contra o 3º classificado do 12º campeonato da Europa, estar resolvido e enterrado aos 65', sem o mínimo protesto.
 
No final das contas, onde a linha das desculpas acaba e a linha das culpas termina cava-se um fosso enorme. E é aí, nesse abismo desolador, que encaixam na perfeição as palavras bacano-light com que nos brindam, após o feito, o nosso treinador-adjunto (o resultado não reflecte a exibição, a equipa demonstrou atitude [inserir risos]) e o nosso director desportivo (esta equipa vai dar-nos muitas alegrias) — a narrativa duma equipa banal, cartoonesca, acomodada ao insucesso e receptiva à próxima derrota.
 
Esta retórica infantil é o garante de mais exibições como a que Vietto protagonizou ontem (mais uma), coisa assexuada, rala e moribunda, cujas ténues semelhanças com uma certa motricidade antropomórfica não chegam para qualificá-la como figura de homem. Ou momentos trágico-cómicos como o corte falhado de Porro no 1-2. Ou os três golos sofridos em dez minutos. Ou a insistência arrogante em sair SEMPRE de trás em bola jogada (da qual resultou o lançamento que deu no 0-1). Ou os seis remates que fizemos num jogo inteiro, para não destoar do total desmoronamento colectivo após o 1-2. Ou ainda o quão perto estivemos de levar 6 ou 7.
 
Este discurso dócil e inócuo apenas soa natural em Alvalade. É o tipo de discurso mediano que vemos aplicado pela mediania técnica a plantéis medianos em busca de mediania classificativa — mas não é a mentalidade que 15 milhões supõem comprar.
Mas o rombo está feito. E impõe-se a pergunta: quantos teremos agora de vender para tapar o buraco e pagar o treinador?
25
Set20

Ordem, À Falta de Melhor // Sporting 1 Aberdeen 0

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Para o Sporting, entrar ontem em Alvalade para defrontar o Aberdeen apresentava-se como um campo minado de riscos, cheio de hipóteses funestas a cada esquina. Uma equipa virgem de competição contra outra no seu 9º jogo oficial, um surto pandémico que nos desfalcou de treinador e jogadores, um onze jovem, um estádio vazio.

 
Impossibilitado de elevar o conjunto aos píncaros da excelência, Amorim optou por arquitectar um afundamento colectivo nos baixios da mediocridade, um sítio inóspito e estéril onde, do mal o menos, todos podiam dar um contributo igual para a causa. Pois não se entra num campo minado a sprintar para o abismo, mas com mil cuidados e precisão cirúrgica, num futebol bonacheirão, afunilado, cínico, sarapintado de ocasionais picos de virilidade, quando do esquecimento assomava a necessidade de concluir em vitória tão denodada empresa.
 
Atónitos com este desplante, os escoceses tornaram-se espectadores da sua própria emboscada, desconfiados, claustrofóbicos, tímidos — talvez as lendas sobre os campos minados de Alvalade fossem verdadeiras, afinal... Prometeram-lhes mortandade e vísceras, mas vieram dar a uma terra onde não há urgências existenciais, onde tudo fica para amanhã, onde o café se bebe com um cheirinho. Por uma ou outra ocasião os descendentes do clã MacLeod ainda ensaiaram o seu grito Braveheart, mas, naquele palco desnudo, outonal e sorumbático, soou tudo como uma interpretação amadora de uma companhia de teatro ao ar livre.
 
O Sporting navegou assim a sua improvisada chalupa durante grande parte do jogo — agora remas tu, agora remo eu, devagar, devagarinho, para acomodar velocidades e formas díspares de pensar na morte da bezerra. Temia-se um cataclismo, mas Amorim saiu-se com um belo Paulo Bento Vintage 2008 D.O.C. — castas Touriga Nabiçal e Pastellon Blanc. Os de Aberdeen tragaram-no avidamente, deliciados, e foram recambiados para terras do Grã-Brexit com menos uma preocupação na cabeça.
 
Amorim, claro está, contou com cúmplices em campo para a concretização do seu estratagema. Jovane e Vietto (uma assistência e um mar nulidades) esforçaram-se por corresponder à mediocridade do futebol exigido, ao passo que Porro, Wendel e Coates contrabalançaram a questão com exibições de evidente qualidade e dedicação. Tiago Tomás, o miúdo, desempatou o imbróglio a favor da eficácia.
 
E tudo teria decorrido sem mácula, se Eduardo Ferro — talvez inspirado por uma vozinha caída do céu — não tivesse decidido retirar Wendel e Porro no momento mais crítico do jogo, e substituí-los por dois efebos pubescentes, erro amador que rapidamente reanimou o Aberdeen e esteve perto de ser fatal. Aparentemente, não aguentavam mais cinco minutos em campo em prol da estabilidade da equipa... Frente ao LASK, sem dúvida, haverão mais oportunidades para testar a nossa sorte.
12
Set20

Comissão de Desonra

O Esférico

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Às vezes tenho que ler certas coisas duas vezes, porque o grau de surrealismo não cabe todo numa primeira leitura.
 
Até à data, Luís Filipe Vieira, e a SAD que dirige, são arguidos no caso "Saco Azul", que envolve branqueamento de capitais e fraude fiscal. A investigação dos e-mails continua a decorrer. Assim como a investigação relativa aos Vouchers. Luís Filipe Vieira é arguido — e prepara-se para ser acusado — na Operação Lex, onde há fortes indícios de que terá tentado comprar um juiz. Repito: comprar um juiz! Há ainda o caso e-toupeira, do qual Vieira e a SAD encarnada saíram "inexplicavelmente" ilesos, mas cuja acusação atingiu o seu braço direito, Paulo Gonçalves, que hoje enche a conta bancária em todo o tipo de negócios com o Benfica. Prosseguem também as investigações no âmbito dos jogos viciados em 2015/2016, assim como do Mala Ciao. A somar a isto, Vieira é ainda arguido por suspeitas de ter burlado o BPN, e vê-se agora implicado no Lava Jato brasileiro, num caso de corrupção que envolve a Odebrecht e a Doyen.
 
Sabemos que o antigo ladrão de camiões é "recomendável" quando elencamos uma lista dos seus crimes — consumados ou alegados — e não temos a certeza se nos escapou alguma coisa.
 
Tudo isto é público.
 
Como pode, então, um primeiro-ministro dum país integrar a Comissão de Honra para a recandidatura de tal personagem? Como é que isto é possível!? Como pode António Costa, cuja solenidade do cargo que ocupa deveria recomendá-lo a um distanciamento higiénico de tudo o que fede a trampa, emprestar o seu nome a este exercício de branqueamento reputacional? Já poucas coisas me chocam, mas isto é chocante. E preocupante.
 
Quando finalmente arrastarem Luís Filipe Vieira em algemas, um dia destes, virá António Costa dizer que não se tinha apercebido de nada de anormal, não estava ao corrente de nada? Não me surpreenderia. Afinal, falamos da mesma pessoa que andou com Sócrates pela mão, governou com Sócrates, rebolou no feno com Sócrates, mas nunca topou o distinto cheirinho a podridão de Sócrates. Neste concubinato de "ministros" já se torna difícil perceber quem é, afinal, o "primeiro".
 
Uma Comissão de Honra que é uma desonra capital para quem a integra, mas sobretudo para quem ocupa altos cargos governativos e autarcas. É o triunfo da cultura do "quero, posso e ninguém tem nada a ver com isso".
26
Jul20

Nasceu Torto // Benfica 2 Sporting 1

O Esférico

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O Benfica ainda deu 5 minutos de avanço, cedendo à nação leonina uns raros vislumbres de tele-entusiasmo com um par de arrancadas na direcção da baliza de Vlachodimos. Mas não foi preciso esperar muito até que a máscara caísse ao Sporting, revelando os seus verdadeiros objectivos para o derby.

Para o Sporting, aquilo parecia um treino específico cujos objectivos se resumiam a passar para o sítio errado, correr para buracos insofismáveis e atirar os braços ao ar em esbaforida consternação, numa tentativa de estudar os diferentes vectores do falhanço. Face à pressão alta do Benfica, e com poucas linhas de passe, os centrais leoninos responderam à abstrusa responsabilidade de saírem com bola com incompetente diligência, missão que cumpriram religiosamente durante cerca de 35', durante os quais entregaram a bola ao adversário — sem exagero — mais de 10 vezes junto à grande área (e às vezes dentro dela). E, enquanto os pupilos de Amorim cumpriam rigorosamente a inovadora metodologia, as ocasiões sucediam-se para os encarnados, até que o golo de Seferovic surgiu, não como uma punhalada súbita, mas como o fim lógico de um longo obscurecimento de faculdades.

Perante isto, qualquer treinador, confrontado com esta falta de soluções, teria ordenado aos seus defesas que, no mínimo, despejassem a bola na frente, em vez de a entregarem nataliciamente aos rivais. Mas não Amorim — e é por isso que gosto dele. A coerência é uma qualidade que prezo muito. Se a perdem cinco vezes, também a podem perder vinte. Não tem preço a fidelidade a um certo estilo de jogo.

Na 2ª parte, contudo, os pressupostos do jogo mudaram ligeiramente. As perdas de bola infantis continuaram a ser compulsórias, mas a entrada de Tiago Tomás, um Wendel mais cooperante com a saída de jogo, e um futebol mais directo a partir da retaguarda, permitiram que o Sporting rechaçasse o Benfica para terrenos mais inférteis e impusesse ao jogo as presenças até aí anódinas de Jovane e Sporar — tendo este último marcado no único toque decente que teve em toda a partida, após cirúrgica assistência de Tomás. Foi durante esses 25/30 minutos que o Sporting mostrou o seu melhor futebol, permitindo arrancar ao marasmo inicial exibições reconfortantes de Matheus, Nuno Mendes e Wendel, assim como o contributo precioso de Ristovski (eficaz a fechar, pressionante a subir) e Luís Neto (um oásis de experiência que evitou um descalabro prematuro).

Infelizmente, talvez sem o saberem, já estavam em marcha os acontecimentos que atirariam o Sporting para o 4º lugar, mercê da exibição pírrica frente ao Setúbal, à qual a reviravolta bracarense frente ao Porto e as graduais cedências da imaturidade leonina à eficácia benfiquista perto do fim apenas vieram amargar o travo de fatalismo que nos persegue, e que parece sempre óbvio à distância.

Acabou derreado o que nasceu torto. Ainda assim, este jogo não deixa de ser uma lição de matemática valiosa. Se "o mesmo" só chega para 30 minutos de futebol competitivo, "mais do mesmo" para 30 minutos chegará. Há quem saiba fazer contas destas na SAD?

P.S.: eu não páro de avisar: escorregadelas antes do Benfica dá derrota com o Benfica. Entre aquela gente toda, não creio que haja uma grama de noção histórica.

25
Jul20

Como Atacar a Próxima Época

O Esférico

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Não é tarde, nem é cedo, para abrirmos o véu sobre a próxima época. Aqui, importa desde logo destacar três perguntas como ponto de partida para os vários cenários que se colocam em cima da mesa. 1 - Há dinheiro? 2 - Há scouting? 3 - Há juventude?

Sobre a primeira, tendo em conta que a comunicação do clube é hoje inexistente, não temos indicações evidentes. Talvez a resposta mais clara venha, indirectamente, pelas mãos de Rúben Amorim, que, ao acelerar a integração de jovens na equipa, estará também a confessar as expectativas limitadas que tem em relação a reforços. Se juntarmos a isso o eclipse das receitas de bilheteira, a queda da publicidade e a impossibilidade de antecipar mais verbas da NOS, percebe-se logo a limitação de recursos. Tão pouco o Sporting poderá compensar este défice com vendas avultadas. Bruno Fernandes — cujo bolo transaccional estará quase reduzido a pó — já foi transferido, Acuña desvalorizou-se para 12M e o próprio Wendel está longe de inspirar loucuras em quem tem dinheiro.

Então, há scouting? Olhando para o rasto de contratações falhadas, para o prenúncio de contratações por falhar, e atendendo a que esse departamento não sofreu qualquer remodelação digna de nota, a resposta é não, não há — na medida em que o scouting é muito mais do que ler jornais e atender telefonemas de empresários.

Não obstante, há juventude. E alguma com inegável qualidade.

Temos então um clube com futuro, sem dinheiro e cujo scouting é anémico. Nestas circunstâncias, como montar uma oposição competitiva a um Porto campeão e a um Benfica de bolsa aberta comandado por Jesus?

A última coisa que a SAD deve fazer é entrar em pânico e reverter para a política de contratações insipiente que fez da temporada actual uma das piores de sempre. A persistente aposta em Hugo Viana tem de ser contraposta com uma coordenação abrangente e flexível com o treinador — o contrário, portanto, de o que se verificou com Keizer.

Estrategicamente, deve adoptar-se uma visão de guerrilha para a época que se avizinha. O que quer isto dizer? Um plantel mais curto e alinhado com a cultura do Sporting, a focalização do discurso de vitória em duas competições (em vez de quatro), a convergência da comunicação do clube com estes objectivos.

Na prática, isto significa manter a aposta em jovens como Matheus, Maximiano, Nuno Mendes, Quaresma, Plata, Jovane e Joelson (este último aproveita a escassez actual de extremos); manter a experiência no plantel (Coates, Acuña, Luís Neto); canalizar reforços para 3 ou 4 contratações de verdadeiro peso; reduzir do plantel; dispensa/venda de todos os excedentários.

A desvalorização de umas competições em detrimento de outras trará sempre algum risco, sobretudo se falharmos no essencial, mas tão ou mais correcto é concluir que, num plantel que geralmente mal chega para as encomendas, a dispersão de esforços tem retirado foco competitivo às competições mais importantes, sem grande proveito prático. A realidade obriga-nos a definir prioridades, estando o campeonato e as competições europeias à cabeça (onde está o ganho).

Entre os dispensáveis coloco Eduardo, Borja, Ilori, Lumor, Rosier, Camacho, Doumbia, Bruno Paulista, Misic, Miguel Luís, Mattheus Oliveira, Francisco Geraldes, Alan Ruiz (!), Battaglia.

Geraldes, porque só é a somar enquanto lhe olhamos para os pés, mas quando olhamos a tudo o resto (ambição, intensidade, eficácia) é sempre a subtrair.

Battaglia, porque tem um dos maiores ordenados, mas o seu rendimento colapsou depois da lesão.

A lista é longa. Porém, entre vendas (algumas) e empréstimos, o Sporting pode gerar aqui uma folga interessante, com vista à obtenção dos seus alvos de mercado. (Admito, é mais fácil dizer do que fazer).

Quanto à política de contratações, o foco deve estar na aquisição de 3/4 mais-valias, jogadores com experiência, créditos firmados, níveis físicos estáveis, e preferencialmente identificados com a cultura do clube — importante para fomentar uma dinâmica de união e compromisso. Jogadores como Adrien ou Slimani, não só são possíveis, como são recomendáveis. Assim como o retorno de Palhinha é para não desperdiçar.

A fazer fé em potenciais saídas e ajustamentos, identifico como prioritários um ponta-de-lança de topo (Sporar é claramente insuficiente), um extremo-direito, um médio-ofensivo (Adrien poderá não encaixar neste desígnio), um central e um lateral-direito.

Insistir na política da compra de refugo em quantidade seria um erro fatal do qual esta direcção não mais recuperaria. Na impossibilidade de atrair determinado alvo, a prioridade deverá sempre ser, em primeiro lugar, olhar para dentro. A título de exemplo, a questão dos centrais. Se o actual sistema for para manter, quatro centrais poderão não chegar. Talvez seja necessário um quinto. Um titular dos sub-23 pode perfeitamente fazer esse papel, sem necessidade de gastar 3 ou 4 milhões num estrangeiro medíocre. Só assim Frederico Varandas conseguirá materializar os pressupostos do seu projecto. É melhor que o faça. Porque no próximo ano poderá não ter as claques e a pandemia para o isentarem de sarilhos maiores.

18
Jul20

A Sem Vergonha Tem Um Novo "Dream Team"

O Esférico

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"Ad captandum vulgus, panem et circenses". Assim explicou o imperador Vespasiano a sua relação com a plebe ululante. Para enganar o povo dêem-lhe pão e circo.

Mesmo com o nacional hábito de contar milhões a voar, já me é difícil saber o que o Benfica tem mais: jogadores com contrato ou casos na justiça. Tragicamente, enquanto sai ou não sai uma acusação, sai ou não sai uma condenação, o manto do "alegado" alumia o caminho do bandido. É longo e largo em Portugal, este manto. Enquanto fulano é "alegado", e não "acusado" ou "culpado", tem tempo para ganhar três campeonatos, comprar sete juízes e apertar dez gasganetes, com o beneplácito da turba alucinada (sim, a mesma turba que reclama justiça e probidade de manhã à noite).

Atentemos às últimas movimentações de Vieira. Para ele, é óbvio que a sua sobrevivência pessoal joga-se nas eleições, não nos tribunais — evidência da dificuldade que a justiça tem em penetrar no fenómeno desportivo. Nesse sentido, Jesus é a cartada que lhe faltava para garantir uma vitória folgada nas urnas. Em nome desse desígnio, quebram-se todas as promessas, enterram-se todos os planos. Que a situação é desesperada indica-o o facto de o mesmo LFV, há pouco tempo atrás, ter jurado que JJ jamais voltaria ao Benfica com ele a presidente. Mas Vieira sabe o que os adeptos do clube secretamente cobiçam. Na gaveta fica qualquer pretensão de projecto desportivo — algo que, tirando a consolidação do seu poder, nunca realmente teve.

É que no Benfica, como noutros clubes, o cheirinho a foguetório é o maior mata-escrúpulos que há. Isso mesmo ficará tristemente exposto em Outubro, quando milhares rumarem à Luz para colocarem o seu voto no ilustre sócio do Sporting, repudiando anos de pudores morais, exaltações éticas e indignações judiciais (ah, saudosos anos 2000). Para o mal e para o pior, o benfiquismo que brandiu valentemente a espada contra os apitos dourados recolhe agora ao estábulo em ovina procissão, cansado e apascentado, pedindo apenas que não mais seja incomodado por ninharias como legalidade ou transparência. Se Vieira faz 'all-in' na entronização de Jesus, o benfiquismo faz 'all-in' na falência ética. O espectáculo de uma alma que se dá à vilanagem a troco de uns vagidos futebolísticos é, de facto, uma coisa abjecta.

A abjecção está em todo o lado, por estes dias. E o que não falta é uma procissão interminável de engolidores de sapos a exibirem os seus invertebrados dotes na tv. Dos bons, dos ginastas, dos reptilíneos — daqueles que aterram sempre em pé...na poça de lama. Ele é a guarda avençada que se dedicou, ininterruptamente, a emporcalhar Jorge Jesus desde o dia em que assinou pelo Sporting. Ele é as eminências pardas do califado, cujo carinho mais suave que dedicaram a Jesus nesses distantes anos foi "traidor"... Se somente esta malta tragasse o Covid como tragam a própria dignidade, a pandemia teria os dias contados...

Admito, os maiores sapos estarão mesmo reservados para os protagonistas desta história. Para o Benfica liderado por Vieira, que, entre outras coisas, acusara o bom Jorge de ser um ladrão de computadores, de atacar jogadores por SMS, de ser mercenário, 'pesetero' e pilha-galinhas. Um homem tão vil que, naturalmente, era inteiramente merecedor do processo de indemnização de 14 milhões (1 euro por cada "simpatizante...") que lhe moveram, ou do arresto do último salário a que tinha direito... Tamanha paixão jamais se vira na canibalização furibunda de um técnico que lhes deu 10 títulos. Não obstante, quando atravessar as portas da Luz, o treinador mais abjecto do mundo, o destruidor de jovens, voltará a ser o melhor treinador do mundo, o fazedor de carreiras. Como a Cinderela, o valor está no sapatinho que a propaganda lhe quiser calçar.

O outro sapo papa-o Jesus, que, para fugir do Brasil, se conforma em regressar a um clube que o aviltou como nenhum outro na carreira. Fá-lo poucos dias depois de ter renovado com o Flamengo, a sangue frio, como um larápio que se some na noite. Este comportamento, como a abdicação de princípios que o acompanha, seria em qualquer outro ramo da vida considerado uma desvergonha apensa a práticas de lupanário. No futebol deram-lhe outro nome: "profissionalismo". E, por isso, o nosso futebol — que é tosco — acerta o passo com a dimensão moral desta gente — que é nula.

Objectivamente, o Benfica passa a contar com o melhor treinador português da actualidade, cujas capacidades admiro. O campeonato português fica mais divertido. Mas 2020 não é 2010. E o trambolhão abrupto do Benfica na época que agora termina não se explica por um misterioso apagão desportivo, mas sim por uma gangrena funda que corrói os pilares do império vieirista. Antes, o "limpinho limpinho" trazia ainda o cheiro da lixívia usada para limpar o local do crime. Mas o "limpinho limpinho" de hoje traz só agarrado o fedor pútrido dos cadáveres que a justiça vai desenterrando no quintal do Vieirismo. O trajecto de Jesus adivinha-se mais conturbado desta vez. E o rasto de animosidades entre o técnico e o seu novo empregador é um arsenal abundante que os rivais hão-de aproveitar. Quanto ao Sporting, tem como missão mostrar que, afinal, "conta para o campeonato".

11
Jul20

Desencalhados // Sporting 1 Santa Clara 0

O Esférico

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A nobre arte de desencalhar um carro de terras lamacentas constitui uma das tarefas mais ingratas do mundo. Exige mãos firmes, paciência, uma destreza peculiar na arte da guinada e um sentido de timing apurado. O pânico é contraproducente. A aceleração febril agudiza o problema.

O Sporting — muito por sua conta e risco — permitiu-se atolar-se num lamaçal futebolístico em Moreira de Cónegos. Cabia-lhe ontem a sempre dura tarefa de desencalhar-se desse percalço sem cair nos esbaforidos desesperos que, muitas vezes, em Alvalade, transformam um problema pontual num aluimento geral. (Quantas vezes no melhor registo não cai a nódoa dum deslize, seguido de outro, e depois de outro, até que, quando damos por nós, já só nos resta acenar a bandeirinha branca da rendição?)

Não, contrariar essa tendência — sobretudo no SCP — não é para gente fraca. Razão pela qual não dou grande importância à exibição questionável — mais uma — da equipa, e toda a importância aos 3 pontos.

Sem dramatismos, e em correcto tom, Amorim voltou a ir ao baile com o mesmo saiote híbrido em 3-5-3, apostando no foco colectivo em torno dum sistema que tem gerado os seus resultados, em detrimento de movimentos bruscos que pudessem agravar qualquer inquietude interna. Não discordo da teoria. Mas o desenvolvimento deste regime continua a suscitar as suas questões em campo, nomeadamente na forma como coloca uma preponderância arriscada em Coates na primeira fase de construção, ao mesmo tempo que encurta as opções de saída da equipa, algo que João Henriques, treinador do Santa Clara, soube capitalizar desde o início.

Seja com um adversário em pressão alta (Santa Clara), ou um adversário em pressão baixa (Moreirense), o efeito prático deste esquema parece estar na diminuição da dinâmica colectiva, muitas vezes reduzida a verticalizações inconsequentes ou à horizontalidade estéril da posse à retaguarda. Ainda assim, o brilhantismo do primeiro toque de Wendel oferece muitas vezes um bálsamo precioso que activa sectores, do mesmo modo que as investidas de Ristosvki (um dos melhores) e Nuno Mendes dão aqui um complemento que une a lógica do 3-5-3 em redor dum propósito mais promissor.

Houve momentos de bom entendimento, sim, embora não com a regularidade adequada. Porém, se ofensivamente o sistema levanta dúvidas, defensivamente os números não mentem, com o Sporting a sofrer apenas 4 golos nos últimos 8 jogos. Por isso, o que o ataque (ainda) não esclarece, a defesa torna claro, e assim pavimenta a solidez que depois permite à juventude dianteira tentar as vezes que quiser, até desencalhar o resultado.

Não obstante, a regra geral tem sido a má definição no último passe ou no remate. Disto também tem padecido Sporar — como vítima e culpado. Convém relembrar que, pese embora o voluntarismo do esloveno, é na sua ineficácia que tem residido o seu maior pecado, com uma falta de acerto que estende até às poucas oportunidades que tem. Tudo isto é compensado pelas exibições consistentes de Ristovski, Wendel, Quaresma ou Coates, às quais se junta a habitual estrelinha de Jovane, a quem coube protagonizar o golpe de lince que o levou a adiantar-se à savana defensiva dos açorianos para abençoar a bola de efeitos práticos na busca de um sentido de vida. No fim, a vitória assenta-nos bem.

P.S.: daqui a uns dias, então, marcamos encontro no Porto. Um jogo difícil, mas onde antecipo uma atitude competitiva e enérgica do Sporting — pelo menos até onde a inexperiência lhe permitir. Conto divertir-me à grande, independentemente do resultado.

07
Jul20

Fake Football // Moreirense 0 Sporting 0

O Esférico

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Ali por volta do minuto 50-e-troca-o-passo, Ricardo Soares, técnico do Moreirense, é subitamente acometido por uma onda de espasmos dilacerantes, reminiscentes da era dourada da revista à portuguesa. Acto contínuo, Pasinato, a 2ª peça neste dominó de dói-dóis, cai por terra, atingido por aquilo que, à primeira vista, poderia ser um caso tórrido de lombrigas ou cólicas oculares contraídas no decurso da observação do seu treinador. Por ali rebolou, impúbere, sonoro e lacrimejante, até que o árbitro dele se apiedou e ordenou a entrada das enfermeiras de serviço. Note-se que este tipo de comportamento é, por cá, analisado com a mesma bonomia com que se aceita que grupos de pelintras se empoleirem nas grades a cuspir para cima de jogadores e árbitros. "Faz parte", "é feio, mas inteligente", "são coisas do futebol", são apenas alguns epítetos com que, em Portugal, se celebra a arte do engano.

O Sporting, porém, também tem a sua própria versão do ofício. Não vem com a mesma plebeia boçalidade de outros, mas sim pela pluma estilística de escribas engravatados, conforme aos pergaminhos aristocráticos do clube. Se Pasinato rebola pela relva, o Sporting rebola por comunicados e contra-comunicados sobre o que o árbitro fez ou deixou de fazer. Chama-se a isto "quem não chora não mama". O Porto fá-lo. O Benfica fá-lo. O Braga fá-lo. E o Sporting também quer mamar — embora não goste de admiti-lo.

Porém, a realidade, para quem tiver estômago para tal, é mais agreste do que esta versão ficcionada dos eventos. O Sporting não ganhou o jogo porque não mereceu ganhá-lo. Nunca foi uma equipa lúcida, lesta ou dominante. A competência — quando a houve — reverteu para rodinhas de complacência onde a bola bocejava de jogador para jogador, empapada, triste e roliça — desconsiderada pelo abjecto espectáculo de ninguém saber onde ficava a baliza adversária.

O preço da juventude paga-se quando a finalidade do jogo é confundida com infinitos processos intermédios. E o maior truque que o Moreirense fez foi entregar a bola a um conjunto que não sabe reconhecer o seu potencial destruidor. Sem uma referência na área, torna-se ainda mais difícil focar aquelas cabeças jovens, agora que Sporar passou a personificar em campo a angústia paralisante das pinturas de Munch. E se na 1ª parte o problema foi a ligação entre a defesa e o ataque, na 2ª foi a desconsideração por jogadores como Jovane ou Plata, por cujos pés passaram os poucos momentos de repentismo de que a equipa dispôs, antes de finalmente se render, nos minutos finais, a uma salva de equívocos e passes estrábicos.

Tudo isto faz parte do processo de crescimento. Não estou deprimido, nem tenho que estar. Aliás, estou até confiante. Para o futuro. Amorim chegou e apontou logo uma mão-cheia de soluções que outros nunca ousaram descortinar. Os resultados melhoraram. As exibições também. Mas isso não altera o facto de que lhe atiraram para o colo um ramo de cartas imberbes — quando não inócuas —, para quem o menor grão de maturidade pode representar um embaraço sem igual.

Assim, hoje, a nação leonina entretém-se a mediocrizar-se com lances de arbitragem. Rebola-se nas fofas pastagens da desculpabilização. Talvez isso doa menos do que confrontar a evidência de que tivemos uma vantagem numérica que durou 45' e nunca soubemos o que fazer com ela.

02
Jul20

Acendam As Velas // Sporting 2 Gil Vicente 1

O Esférico

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Começam a avolumar-se os indícios de que, à septuagésima tentativa, Frederico Varandas terá finalmente acertado no treinador. Evidentemente, desembolsou um valor obsceno por ele. Mas quanto cada um de nós pagaria por um gato falante que aterra sempre em pé? Pois, nesta altura, Amorim parece ter imposto uma linguagem felina no seio do plantel que toda a gente entende.

Ultrapassada parece estar a rigidez mórbida dos tempos de Silas, ou a anárquica bonomia celebrizada por Keizer. Há uma nova elasticidade em voga e a sensação de que a equipa encarna várias dimensões para o mesmo fim. Olho para este Sporting e mal o reconheço. Olho para ele com a mesma admiração com que olhava para o veterano da turma, repetente de sábias andanças que parecia sempre recorrer ao melhor calão, aos melhores trejeitos, a afinidades inalcançáveis (todo o gesto que intentava parecia condenado ao insucesso e, no entanto, quando surgia do outro lado da mandriagem, dez piruetas depois, aterrava perfeito, enlaçado num sorriso confiante). De que outro modo podemos explicar esta recorrência de sucessos com a presença em campo, ora indiferente, ora desastrosa, de alguém como Borja? Quatro cambalhotas depois, aterramos em pé...

Agora, se somente Frederico Varandas acertasse em três ou quatro contratações de enfiada, este Sporting estaria pronto para liderar uma corrida pelo título já na próxima época. Pois, ironicamente, a vinda de Amorim não é só alívio para Varandas, é também a repudiação de Varandas. Repudiação, mais concretamente, pela forma anedótica como gizou a equipa para 19/20. Senão vejamos: o clube contratou nove jogadores para esta temporada. Porém, desses nove, apenas dois entraram no onze titular de ontem. Há uns dias, frente ao Belenenses, nem isso: apenas Sporar.

Amorim, claramente, não tem uma ideia muito positiva sobre os esforços da SAD anteriores à sua chegada. Ontem estrearam-se mais dois miúdos: Tiago Tomás e Joelson. Com similar descaramento, Amorim parece propor soluções, jogo após jogo, que todos os outros antes dele garantiam não existirem. E duas vidas opostas parecem coabitar em Alvalade neste momento: uma nova, que veio para ficar, e uma antiga, que será descartada. É este o espelho impiedoso que Amorim trouxe consigo, e montou no centro do relvado, apontado para as cúpulas dirigentes do 2º anel. Maior descaramento do que este só se a Belle Dominique aparecesse a dançar ao som de Jimmy Somerville numa marcha da extrema-direita.

P.S.: ao passo que jogadores como Plata, Jovane e Quaresma têm aproveitado cada momento para fincarem a sua bandeira em terras do futuro, outros, como Sporar ou Camacho, não têm conseguido acompanhar esta ascensão colectiva. Ultimamente, o esloveno parece desligado da equipa, alheio aos processos, desavindo com os timings de passe e remate. Mas, neste caso, poderemos estar a falar de uma provisória consequência das mutações tácticas de uma equipa à procura de si... Já no caso de Camacho, comparo o seu rendimento a alguém que tenta enfiar o mundo inteiro no buraco de uma agulha. Precipitado, forçado, atabalhoado — seja a jogar mais à frente ou mais atrás, tardo em perceber o motivo da sua aquisição.

19
Jun20

Sem Remorsos // Sporting 2 Tondela 0

O Esférico

105037087_10156993348716555_7928311085452321661_o.

Rúben Amorim não está na disposição de pedir desculpas a ninguém. 13 milhões pela sua contratação? Foi porque quiseram. Reabilitar o 3-4-3 das cinzas da história? É o que tiver de ser. Entrar com oito miúdos em campo? Se o desafiarem, ainda mete mas é o Coro Juvenil de São Pedro do Mar a jogar também (não o desafiem).

Com tantas veleidades de ordem radical, era inevitável que os jogadores também lhe começassem a emular o pirete, uma revienga aqui, uma ultrapassagem em traço contínuo ali, uma fuga pelas traseiras além, uma ida sem máscara à área contrária acolá... Vemos este descaramento desportivo — cujo sustento real é uma salutar disciplina táctica —, por exemplo, na incursão nocturna de Plata por território hostil (da qual resultou o 1º golo), na cuequinha que Quaresma inflige ao avançado afoito, ou, súmula da inspiração, no último lance de génio de Jovane na partida, quando, simulando no grande círculo um vago interesse pelo sonambulismo, arranca, subitamente, afogueado por aguda traquinice, executando uma sinfonia vertical que só foi calada com um tiro nos pés. (Este, meus caros, é o tipo de raciocínio artístico que só talentos inatos como De Bruyne ou Bruno Fernandes executam.)

E ninguém tem sido maior depositário da mentalidade Amorim do que o próprio Jovane, um rapaz que a dada altura chegou a ser dado como morto, autopsiado, embalado e etiquetado — resgatado à última da hora, antes de enfeitar as prateleiras do mercado do futebol, por um treinador que sabe que o talento puro, conjugado com intrínseca humildade, deve ser nutrido, não descartado.

Esta perspectiva tem particular interesse numa altura em que o reatar do campeonato tem sido marcado pela timorata rigidez dos rivais, quiçá acorrentados às responsabilidades inatas da maturidade. No Sporting, a despreocupação gerou toda uma nova fé nesta pré-época improvisada. Joga-se hoje, mas a bola rola para o amanhã. E, ungidos com o voto de confiança de que precisavam, a miudagem traz à Liga a audácia que tem escasseado neste primado do medo.

A verdade é só uma. Se o campeonato tivesse começado em Junho, o Sporting estaria à frente de Porto, Benfica e Braga. Porque há entusiasmo pelo novo treinador, porque há espaços a conquistar, porque o percurso que findou em Março parece uma memória distante, e porque de quarentena continuam as tensões internas do universo leonino, mantidas à distância pela cerca sanitária da pandemia.

Mas não começou. No mundo real das paixões de bancada, da competição extrema e do empresariado selvagem, é possível que este 'status quo' caísse por terra. O tempo está suspenso para Amorim poder aferir quem é Jovane e quem é Djaló, quem é Nani e quem é Paim, e assim ordenar as peças do xadrez em conformidade com o que será a austeridade dos próximos tempos. Temos, pelo menos, essa modesta vantagem. Enquanto Benfica e Porto disparam os últimos fulminantes de uma era pomposa, o Sporting já entrou nessa nova era futura — a era da formação. E tenho cá para mim que será este novo leão que decidirá o último dos velhos campeonatos, indo roubar pontos à Luz ou ao Dragão.

Melhor augúrio dos novos tempos não poderia haver.

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